IA no trabalho: ferramentas para ganhar tempo a ler, traduzir e transcrever

O PÚBLICO testou algumas ferramentas de inteligência artificial que ajudam a ganhar tempo, especialmente quando o trabalho inclui transcrever, traduzir e ler textos académicos.

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O Elicit ajuda a começar uma revisão da literatura em segundos Lucian Alexe/Unsplash
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A popularidade de ferramentas com inteligência artificial (IA) para facilitar o trabalho de humanos continua a aumentar. Há mais e melhores sistemas para traduzir automaticamente, parafrasear textos inteiros, e até encontrar – e depois resumir estudos académicos. É preciso, no entanto, saber como e quando usá-los.

O PÚBLICO preparou uma lista de ferramentas com IA que podem ajudar as pessoas a ganhar tempo no dia-a-dia em tarefas que envolvem ler e escrever. O QuillBot ajuda a rever a gramática e a resumir textos. A Elicit é uma assistente de pesquisa para começar uma revisão da literatura em segundos a partir de uma pergunta. O Deepl usa tradutores humanos para melhorar a precisão das suas traduções e o MyGoodTape elimina a necessidade de passar horas a transcrever ficheiros áudio. Todas as ferramentas podem ser usadas gratuitamente.

Para parafrasear e evitar plágio: QuillBot

O que é? O QuillBot é um programa criado para ajudar pessoas a aperfeiçoarem os textos que escrevem e a alertar para indícios de plágio. Funciona em várias línguas, incluindo português. Também traduz, embora não seja o seu ponto forte. A versão gratuita revê a gramática, a pontuação e a fluidez dos textos – se uma frase for difícil de compreender, o sistema alerta o utilizador. Além disso, o QuillBot permite resumir textos demasiado grandes, aumentar textos demasiado pequenos, e modificar o tom de um texto (por exemplo, de formal para informal). Há uma extensão para o Chrome e outra para o Microsoft Office.

Origem: O QuillBot foi criado em 2017, nos EUA. Os fundadores conheceram-se na Universidade de Illinois, enquanto estudantes do curso de Ciências da Computação. A equipa defende que a missão é “tornar o processo de escrita indolor” permitindo que as pessoas dediquem mais tempo à mensagem que querem passar e não à forma como a escrevem.

Pontos fortes e fracos: O sistema para parafrasear funciona em várias línguas, incluindo português, embora ainda confunda um pouco as versões de português do Brasil e português de Portugal. A ferramenta de resumo é boa a captar a parte essencial de um texto, mas só escreve em inglês: ou seja, se introduzirmos um texto em português, o resumo aparece em inglês. A versão gratuita só aceita textos até 125 palavras e apenas a versão paga alerta para indícios de plágio.

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Função de resumo do QuillBot DR

Quanto custa: Qualquer pessoa pode usar as funcionalidades base do QuillBot sem pagar. A versão premium custa cerca de 50 euros por ano ou dez euros por mês se o utilizador não se quiser comprometer com 12 meses. Com a subscrição, os textos deixam de ter limite de caracteres e o processo de revisão é mais rápido. Há uma ferramenta que alerta para potenciais casos de plágio.

Como funciona: O QuillBot depende de técnicas de processamento da linguagem natural (NLP, na sigla inglesa), o ramo da IA que permite aos computadores compreender, gerar e manipular a linguagem humana. O sistema é treinado com bases de dados sobre regras de gramática e pontuação que mostram as formas correctas e incorrectas de escrever, bem como exemplos de vários textos. O programa também considera o feedback dos utilizadores: se o Quillbot sugerir alterar a palavra “triste” para “patético” e muitos utilizadores ignorarem a proposta, o sistema percebe que as palavras não são sempre permutáveis.

Para encontrar estudos: Elicit

O que é? Um assistente de pesquisa que ajuda a começar uma revisão da literatura em inglês sobre qualquer tema. Por exemplo, ao escrever “estudos sobre creatina”, o Elicit identifica e resume as principais ideias dos estudos mais citados sobre este tema e cria uma tabela com outros estudos relevantes. Cada entrada identifica o título, os autores, o resumo do trabalho e o DOI (identificador de objecto digital). Esta tabela pode ser personalizada com mais informação, como o número de participantes de cada estudo e a duração. É uma ferramenta paga, mas quando se cria uma conta, recebe-se cinco mil créditos – uma pesquisa simples custa cerca de dez créditos. A biblioteca da OCDE inclui um manual a detalhar o funcionamento do Elicit.

Origem: A Elicit é uma spinoff da Ought, uma organização sem fins lucrativos criada por Andreas Stuhlmüller, um antigo investigador do laboratório de computação e cognição da Universidade Stanford, nos EUA. A ferramenta foi criada com a missão de acelerar a investigação em diversos temas. Ao automatizar o processo de revisão sistemática, podemos poupar tempo e custos às organizações de investigação, justificou Stuhlmüller numa entrevista ao site especializado TechCrunch.

