Activistas da Greve Climática impedidas de entrar na Assembleia da República: “Obrigaram-nos a despir”
Os estudantes preparavam-se para protestar na Assembleia da República, em Lisboa, mas foram revistados e impedidos de entrar.
Nove estudantes foram revistados quando se preparavam para assistir à sessão plenária da Assembleia da República (AR) na tarde desta quarta-feira, em Lisboa. A denúncia é de activistas do colectivo Greve Climática Estudantil, que acusam a polícia de ter obrigado alguns jovens a despirem-se.
Teresa Núncio, uma das jovens que estavam na AR esta tarde, por volta das 16h30, conta que foi levada para uma sala por uma agente e "obrigada a despir as calças para verem se tinha alguma coisa nas cuecas, tirar sapatos e meias e a tirar também a t-shirt para ver se tinha algo no soutien".
"Foi-nos negado o direito constitucional de assistir ao plenário", acusa Teresa Núncio, admitindo que o propósito do grupo de nove jovens era um protesto, levantando as vozes na sessão para enunciar as suas reivindicações: "É como dizemos: não há paz até ao último Inverno de gás".
Teresa Núncio garante que mais ninguém além do grupo de nove jovens foi sujeito a este tipo de revista, justificando que poderão ter chamado a atenção dos elementos de segurança por estarem vestidos de uma forma mais informal. No grupo estavam alguns rostos mais conhecidos de outros protestos recentes. A activista adianta que três rapazes do grupo não foram sujeitos a uma revista tão minuciosa.
Depois da revista, os jovens ficaram na entrada cerca de meia hora à espera de indicações. "Não fomos acusados de nada. Simplesmente, ficámos ali na entrada à espera de autorização para assistir ao plenário."
Por fim, vieram embora. "Saímos da AR com um bando de cinco polícias que vieram atrás de nós até ao virar da esquina", diz.
“Embora a revista para entrar na Assembleia da República seja comum, a pessoa foi submetida a este acto humilhante de se despir por ter 'ar de activista', uma vez que não encontraram consigo nenhum objecto perigoso”, refere no comunicado da Greve Climática Estudantil a porta-voz Teresa Núncio. "Obrigaram-nos a despir por terem medo de que fossemos fazer uma manifestação pacífica", referiu ainda a activista climática.
O Azul contactou a presidente do Conselho de Administração da Assembleia da República, Eurídice Pereira, que se recusou a prestar declarações, remetendo os esclarecimentos para os elementos de segurança.
O Azul tentou contactar o Comando Metropolitano de Lisboa da PSP e a segurança da Assembleia da República, mas ainda não obteve resposta. Segundo o regulamento de acesso, circulação e permanência nas instalações da Assembleia da República, é referido que que ao destacamento da Polícia de Segurança Pública compete “controlar o acesso às instalações, inspeccionando as pessoas e as bagagens nos termos das leis em vigor”.
É ainda dito que o serviço de segurança deve “exercer a vigilância das instalações da Assembleia da República e garantir a segurança física dos deputados, dos membros do governo, dos altos dignitários e autoridades, dos funcionários da Assembleia da República, dos grupos parlamentares e dos gabinetes dos jornalistas e de todos quanto visitem ou prestem serviço ou permaneçam, seja a que título for, nas mesmas instalações”. Também compete o “controlo do acesso de circulação, permanência e saída dos visitantes”. Ao oficial de segurança compete também “medidas excepcionais a aplicar ao acesso e à circulação de pessoas nas instalações da Assembleia da República”.
Em comunicado, os activistas da Greve Climática Estudantil referem que terão mais protestos a partir de 13 de Novembro, prometendo voltar a ocupar escolas e universidades e a "interromper a normalidade das instituições de poder que estão a condenar os nossos futuros".
Outros protestos em paralelo
Protestos climáticos têm sido organizados ainda por um outro colectivo, o Climáximo, que também exige o fim dos combustíveis fósseis para abrandar a crise climática. Várias têm sido as acções nos últimos dias: já bloquearam a Avenida de Roma, a Segunda Circular e a rua de São Bento, em Lisboa.
Activistas do Climáximo pintaram com tinta vermelha a sede da REN. No domingo, um grupo de 12 activistas foi identificado e detido enquanto se preparava para fazer um protesto em Cascais. O movimento Climáximo alega que os activistas estão a ser investigados pela prática de “desobediência qualificada” e denuncia que a acção da polícia foi “ilegal”. Já a PSP explica que identificou os activistas devido ao seu “mediatismo” e que agiu para “prevenir” a “prática de qualquer acto ilícito”. O objectivo destes protestos é sempre o mesmo: alertar a população para a crise climática e reivindicar uma acção climática mais robusta.