A escola tornou-se um campo de batalha onde só os alunos animam os professores

Quem diria que entraríamos no 50.º aniversário do 25 de Abril com a escola excluída do papel nuclear de laboratório da democracia?

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A História da Educação registará a imagem de campo de batalha como um ineditismo português na organização das escolas. Até aqui, os investigadores reconheciam no Ocidente as imagens de empresa, burocracia, democracia, arena política, anarquia e cultura.

Esta criação portuguesa, associada a outros ineditismos – modelo autocrático de gestão de agrupamentos e farsa avaliativa de professores –, levará uma ferramenta da Inteligência Artificial generativa a interrogar-se: "Mas é na Coreia do Norte, na Bielorrússia ou na Hungria?"

E, ao contrário do que diz o ministro da Educação – depois de oito anos de Governo –, não é preciso recuar cinquenta anos para se perceber a falta de professores; são suficientes duas décadas e o estudo dos ineditismos. Aliás, o primeiro-ministro confessou à SIC Notícias, em 2015, a mudança para a imagem de campo de batalha: "Os professores foram vítimas de uma guerra injusta decretada num Conselho de Ministros de que fiz parte em 2006".

A bem dizer, e como diz a OCDE e outros estudos reforçam, "só os alunos dão ânimo aos professores portugueses, que são os melhores a adaptar as aulas às suas necessidades". Essa elevação profissional ficou patente na pandemia e na recente avalanche de greves e manifestações. Os professores preocupam-se com os alunos e só não explodem mais porque grande parte entrou reconhecidamente em estado de exaustão, indiferença, fuga, cinismo nas relações institucionais ou revolta contida.

Acima de tudo, a queda da democracia escolar pode antecipar a da própria democracia. Como a História demonstra, as democracias caem pela incapacidade em consolidar políticas inclusivas (que distribuem a riqueza). A preponderância de políticas extractivas (que concentram a riqueza em oligarquias ou minorias) nas empresas, nas instituições e nas diversas organizações, tem efeitos comprovados: redução da classe média, aumento de ressentidos, crescimento da extrema-direita e de outros movimentos demagógicos e crepúsculo das democracias.

Conhece-se o momento de viragem no Ocidente a favor de políticas extractivas e em que o capitalismo cedeu ao ultraliberalismo (os nórdicos resistiram). As políticas iniciadas por Thatcher e Reagan instituíram o fatal todos contra todos em todo o lado. Clinton, Blair, e Schröder consolidaram-no. Por cá, e no tal Conselho de Ministros de 2006, aplicou-se obstinadamente aos professores da escola pública. Continua vigente e a provocar a maior perda de atractividade do ser professor no que levamos de História.

E se são irrefutáveis, e antes do mais, as conclusões referidas, há outra tendência crucial do estado da democracia demonstrativa de que caminhamos para o lado errado: nas nações que não falham e que são ricas, os seus ricos usam crescentemente as escolas públicas, os transportes públicos e os serviços públicos de saúde.

Por outro lado, percebe-se a imagem de campo de batalha a partir da interessante explicação de James Robinson (autor, com Daron Acemoglu, do célebre Porque falham as nações): "Sabendo-se que o poder corrompe e que o poder absoluto corrompe absolutamente, os pesos e contrapesos da Constituição dos EUA não pensaram em pessoas sensatas como Barack Obama; pensaram em pessoas como Donald Trump e resulta".

A bem dizer, o modelo de gestão escolar imposto em 2009 não tem pesos e contrapesos. Legislou-se uma teia de impossibilidades e de avaliações recíprocas, que, em última instância, depende de um poder central mergulhado em emprego partidário e nas culturas anti-escola e antiprofessor. Além disso, o processo de escolha de dirigentes é deslegitimador e inscreve uma limitação de mandatos irrisória. Portanto, haver mais ou menos autocracia depende exclusivamente da personalidade dos dirigentes e o nefasto caudilhismo municipal transferiu-se para as escolas.

A situação agrava-se pela incapacidade do Governo em inverter a queda. Quem diria que entraríamos no 50.º aniversário do 25 de Abril com a escola excluída do papel nuclear de laboratório da democracia; e ainda há quem se surpreenda com a tendência crescente de radicalização dos novos eleitores.

E não adianta reconhecer a brutal injustiça da avaliação de professores legislando pequeníssimas acelerações na dilacerada carreira ou prometendo para as calendas a justa recuperação do tempo de serviço. O inamovível modelo integrado de políticas extractivas aplicar-se-á aos que se seguem (se não desistirem, como cerca de 30% dos qualificados no que levamos de milénio). Em suma, uma qualquer imagem futura da escola passará sempre pelos seus inventores, os professores, e urge ouvi-los, porque o futuro demora sempre uma eternidade.

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