Pontos fortes e fracos: A maior desvantagem é que o sistema apenas funciona bem em inglês e com estudos escritos em inglês. Pode-se pesquisar em português, mas os resultados são confusos. Além disso, o sistema não percebe a diferença entre um estudo mais robusto e outro. Quanto a vantagens, além de encontrar e resumir estudos académicos, o sistema permite organizá-los consoante diversos critérios (por exemplo, data de realização).

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O Elicit procura, resuma e organiza dezenas de estudos em segundos DR

Quanto custa: Quando se esgotam os créditos iniciais, cada novo pacote de cinco mil créditos custa cerca de cinco euros. Pode-se comprar 50 mil créditos de uma só vez, por 50 euros.

Como funciona: A equipa não revela muitos detalhes sobre o motor do Elicit, mas sabe-se que o sistema depende do GPT-3, um antigo modelo de linguagem lançado em 2020 pela OpenAI, a criadora do ChatGPT. Quando foi lançado, o ChatGPT usava o GPT-3.5; a versão paga usa o GPT-4. A Elicit usa o GPT-3 para realizar pesquisas semânticas, um método de pesquisa que vai além de correspondências literais com palavras-chave, captando o significado das pesquisas. Isto faz com que o Elicit encontre textos académicos que ajudam a responder às perguntas dos utilizadores, mesmo que não utilizem as suas palavras exactas.

Para traduzir: Deepl

O que é? Um sistema de tradução automático que compreende cerca de 30 línguas, incluindo português de Portugal e português do Brasil. Comparado com sistemas como o Google Translate, parece ser melhor a detectar nuances e contexto. A empresa emprega vários editores humanos, tradutores profissionais e falantes nativos para “calibrar” as traduções. A versão grátis tem um limite de caracteres.

Origem: O Deepl foi criado em 2017, na Alemanha. Inicialmente, era um projecto do Linguee, um dicionário online que ajuda a traduzir expressões e frases através de exemplos online. Com o sucesso, tornou-se uma entidade separada.

Pontos fortes e fracos: O sistema apenas funciona para algumas dezenas de línguas, enquanto outros tradutores gratuitos, como o Translate, da Google, compreendem mais de 130 línguas. O sistema gratuito da Google também permite traduzir texto áudio e texto em imagens. A versão gratuita do Deepl tem um limite de 1500 caracteres por tradução.

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Ambiente de trabalho do Deepl DR

Quanto custa: A versão Pro varia entre os 8,50 euros e os 50 euros por mês, consoante o volume de tradução necessário. A versão paga não tem limite de caracteres, inclui mais sugestões de sinónimos e permite carregar ficheiros para serem traduzidos.

Como funciona: O sistema usa técnicas de processamento da linguagem natural para compreender a linguagem humana e redes neuronais (redes de algoritmos inspiradas no cérebro humano) que são treinadas com exemplos de textos em várias línguas. O sistema também depende de uma grande rede de tradutores profissionais e falantes nativos.

Para transcrever: MyGoodTape

O que é: A MyGoodTape é uma ferramenta online que permite transformar ficheiros áudio em texto. O programa consegue transcrever mais de 90 línguas, incluindo português de Portugal, e encripta todos os dados e ficheiros – ou seja, as mensagens são transformadas num código, impedindo-as de serem lidas por pessoas que não têm a chave. Assim que a informação é convertida em áudio, o ficheiro, que nunca sai da União Europeia, é eliminado dos servidores da empresa.

Origem: A MyGoodTape foi criada a pedido do jornal online Zetland, na Dinamarca, que queria um sistema de transcrição para os seus jornalistas que funcionasse em dinamarquês e não custasse várias dezenas de euros por mês. Actualmente, também é usado por estudantes e profissionais que precisam de transcrever reuniões.

Pontos fortes e fracos: Se o ficheiro de áudio tem boa qualidade, o sistema identifica automaticamente a língua usada e transcreve correctamente com time-stamps (carimbo de hora) para diferentes falas. Ainda assim, é fundamental voltar a rever a transcrição com o áudio. Gralhas como “diz assim” ou “diz sim” podem ocorrer. A versão gratuita não identifica as diferentes vozes numa conversa e demora mais tempo a transcrever.

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O sistema do MyGoodTape detecta automaticamente a língua do ficheiro áudio DR

Quanto custa: Para ficheiros áudio com menos de 20 minutos, é gratuito e não requer criar conta. Criar uma conta com a MyGoodTape permite transcrever até três textos maiores por mês. A versão paga custa 15 euros por mês: requer menos tempo de espera, identifica diferentes vozes numa conversa e transcreve qualquer áudio independentemente do tamanho.

Como funciona: O sistema baseia-se no irmão do ChatGPT, o Whisper. Ambos foram criados pela empresa de inteligência artificial OpenAI. O Whisper é um modelo de inteligência artificial ASR (essencialmente: identifica discurso automaticamente) disponível em código aberto que foi lançado em 2022.

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