“Tenho a certeza de que o Presidente da República cuidará” do sigilo no Conselho de Estado
António Costa desvaloriza o facto de não ter intervindo na última reunião daquele órgão no qual, frisou, “só ex-líderes do PSD estão quatro”. Sobre João Gomes Cravinho, remeteu para a justiça.
O primeiro-ministro terminou a entrevista de quase duas horas à TVI/CNN com uma mensagem dirigida ao Presidente da República e ao Conselho de Estado. “Tenho a certeza de que o Presidente da República cuidará da estrita aplicação da lei” que regula aquele órgão de aconselhamento do chefe de Estado, disse, referindo-se à "garantia de sigilo" dessas reuniões, cujas actas só são públicas após 30 anos.
Na última pergunta da entrevista, já depois das perguntas do público, a jornalista Sara Pinto quis saber porque é que António Costa ficou em silêncio na última reunião do Conselho de Estado, e o primeiro-ministro começou por considerar que, na sua relação com Marcelo Rebelo de Sousa, há muito espaço para o diálogo.
“Sempre que o Presidente da República me quer ouvir, ou me chama ou me telefona. O Conselho de Estado serve sobretudo para os conselheiros falarem”, considerou, acrescentando que, naquele órgão, “só ex-líderes do PSD estão lá quatro”.
Quanto à última reunião, cuja primeira parte decorreu em Julho, no dia seguinte ao debate do estado da nação, António Costa sublinhou que tinha exposto toda a sua visão sobre o estado do país no Parlamento. “Não tinha nada a acrescentar ao que tinha dito”, disse.
Questionado sobre se pensa ficar em silêncio mais vezes no Conselho de Estado, Costa queixou-se das “fugas de informação”. “Não é habitual e foi muito inusitado ter havido fugas selectivas”, disse, afirmando então acreditar que Marcelo Rebelo de Sousa “cuidará” para que não se repita.
“Não me passa pela cabeça que o Presidente da República, que é o garante do normal funcionamento das instituições, não trate de cuidar do normal funcionamento daquela instituição a que preside”, rematou.
Antes deste tema, o primeiro-ministro foi ainda questionado sobre as consequências políticas do processo Tempestade Perfeita para o ministro João Gomes Cravinho e respondeu ao lado, dizendo confiar na justiça e considerando que “a função de um primeiro-ministro é definir uma política de justiça onde dá meios necessários para combater a corrupção”.
“Vivemos num país onde ninguém está acima da lei e se houver indícios sobre João Cravinho ou em relação a mim, não é por isso que a justiça vai deixar de actuar. Mas não me vou antecipar à justiça”, afirmou.