Lei da Ordens Profissionais: advogados acusam PS de “má-fé” e negociação “pouco séria”

Fernanda de Almeida Pinheiro espera agora uma intervenção por parte do Presidente da República

Foto
Fernanda de Almeida Pinheiro, bastonária da Ordem dos Advogados Matilde Fieschi
Ouça este artigo
00:00
03:00

A bastonária da Ordem dos Advogados reage com preocupação à nova lei das Ordens Profissionais, aprovada esta sexta-feira no Parlamento, e deixa acusações ao grupo parlamentar do PS.

Como viu a aprovação apressada da nova lei das ordens profissionais na Assembleia da República?
A aprovação do Estatuto da Ordem dos Advogados foi efectuada de forma apressada e sobretudo irresponsável. Até os próprios deputados que sustentam este governo na Assembleia da República acabaram por reconhecer que terão que rever esta alteração num futuro próximo. Para a OA, isto é grave porque o que aqui se trata é de desbaratar os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos/ãs portugueses, bem sabendo que o estão a fazer. Mas mais, o grupo parlamentar do PS conseguiu colocar na sua proposta final alterações que nunca forma discutidas com a OA e acima de tudo, numa actuação de manifesta má-fé, colocar de novo na lei dos actos próprios dos advogados e solicitadores aquilo que após negociação com o governo tinha sido retirado. Não estamos habituados a negociar de forma pouco séria, o que demonstra que as lições de deontologia fazem sentido dentro e fora da OA.

Uma das alterações apresentadas pelo PS e aprovadas isenta as sociedades de advogados de estarem inscritas na OA e de pagar quotas. Concorda? Quais os riscos?
A Ordem dos Advogados alertou para esta situação. Não será possível para a Ordem dos Advogados ser chancela de qualidade e segurança dos serviços prestados por estas entidades, por isso vemos com muita preocupação esta alteração.

Alguma das reivindicações da Ordem foram acolhidas nesta fase de trabalho na especialidade ou o diploma piorou a seu ver?
A questão do registo das sociedades multidisciplinares acabou por ser revisitada, mas acabou por se criar uma situação completamente irrazoável de não existir obrigação de registo das sociedades de advogados/as, mas apenas das multidisciplinares. Mais um exemplo de que a arte de legislar não deve estar ao alcance de todos. Além disso, verificamos com grande preocupação que o diploma conseguiu piorar, no que respeita ao estágio e aos actos próprios dos advogados, o que irá permitir o exercício da profissão e a prestação de serviços de advocacia sem que a Ordem possa garantir a capacidade profissional e a idoneidade de quem os presta. Isto é um perigo tremendo para os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos/ãs.

Em Junho, dizia em entrevista que se fosse preciso os advogados iriam fazer parar a Justiça. O que é que vão fazer?
Entendemos que este processo legislativo não cumpriu o que legalmente é exigido, violando de forma grosseira a Lei n.º 2/2021 de 21 de Janeiro, ou seja, não existiu um estudo prévio à discussão que garanta a necessidade, adequação e proporcionalidade destas alterações legislativas. Estamos ainda a contar com a intervenção do Presidente da República, já que com as propostas agora formuladas o documento final ultrapassa de forma inadmissível o previsto na Lei das Associações Públicas Profissionais. Vamos aguardar a reacção do Presidente da República. Se esta não tiver o resultado que esperamos, atacaremos a legalidade e constitucionalidade destas alterações, sem prejuízo de tomarmos as demais medidas que já foram aprovadas pela OA em sede de Assembleia Geral.

Sugerir correcção
Ler 2 comentários