Com o mercado a contrair-se, preços das casas não cedem e continuam a subir

No final de Junho, os preços das casas registavam uma variação média anual superior a 10% e o valor médio de uma habitação em Portugal já superava, pela primeira vez, os 200 mil euros.

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Preços das casas continuam a aumentar a ritmo acelerado Nuno Ferreira Santos
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Numa altura em que a subida das taxas de juro está a encarecer o crédito e a dificultar o acesso à habitação, o mercado dá sinais claros de contracção, acumulando já quatro trimestres consecutivos de quebras no número de vendas de casas. Mas nem por isso os preços cedem: no final do primeiro trimestre, os valores de venda das casas registavam uma subida anual superior a 10% e o preço médio de cada casa já ultrapassava os 200 mil euros, a primeira vez que esta fasquia é superada.

Os dados, divulgados nesta quinta-feira, são do Instituto Nacional de Estatística (INE), que dá conta de que, no segundo trimestre deste ano, o índice de preços da habitação registou um crescimento de 8,7% face a igual período do ano passado, a mesma variação que já tinha sido verificada no primeiro trimestre deste ano. Já a variação média anual dos preços das casas fixou-se em 10,4% no final de Junho, valor que representa um abrandamento em relação à variação média anual de 11,5% que era registada no primeiro trimestre, mas que, ainda assim, se mantém elevada, acima dos dois dígitos.

Para esta evolução contribuem tanto as casas novas como as existentes. No primeiro caso, os preços cresceram 8% no segundo trimestre, enquanto nas habitações já existentes o aumento foi de 9%.

Este movimento é, ainda assim, contrário ao do comportamento dos compradores. No conjunto de Abril a Junho deste ano, venderam-se 33.624 habitações, por um montante total de cerca de 6904 milhões de euros, números que correspondem a quebras de 22,9% e 16,7%, respectivamente, face a igual período do ano passado. Considerando todo o primeiro semestre deste ano, a tendência é idêntica: foram vendidas 68.117 casas, por 13,7 mil milhões de euros, números que representam quebras de 21,8% e 15,9% em relação ao primeiro semestre do ano passado. Para além disso, esta tendência já se prolonga há vários trimestres: no caso das vendas, desde o terceiro trimestre do ano passado que o número de transacções está a cair, enquanto o valor total transaccionado está a reduzir-se desde o último trimestre de 2022.

Tendo em conta o número de casas vendidas e o montante total transaccionado, o valor médio de cada casa fixou-se em cerca de 205 mil euros no segundo trimestre – é a primeira vez desde que esta série do INE foi iniciada, em 2009, que é ultrapassada a fasquia dos 200 mil euros de preço médio.

A contracção do mercado é, ao mesmo tempo, transversal a todo o território nacional, registando-se quebras no número de vendas e no valor total transaccionado em todas as regiões analisadas. Lisboa e Algarve, onde são praticados os preços mais elevados do país, registam também as maiores quebras.

Na Área Metropolitana de Lisboa, venderam-se 9696 casas durante o segundo trimestre, por um valor total superior a 2,9 mil milhões de euros, o que corresponde a quebras em torno de 27% e 15%, respectivamente. Mesmo assim, o preço médio das casas nesta região fixou-se em mais de 302 mil euros, um aumento de quase 16% em relação ao valor médio que era registado no ano passado e é a primeira vez que é ultrapassada a fasquia dos 300 mil euros de preço médio na Área Metropolitana de Lisboa.

Já no Algarve venderam-se 2946 casas por mais de 889 milhões de euros, números que representam quebras de 29% e 25%, respectivamente. O preço médio nesta região aumentou em quase 5% desde o ano passado, fixando-se em mais de 301 mil euros.

Estrangeiros continuam a pesar mais

A contribuir para o aumento de preços ininterrupto está a presença de estrangeiros no mercado imobiliário português, que, apesar de ainda pouco significativo quando comparado com os compradores nacionais, representa uma fatia cada vez maior do volume total de transacções.

No conjunto do primeiro semestre deste ano, os compradores com domicílio fiscal no estrangeiro foram responsáveis por pouco mais de cinco mil aquisições de casas em Portugal, o equivalente a cerca de 7,4% do total de transacções registadas nesse período. Contudo, desembolsaram mais de 1,7 mil milhões de euros por estas casas, o que corresponde a 12,7% do montante total transaccionado a nível global e reflecte o facto de os estrangeiros pagarem um preço médio significativamente mais elevado do que os nacionais pelas suas casas.

No final do segundo trimestre, o preço médio pago por estrangeiros por cada casa era superior a 347 mil euros, um valor que supera em mais de 82% aquele que era desembolsado pelos compradores nacionais, que se fixou em cerca de 190 mil euros. A diferença é ainda mais acentuada, se se considerarem apenas os compradores com domicílio fiscal fora da União Europeia: nesse caso, o preço médio pago por cada casa fixou-se em 399,6 mil euros.

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