Acção contra ministro do Ambiente “é um símbolo de que a democracia está viva”

Matilde Ventura, porta-voz do protesto que atingiu Duarte Cordeiro com tinta, acusa os partidos de não terem uma “abordagem necessária e realista face à crise climática”.

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O protesto da Greve Climática Estudantil contra o ministro do Ambiente e da Acção Climática que, no final de Setembro, foi atingido com tinta por activistas, suscitou polémica e posições extremadas, seja contra seja a favor. Em entrevista ao podcast Toma Partido, num episódio sobre os protestos dos activistas climáticos, a porta-voz da acção contra Duarte Cordeiro, Matilde Ventura, defende que esta foi uma forma de “prevenir a democracia” e que a resposta dos activistas “tem de ser proporcional” à “radicalização da crise climática”.

A estudante de 19 anos afasta a ideia de que a acção contra o ministro do Ambiente e da Acção Climática possa ter sido antidemocrática, argumentando que “os governos a nível nacional e internacional nos estão a encaminhar para um genocídio em massa” e que isso é que “ataca directamente a democracia”. “Isto [o protesto] é prevenir a democracia, é um símbolo de que a democracia está viva”, retorque.

Lembrando que é preciso limitar o aquecimento global a 1,5ºC e reduzir metade das emissões até 2030, a activista defende: “Temos seis anos para mudar tudo e não está a acontecer absolutamente nada”, o que, diz, “põe muito em perspectiva o ataque ao ministro com a tinta”. “Nós fizemos marchas”, “já falámos com ministros, ocupámos as escolas, fizemos greves de fome, já fechámos faculdades à chave, fomos detidas e nada disto funcionou até agora”, justifica.

Não se trata de uma questão pessoal contra o ministro, garante. Mas, num ano em que deram um “salto” para atingir “directamente o Governo”, os activistas quiseram fazer uma “acção de denúncia” porque Duarte Cordeiro, que “nos devia estar a garantir um futuro num planeta habitável, está sentado à mesa com duas empresas absolutamente criminosas, que não só estão a agravar a crise climática, como estão a lucrar brutalmente com o aumento de custo de vida”, argumenta.

A activista da Greve Climática Estudantil admite que uma acção como atirar tinta, seja a ministros, seja a quadros, como aconteceu no Reino Unido, “é extremamente polémico” e “polarizador” e defende que “a interrupção de processos governamentais e institucionais”, como o bloqueio ao Conselho de Ministros de 14 de Setembro, “é muito mais eficaz”. Contudo, sustenta que a resposta dos activistas “tem de ser proporcional” à “radicalização da crise climática”.

Segundo Matilde Ventura, determinadas acções levam à criação de empatia para com quem protesta. Exemplo disso foi o bloqueio da Segunda Circular, em Lisboa, na semana passada, episódio que resultou na agressão de alguns activistas por parte de automobilistas. “Acho que as pessoas empatizam muito ao verem pessoas que estão a parar, com os seus próprios corpos, a Segunda Circular. E que estão a levar com violência de forma muito vulnerável, até. As pessoas vêem isto e não ficam completamente indiferentes”, diz.

Quanto à proposta do Governo para o Orçamento do Estado para 2024, que será entregue na Assembleia da República nesta terça-feira, Matilde Ventura espera ver “um plano muito concreto sobre como realizar a transição energética”, como o proposto no programa de transição da campanha Empregos para o Clima, defendendo que toda a electricidade seja renovável em 2025, produzida “de forma local” e que se ponha fim aos combustíveis fósseis até 2030.

Apesar de saber o que tem a fazer, a estudante acredita que o “Governo não tem um plano” para tal. Mas sim “planos para fazer novos gasodutos” e “novos aeroportos”. Por este motivo, a ideia de que há “inacção” do executivo em relação à crise climática é “cada vez mais uma falácia”, afirma. Há, sim, “uma acção premeditada que está a acontecer e parece que é coordenada, até”, acrescenta.

Quanto aos partidos, a jovem tem uma visão igualmente negativa, inclusive à esquerda, acusando-os de não terem “uma abordagem necessária e realista face à crise climática”.

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