Professor morto em ataque com faca numa escola francesa

Suspeito estava sinalizado por suspeitas de radicalização islamista e foi detido pela polícia. Emmanuel Macron, no local, revelou que as autoridades impediram outro atentado.

O ataque deu-se na escola secundária Gambetta, em Arras
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O ataque deu-se na escola secundária Gambetta, em Arras PASCAL ROSSIGNOL/Reuters
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A polícia montou um forte dispositivo de segurança em redor da escola PASCAL ROSSIGNOL/Reuters
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A polícia montou um forte dispositivo de segurança em redor da escola PASCAL ROSSIGNOL/Reuters
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A polícia montou um forte dispositivo de segurança em redor da escola PASCAL ROSSIGNOL/Reuters
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Um professor morreu e duas outras pessoas ficaram feridas num ataque com faca numa escola secundária de Arras, no Norte de França, nesta sexta-feira de manhã. O atacante foi detido e a procuradoria nacional contra o terrorismo assumiu a liderança do inquérito judicial. Um dos feridos encontra-se em estado muito grave.

A polícia montou um forte dispositivo de segurança em redor do Liceu Gambetta e os alunos ficaram várias horas retidos dentro do estabelecimento. O irmão do suspeito e um terceiro homem foram detidos junto a outras escolas da cidade, embora se desconheçam, para já, os motivos.

O atacante foi identificado como Mohammed Moguchkov, um homem com nacionalidade russa de origem tchetchena, antigo aluno do liceu, que terá gritado "Allahu Akbar" ("Alá é grande") durante o ataque. Tem 20 anos e já estava sinalizado por suspeitas de radicalização islamista.

Os jornais Le Monde e Le Figaro noticiaram que Mohammed estava sob escuta e vigilância dos serviços de segurança há alguns meses. “As suas conversas telefónicas não evidenciaram, nos últimos dias, sinais de que passasse aos actos”, declarou uma fonte judicial aos dois jornais. Trata-se de “um indivíduo radicalizado com potencial [de acção] conhecido, mas que decidiu subitamente passar à acção, o que tornou difícil a sua neutralização”.​

O Presidente francês, Emmanuel Macron, deslocou-se a Arras ao início da tarde e, no fim de uma visita ao liceu e de uma reunião com os seus responsáveis, deplorou “a barbárie do terrorismo islamista” e revelou que as autoridades conseguiram travar “outra tentativa de atentado noutra região” do país. O Ministério da Educação ordenou aos directores das escolas em todo o território francês que “tomem sem demora todas as medidas necessárias a fim de reforçar a segurança” do parque escolar.

“A nossa escolha é a de não ceder ao terror e de não deixar nada dividir-nos. E de lembrar também que a escola e a transmissão [de conhecimento] estão precisamente no centro desta luta contra o obscurantismo”, disse ainda Macron, elogiando o director do liceu, que decidiu reabrir o estabelecimento no sábado.

​Este ataque ocorreu a poucos dias de se cumprirem três anos desde que Samuel Paty, um professor de História e Geografia, foi decapitado na sua escola dos arredores de Paris por ter mostrado caricaturas de Maomé durante uma aula sobre liberdade de expressão. O Presidente francês fez-lhe menção, e ao “contexto que todos conhecemos bem”, para “saudar a coragem extraordinária dos professores, dos alunos, de toda a comunidade pedagógica​”.

Martin Doussau, professor de Filosofia naquela escola, afirmou à imprensa francesa que tentou falar com o atacante. Este “tinha duas facas na mão” e, depois de ameaçar um cozinheiro, virou-se para Doussau e perguntou se era professor de História. “Veio atrás de mim e escondi-me”, relatou, admitindo que só se apercebeu da gravidade do que acontecera mais tarde.

A vítima mortal é um professor de Francês, que o jornal regional La Voix du Nord identifica como Dominique Bernard, com cerca de 50 anos. Um aluno contou a este jornal que estavam a sair da sala de aulas e a dirigir-se para a cantina quando o atacante surgiu e se aproximou do docente. “Ele tentou acalmá-lo e proteger-nos. Disse-nos para irmos embora​​”, relatou.

Os representantes dos sindicatos de professores dizem-se “chocados” com os acontecimentos desta sexta e pedem ao Governo que tome medidas para garantir a segurança de alunos e pessoal das escolas. “É um horror, é toda a comunidade educativa que é visada”, disse à BFM TV a secretária-geral do Sindicato da Educação Nacional, Catherine Nave-Bekhti, defendendo que “é preciso que a sociedade se una em torno da sua escola republicana e não reaja por ódio”.

As principais figuras da política francesa recorreram ao X (antigo Twitter) para condenar o ataque. Foi o caso do antigo Presidente François Hollande, que pediu unidade para “não ceder ao fanatismo”, do líder d' A França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon, que mostrou “choque e repulsa” face ao atentado, e do líder da Frente Nacional, Jordan Bardella, para quem se deve “erradicar o islamismo”.

O Conselho Francês do Culto Muçulmano condenou “firmemente” o atentado e, em comunicado, explicou que a expressão “Allahu Akbar” tem sido “perigosamente mal utilizada” porque, embora seja “para alguns o slogan da cobardia e da barbárie terrorista”, “na tradição espiritual muçulmana é o símbolo da humildade do homem perante Deus.”​

Alerta de Macron

No fim das suas breves palavras aos jornalistas em Arras, Emmanuel Macron repetiu um apelo que já fizera na quinta-feira à noite, quando fez uma declaração aos franceses a propósito do conflito entre Israel e o Hamas. “Mantenhamo-nos unidos, como pedi ontem à noite”, disse o chefe de Estado.

Num discurso com 11 minutos e transmitido na televisão, Macron começou por descrever “o terror sofrido pelos israelitas”, afirmou que a “França condena firmemente estes actos atrozes” e manifestou solidariedade e apoio a Israel “na sua resposta legítima aos ataques terroristas” – advertindo que o país “tem o direito a defender-se, eliminando os grupos terroristas, mas protegendo a população civil, porque esse é o dever das democracias”.

Depois, o chefe de Estado garantiu que as autoridades estão “em vigilância absoluta” perante “as expressões de ódio nas redes sociais e a ameaça terrorista” dirigidas às comunidades judaica e muçulmana em França. “Não juntemos, por ilusão ou por cálculo, fracturas nacionais às internacionais. E não cedamos a qualquer forma de ódio”, afirmou, acrescentando: “No momento em que vivemos, meus caros compatriotas, devemos condenar o terrorismo e defender os nossos valores fraternais.”

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