Quase metade da população arménia de Nagorno-Karabakh fugiu da região em poucos dias

Governo da Arménia diz que mais de 50 mil pessoas já atravessaram a fronteira, em fuga do que diz ser uma operação de limpeza étnica promovida pelo Azerbaijão.

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Refugiados de Nagorno-Karabakh à chegada à Arménia Reuters/IRAKLI GEDENIDZE
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Mais de 50 mil arménios da autoproclamada república de Artsaque, localizada no Azerbaijão, na região de Nagorno-Karabakh, fugiram para a Arménia nos últimos dias, num êxodo provocado pela tomada do território separatista pelas tropas azerbaijanas, na semana passada.

O primeiro-ministro da Arménia, Nikol Pashinyan, afirma que as autoridades do país vizinho estão a levar a cabo uma operação de limpeza étnica em Nagorno-Karabakh, e estima que toda a população arménia da região separatista — mais de 120 mil pessoas, ou 95% do total — acabará por atravessar a fronteira nos próximos dias e semanas.

Nesta quarta-feira, a polícia do Azerbaijão anunciou que deteve o ex-ministro de Estado da república separatista, o empresário arménio Ruben Vardanyan, quando este se preparava para entrar na Arménia.

Segundo um comunicado da polícia azerbaijana, citado pelo Washington Post, Vardanyan foi levado para a capital do Azerbaijão, Bacu, e está "sob custódia das autoridades competentes".

Vardanyan, de 55 anos, um antigo oligarca com dupla nacionalidade russa e arménia, renunciou à cidadania russa em 2022 e estabeleceu-se na autoproclamada república de Artsaque em Setembro de 2022, antes do início de um bloqueio de dez meses do Azerbaijão à única passagem entre Nagorno-Karabakh e a Arménia.

Nomeado ministro de Estado assim que chegou a Nagorno-Karabakh, Vardanyan foi afastado do cargo em Fevereiro passado, no meio de acusações, por parte do Azerbaijão, de que estaria a agir sob as ordens de Moscovo.

"O Ruben manteve-se ao lado do povo artsaque durante os dez meses de bloqueio e sofreu com eles na sua luta pela sobrevivência", disse a mulher de Vardanyan, Veronika Zonabend, num comunicado. "Peço-vos que rezem por ele e que o ajudem a regressar em segurança."

Na sequência de uma operação militar realizada no início da semana passada, e que durou apenas 24 horas, o Azerbaijão recuperou o controlo do território da república de Artsaque.

Após uma primeira guerra, que começou com os primeiros sinais da dissolução da União Soviética, em 1988, e que terminou em 1994, os separatistas arménios de Nagorno-Karabakh assumiram o controlo da região, reconhecida internacionalmente como parte integrante do Azerbaijão.

As forças azerbaijanas recuperaram uma parte do território numa segunda guerra, em 2020, e assumiram o controlo total na semana passada, numa intervenção militar realizada em violação de um cessar-fogo acordado há três anos e mediado pela Rússia.

Na terça-feira, o primeiro-ministro da Arménia recebeu dois altos representantes da Administração dos Estados Unidos, que foram à capital do país, Erevan, disponibilizar ajuda financeira para o desenvolvimento da economia local e apelar ao Azerbaijão que cesse as hostilidades e proteja a população arménia de Nagorno-Karabakh.

A aproximação dos EUA segue-se à acusação do Governo arménio de que a Rússia — um seu aliado histórico na questão de Nagorno-Karabakh — abandonou a causa da república de Artsaque e está agora ao lado do Azerbaijão.

No terreno, as autoridades arménias dizem que as tropas de manutenção de paz russas não estão a intervir para evitar confrontos, nem estão a colaborar com as tropas do Azerbaijão no controlo da única passagem para fora de Nagorno-Karabakh.

"Estamos todos em choque. Toda a gente percebe que isto é o fim — a completa destruição de Artsaque", disse Benyamin Poghosyan, um antigo director de pesquisa e desenvolvimento no Ministério da Defesa da Arménia, citado pelo New York Times.

"A única coisa que interessa agora é que todas as pessoas consigam sair em segurança."

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