Voluntários estrangeiros recebem tratamento em hospital militar dos EUA – e regressam à Ucrânia para lutar
Hospital norte-americano em Landstuhl, na Alemanha, recebe e oferece tratamento médico a soldados feridos na Ucrânia, com a ajuda e o financiamento de organizações não-governamentais.
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Depois de drones russos terem deixado cair sobre si uma salva de morteiro e, depois disso, uma granada, este norte-americano, antigo marine, que combatia como voluntário na Ucrânia, pensou que iria perder o uso dos seus dedos.
Um estilhaço atingiu a perna e o braço direitos do soldado, de 28 anos, que pediu para ser identificado pelo nome de código, “Jumbo”. Precisava de ser operado à mão e o sobrecarregado sistema de saúde ucraniano só tinha disponível uma cama num hospital de Oncologia.
Em Agosto, porém, a organização sem fins lucrativos RT Weatherman Foundation, dos Estados Unidos, cobriu a maioria dos custos para que “Jumbo” e outros 12 voluntários estrangeiros fossem transportados para a Alemanha, para receber tratamento no Centro Médico Regional de Landstuhl, o maior hospital militar norte-americano fora do país.
Poucas semanas depois de ter sido operado, para recuperar a sensibilidade nos seus dedos, “Jumbo” estava de volta à Ucrânia.
O soldado foi um de quatro combatentes voluntários estrangeiros que foram tratados em Landstuhl, e entrevistados pela Reuters, que disseram que planeavam regressar à Ucrânia para apoiar os seus camaradas na luta contra a Rússia.
“Antes, eu não tinha um propósito, mas isto parece que me deu um, novamente”, diz “Jumbo”, que se juntou ao Exército da Ucrânia em Fevereiro depois de se ter sentido sem rumo, após ter deixado os Marines em 2021.
O soldado e outros 26 voluntários ficaram feridos durante uma operação militar no Sudeste da Ucrânia, em Julho. Dois morreram.
Compromisso americano
O tratamento médico de voluntários feridos em Landstuhl representa outro nível do compromisso dos EUA com a Ucrânia.
A Administração Biden teve de recorrer a fundos provenientes de um erro contabilístico de muitos milhões de dólares depois de o acordo provisório aprovado pela Câmara dos Representantes para evitar a paralisação do Governo ter deixado de fora novas ajudas à Ucrânia.
Milhares de voluntários estrangeiros partiram para a Ucrânia depois da invasão russa do território, em Fevereiro de 2022, e estão a agora a combater em conjunto com unidades militares regulares do Exército ucraniano e com uma legião estrangeira.
De acordo os responsáveis dos grupos de apoio à Ucrânia Safe Passage 4 Ukraine e Weatherman, entre os voluntários há centenas de norte-americanos, sendo que já terão morrido cerca de 30.
Segundo os quatro combatentes entrevistados pela Reuters, dezenas de voluntários estrangeiros são feridos todos os meses.
A Safe Passage 4 Ukraine, que financia viagens de evacuação, pagou, em apenas uma semana, 14 voos de regresso a casa para voluntários estrangeiros, informou a sua co-fundadora Rachel Jamison.
Já a presidente do Weatherman, Meaghan Mobbs, conta que o grupo gastou cerca de 30 mil dólares [mais de 28 mil euros] em evacuações no mês de Setembro e que prevê gastar a mesma quantia para transportar mais sete pessoas para Landstuhl.
Marcy Sanchez, porta-voz do hospital, diz que dos 20 membros do Exército ucraniano admitidos até agora, quase todos desde Agosto, 16 eram voluntários estrangeiros.
A organização de beneficência britânica ReactAid informou que iniciou procedimentos de autorização para retirar combatentes estrangeiros da Ucrânia e que levou um dos primeiros voluntários estrangeiros para Landstuhl em Julho.
O hospital foi autorizado, há um ano, a atribuir 18 das suas 65 camas às Forças Armadas ucranianas, mas poucos soldados tinham lá chegado antes do mês de Agosto.
“A burocracia é simplesmente horrorosa”, critica Craig Borthwick, médico da ReactAid, explicando os vários níveis de autorizações militares, médicas e governamentais que são necessários.
David Bramlette e Nathan Chan, coordenadores do RT Weatherman, dizem que as boas relações que têm com as unidades militares e com os médicos do hospital ajudaram a obter as autorizações para a transferência de pessoas para Landstuhl. Ambos são antigos combatentes voluntários.
“Há um elemento de triagem que temos de ter, não vamos levar toda a gente [para Landstuhl]”, esclarece Bramlette, um antigo ranger do Exército e dos Green Beret [Forças Especiais] dos EUA, que visita voluntários em hospitais para fazer campanha para que recebam tratamento médico e para aliviar a sua solidão.
Reuters