Mesmo por baixo da estátua de Camões, Amro Fatayer ergue a bandeira da Palestina, juntamente com outros palestinianos. Estes têm sido dias difíceis para o palestiniano de 26 anos, a estudar em Portugal: “Estive em Nablus [na Cisjordânia] há um mês. Não sei se foi a última vez que vi a minha família...” Amro Fatayer foi uma das pessoas presentes na segunda-feira, 9 de Outubro, na Praça Luís de Camões, em Lisboa, para mostrar a sua solidariedade pelo povo palestiniano. A manifestação convocada pelo Colectivo pela Libertação da Palestina nas redes sociais juntou algumas dezenas de pessoas.
A concentração decorre ao terceiro dia de guerra entre o grupo palestiniano Hamas e Israel, após décadas de conflito. No sábado, a partir de Gaza, o Hamas furou as barreiras de segurança impostas por Israel e ocupou aldeias e vilas um pouco por todo o Sul de Israel. O grupo sequestrou dezenas de civis e militares israelitas. Em resposta a esta ofensiva, Israel declarou guerra. Até ao final desta segunda-feira, contavam-se quase 1300 mortos entre civis, soldados israelitas e militantes do Hamas.
“Free, free Palestine [Palestina livre]”, gritaram, entre bandeiras da Palestina, ao final da tarde. Há quem tenha um kaffiyeh (um lenço palestiniano) ou cartazes como “Liberdade para a Palestina”. “Palestina vencerá”, ouve-se também.
Um dos membros do Colectivo pela Libertação da Palestina, Ricardo Esteves Ribeiro, jornalista e co-fundador do Fumaça, diz ao PÚBLICO que, tendo em conta o que aconteceu no sábado, era “preciso mostrar a solidariedade internacional para com o direito das pessoas palestinianas a resistirem a uma ocupação que acontece há 75 anos [referindo-se à criação do estado de Israel], principalmente num momento em que acontece esta dicotomia, este maniqueísmo, em que ou se defende o Hamas ou se defende Israel”. “Não temos de dizer como a resistência palestiniana deve resistir. Aquilo que temos de dizer é que têm o direito legítimo de poderem resistir a esta ocupação”, assinala.
A activista palestiniana Shahd Wadi também pertence ao colectivo criado há poucos meses por um grupo de activistas unidos pela causa da Palestina. “Estamos aqui para lembrar o mundo que há uma ocupação há 75 anos. Há um sistema de apartheid que está a acontecer e que não começou no dia 7 de Outubro [sábado]. Para mim, começou em 1948”, nota, com uma t-shirt com a expressão “Free Palestine”. Refere ainda que, para si, é “lamentável que o que o mundo esteja a condenar a violência da parte palestiniana e a esquecer o que tinha acontecido durante toda a violência perpetuada contra o povo palestiniano durante décadas diariamente”. “Para mim, é muito difícil ouvir falar da violência palestiniana, enquanto o povo palestiniano está a sofrer todos os dias.”
Além disso, faz questão de dizer: “Toda a gente fala disto como uma guerra entre Hamas e Israel e, na verdade, a maior parte do povo palestiniano, incluindo o povo palestiniano em Gaza, é contra a ideologia política do Hamas, mas está a apoiar a resistência que, na verdade, é a resistência do povo palestiniano.” Para a investigadora em assuntos palestinianos e feministas, há só uma forma de terminar com o que está a acontecer nestes dias: “É preciso acabar com o apartheid para que não haja violência nem de um lado nem do outro.”
Mais manifestações em breve
A manifestação reuniu ainda outros movimentos pela Palestina, como o Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente (MPPM), que já organizaram outras concentrações em Portugal. Carlos Almeida, do MPPM, veio até à Praça Luís de Camões em solidariedade pelo povo palestiniano. “A situação é dramática. Estamos a viver momentos terríveis. Ninguém mais do que o povo palestiniano tem consciência da gravidade da situação do que se está a viver”, apela. “Podemos estar à beira de um conflito de proporções que não conhecemos. Os riscos de uma confrontação regional de impacto mundial são muito grandes. Nunca como hoje foi importante a centralidade da causa Palestina para a paz no Médio Oriente.”
É também pela resistência do povo palestiniano que veio à concentração. “A resistência é um direito soberano de todos os povos. Não é possível exigir a um povo que viva toda a sua vida humilhado e que aceite livremente e em silêncio a colonização das suas terras”, considera. Carlos Almeida informa que o seu movimento também irá anunciar mais concentrações em breve.
Pelo mundo, decorreram já outras manifestações em solidariedade com a Palestina ou com Israel, desde Londres, Nova Iorque até Sydney. O Colectivo pela Libertação da Palestina convocou outra manifestação no Porto, no sábado, 14 de Outubro, às 17h, frente à Cadeia da Relação.