Com o mundo a caminho de bater o recorde do ano mais quente da história, líderes mundiais, líderes empresariais, celebridades e activistas convergiram para o centro de Manhattan para a Semana do Clima e para a Cimeira de Acção Climática da ONU, centrando novamente a atenção do mundo na crise climática.
O encontro anual sobre o clima coincide com o início da Assembleia Geral das Nações Unidas, reunindo chefes de Estado e altos funcionários governamentais e líderes do sector privado para se concentrarem nas alterações climáticas num ano marcado por um número recorde de catástrofes de milhares de milhões de dólares, incluindo múltiplas inundações graves.
O evento principal terá lugar na quarta-feira, quando o secretário-geral da ONU, António Guterres, acolherá a sua própria Cimeira de Acção Climática, um evento de alto nível destinado a inverter o retrocesso nos objectivos do acordo climático de Paris e a incentivar os governos a adoptarem novas acções sérias para combater as alterações climáticas.
"Há dúvidas persistentes sobre se (...) podemos cumprir os nossos objectivos climáticos. Esperamos que esta cimeira possa ser usada como um momento para inspirar as pessoas", disse Selwin Hart, conselheiro especial do secretário-geral para o clima, numa entrevista.
Quem terá voz na cimeira?
Até segunda-feira, a ONU ainda não tinha anunciado quais os líderes mundiais ou funcionários que iriam receber um dos cobiçados lugares de orador na cimeira do clima. Mais de 100 países comunicaram a Guterres que querem falar, mas a equipa de Guterres tem vindo a seleccionar as candidaturas nos últimos dias, dando prioridade aos países que planeiam novas acções para fazer avançar os seus objectivos climáticos anteriores.
Hart afirmou que a atribuição de lugares de orador não se destina a envergonhar nenhum líder ou país, mas a mostrar que estes são os primeiros "que estão a fazer as coisas".
A reunião realiza-se 10 semanas antes da cimeira COP28, nos Emirados Árabes Unidos, e é um dos últimos encontros de alto nível com o objectivo de levar os países a apresentarem novas acções climáticas e planos de abandono dos combustíveis fósseis, depois de o G7, o G20 e a reunião dos países BRIC - Brasil, China, África do Sul, Índia e Rússia - não terem conseguido que os líderes concordassem em eliminar gradualmente os combustíveis fósseis.
A Aliança dos Pequenos Estados Insulares, que conta com cerca de 40 membros, vai utilizar a Semana do Clima como plataforma para apelar aos líderes dos países desenvolvidos para que tomem medidas mais firmes para acabar com a utilização de combustíveis fósseis e para que apoiem o aumento global das energias renováveis, como a energia eólica, geotérmica e solar.
"É desanimador testemunhar a falta de ambição no que verdadeiramente nos aflige - as emissões de combustíveis fósseis", afirmou a aliança das pequenas ilhas num comunicado. "Imploramos à comunidade internacional que utilize as plataformas da Assembleia Geral das Nações Unidas e da Semana do Clima de Nova Iorque para manifestar o seu apoio inequívoco aos pequenos Estados insulares em desenvolvimento", acrescentou, utilizando o acrónimo da Assembleia Geral das Nações Unidas.
A Semana do Clima tornou-se um ponto de convergência para os manifestantes que querem chamar a atenção para o que consideram ser a inacção dos governos e o "greenwashing" da indústria - empresas que anunciam acções amigas do ambiente enquanto continuam a poluir - no meio de sessões organizadas para impressionar e discursos de alto nível.
Cerca de 75 mil activistas marcharam pelo centro de Manhattan no domingo, apelando ao fim dos combustíveis fósseis, enquanto centenas de manifestantes planearam uma acção perturbadora perto de Wall Street na segunda-feira para exigir o fim do financiamento dos combustíveis fósseis.
"Já chega de falsas promessas, de lavagem verde e de meias medidas. Os países têm de cumprir as suas promessas, apresentando na Cimeira planos claros para acabar imediatamente com a expansão do petróleo e do gás e políticas para uma eliminação rápida e justa de todos os combustíveis fósseis", afirmou Romain Ioualalen, director da diplomacia global da Oil Change International, uma organização não-governamental (ONG) que se dedica à eliminação progressiva da produção de combustíveis fósseis.
Entretanto, em vários átrios de hotéis e outros locais em Manhattan, cerca de 2600 pessoas inscreveram-se para participar pessoalmente nos eventos da Semana do Clima, que contam com mais de 200 oradores do sector privado, governos e organizações não-governamentais (ONG).