Nova petição pede que estátua de Camilo no Porto fique onde está
Rui Moreira concordou com 37 “ilustres cidadãos” que pediram a remoção da estátua do Largo Amor de Perdição, no Porto, mas a decisão gerou controvérsia. Nova petição recusa “apagar a história”.
Remover ou não remover? A escultura de Camilo Castelo Branco junto à Cadeia da Relação, no Porto, está a dividir opiniões. Depois de divulgada a petição em que 37 signatários apelaram ao executivo de Rui Moreira para que removesse a obra da autoria de Francisco Simões, alegando questões de gosto estético e de moral, foi escrita uma nova carta, desta vez com a exigência de que a estátua permaneça no mesmo local, já assinada por milhares de pessoas.
A petição publicada esta quinta-feira, com o título "Pela não remoção da estátua de Camilo" e sem autor identificado, contesta os argumentos das "pessoas importantes" — vários artistas, curadores, advogados e políticos — que pediram à Câmara do Porto o "favor higiénico de mandar desentulhar aquele belo largo [Largo Amor de Perdição] de tão lamentável peça".
"Há 11 anos que existe uma estátua de Camilo Castelo Branco, vestido, abraçado, nada pornograficamente, a uma jovem rapariga nua. (...) Ao fim destes 11 anos, a estátua vai ter de ser removida, face a uma petição nesse sentido assinada por 37 pessoas importantes", lê-se na carta, que num dia reuniu 6031 assinaturas. O texto refere ainda a ideia de que a escultura representa, alegadamente, o amor entre Ana Plácido e Camilo, que estiveram um ano detidos na Cadeia da Relação, acusados do crime de adultério.
Em resposta à associação da estátua à história de amor entre os dois escritores, já descrita na petição anterior, pela remoção da obra, o escultor Francisco Simões explicou ao PÚBLICO que "aquela mulher é simbólica — representa a mulher na obra do Camilo, no Amor de Perdição. Não é, nunca quis ser, um retrato de Ana Plácido".
Perante esse pedido de remoção, Rui Moreira tinha encaminhado esta terça-feira o assunto para o vereador do urbanismo da cidade, com a nota: "Não tendo havido qualquer deliberação municipal para erigir tão deselegante obra [na época era Rui Rio o presidente da autarquia], e concordando com o que tão ilustres cidadãos nos suscitam, solicito que se proceda à remoção daquele objecto."
A carta que exige agora à autarquia um recuo nessa decisão recusa "vontades de começar a remover ou esconder" esta e outras estátuas, dizendo que há factos com história que não podem, nem devem, ser apagados.
"Quem teve a ideia desta petição nada de importante é, foi, será, mas tem o direito cívico" de a escrever e assinar, indicam os mais de 6000 subscritores, fazendo notar a especial importância dada ao pedido de remoção feito por "tão ilustres cidadãos", como foram descritos pelo presidente da Câmara Municipal do Porto.
Texto actualizado com nova contabilidade de assinaturas