Tráfico de droga. Juiz envia para julgamento “Xuxas” e 18 arguidos da Operação Exotic fruit
Dos 21 arguidos, o juiz decidiu pronunciar para julgamento 19. Em causa estão crimes de tráfico de estupefacientes agravado, associação criminosa, branqueamento de capitais e posse de arma proibida.
O juiz Carlos Alexandre decidiu pronunciar para julgamento, nos exactos termos da acusação, 19 dos 21 arguidos do processo conhecido como Operação Exotic Fruit. Entre os arguidos pronunciados está Rúben Oliveira, considerado o líder da organização.
Inicialmente o Ministério Público (MP) tinha acusado 21 arguidos (18 pessoas e três empresas) pelos crimes de tráfico de estupefacientes agravado, de associação criminosa para o tráfico, branqueamento de capitais e posse de arma proibida.
Segundo a acusação, o grupo liderado por Rúben Oliveira, conhecido pela alcunha “Xuxas”, tinha “ligações estreitas com as organizações de narcotráfico do Brasil, como o Comando Vermelho e da Colômbia, pelo menos desde meados de 2019, e importava elevadas quantidades de cocaína da América do Sul. Dessas ligações também faria parte Sérgio Carvalho, um narcotraficante conhecido por ser o “Escobar brasileiro” e responsável pela exportação de toneladas de cocaína para a Europa.
A organização de “Xuxas” teria infiltrados nos portos marítimos de Setúbal e Leixões, aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, Mercado Abastecedor da Região de Lisboa (MARL), entre outros, que a troco de dinheiro lhes permitia utilizar a sua influência para importar grandes quantidades de droga fora da fiscalização das autoridades.
Rúben Oliveira foi detido pela Polícia Judiciária (PJ) em Junho do ano passado, nos Olivais, em Lisboa, no âmbito da Operação Exotic Fruit. Foi dado este nome à operação porque a droga, nomeadamente cocaína, vinha para Portugal dissimulada em carregamentos de ananases, açaí, papaias e bananas.
De acordo com a acusação do MP, Rúben “lavava” o dinheiro da droga através da compra de imóveis — tem vários apartamentos, incluindo uma luxuosa moradia em Lisboa.
No dia em que foi detido tinha consigo um cordão de ouro com a inscrição "XUXA", no valor de 54 mil euros, uma pulseira de ouro com a inscrição "Xuxa" , no valor de 16 mil euros, um relógio Rolex, no valor de 30 mil euros, uma mala Louis Vuitton, no valor de 2100 euros e 6700 euros em notas.
Além disso, na mala trazia roupa ainda com etiquetas, nomeadamente um casaco da marca Valentino, de 1800 euros, uma camisa da marca Burberry com etiqueta no valor de 970 euros, uns calções da Burberry, com o valor registado de 600 euros, uma camisa também da mesma marca, com o valor de 965 euros na etiqueta, e uns calções da Versace com o valor marcado de 795 euros.
"Só em acessórios, Rúben transportava, no seu corpo, 102 100 euros, o que por si só, é demonstrativo da capacidade financeira que o arguido adquiriu ao longo dos último anos com o tráfico de estupefacientes", dizia o relatório da PJ.
Desde 2019 que a PJ fez várias apreensões de droga, muitos quilos, alegadamente resultantes do tráfico internacional de "Xuxa". Mas foi a apreensão de 354 quilos de cocaína, avaliados em 17 milhões de euros, que chegaram a Lisboa no dia 14 de Fevereiro de 2022, numa carga aérea, dissimulados numa encomenda de sete toneladas de papaia, que deu o golpe final na organização do alegado “padrinho” português.
Segundo o MP, Rúben Oliveira esteve alguns meses no Dubai, mas, mesmo com as autoridades atrás de si, regressou a Portugal, alegadamente por saudades da família. Aterrou em Espanha e viajou de Madrid para Portugal de carro, tendo acabado por ser detido.
De acordo com o processo, além de vários quilos de droga apreendida, de milhares de horas de escutas e imagens capturadas pelos inspectores da PJ, e documentação, há pelo menos duas provas que podem ser consideradas de maior peso. Uma delas é o testemunho do homem que tinha um comércio através do qual a organização criminosa fazia a encomenda das frutas para esconder a droga. Este homem, que também é arguido e foi detido no dia 14 de Fevereiro com mais quatro indivíduos, contou que as papaias eram de Rúben Oliveira e que já tinham sido feitas outras encomendas.
A outra prova refere-se a comunicações extraídas do Encrochat, conhecido como o “WhatsApp dos criminosos”, a cujo servidor a polícia francesa conseguiu aceder no final de 2020, tendo extraído dados, mais de 100 milhões de mensagens, que permitiram até ao dia de hoje identificar mais de 60 mil utilizadores, sendo que apenas 10 mil não o usariam para praticar crimes.