Estes investigadores portugueses imprimiram o primeiro filete de robalo em 3D. Pronto para provar?

A textura é semelhante à de um robalo de mar. Só este que ainda não está pronto a ser consumido — só em 2026. Até lá, testa-se o mesmo processo com células da cavala.

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Filete de robalo com cor DR
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Os hambúrgueres, bifes e filetes de peixe produzidos em laboratório, através de impressão 3D, já são produzidos em vários países — mas se achas que isso é coisa que só acontece lá fora, estás enganado. Portugal está na corrida para ser um dos pioneiros da indústria da agricultura celular e a aposta está no robalo. Diana Marques lançou-se à descoberta de novas criações alimentares no laboratório do Instituto de Bioengenharia e Biociências (iBB), em Lisboa, para um projecto de uma das cadeiras do mestrado que completou em 2021, mas nunca pensou que a ideia chegasse tão longe.

“Era suposto os alunos criarem uma ideia inovadora e disruptiva que pudesse, de certa maneira, mudar a sociedade”, recorda ao P3. Pensou imediatamente em comida e quis saber como é que países como os Estados Unidos ou os Países Baixos, que já aplicam a técnica, fizeram carne de laboratório. No final, escolheu trabalhar com peixe, neste caso, robalo, mas não por gostar particularmente do sabor — na verdade, Diana é vegetariana. Os investigadores Carlos Rodrigues e Frederico Ferreira juntaram-se ao projecto que recebeu o nome de Algae2fish.

O primeiro protótipo do filete foi impresso este ano, mas ainda faltam alguns testes até que possa ser incluído num menu de degustação. Segundo Frederico, em termos de textura, este robalo que sai da impressora não é muito diferente do peixe de mar. É suficientemente duro para ser partido com uma faca e a cor pode ser ajustada consoante as preferências do consumidor. A única diferença é mesmo a composição.

Neste caso, os investigadores usam células de gordura e músculo de robalo que vão dar sabor ao filete, em conjunto com uma "biotinta" comestível, feita a partir de algas e outros componentes, que vai depois criar os tecidos do peixe. A última etapa consiste em escolher a forma que o filete vai ter. “Podemos ter filetes de muitas texturas, com mais ou menos gordura, mais ou menos ómega 3, mais ou menos rijos”, adianta o professor e investigador.

O que falta para provarmos o filete?

Para que este novo produto chegue aos pratos dos consumidores, é preciso que a legislação portuguesa autorize que um painel de especialistas o prove.

Equipa da Algae2Fish DR
Protótipo de filete de robalo sem cor DR
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Equipa da Algae2Fish DR

Durante os próximos três anos, revela Frederico, os investigadores vão contar com o apoio de uma equipa de especialistas do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) “treinada para verificar a qualidade do peixe de aquacultura” e juntos chegarem à textura ideal que o filete de impressão deve ter. Se os testes correrem como esperado ​e a legislação portuguesa entretanto o permitir —​, o filete de robalo pode vir a ser provado até 2026. Pelo menos, é o que espera a equipa.

“O que interessa aqui é a criação de uma alternativa alimentar que permita corresponder aos desafios que a sociedade e o mundo nos vão fazendo nos dias que correm que é alimentar um número muito grande de pessoas sem destruir os recursos naturais essenciais para as alimentar. É essa a nossa motivação”, acrescenta Carlos.

A par da impressão do peixe, destaca o investigador, a equipa aliou-se à empresa Cell4Food, “a primeira em Portugal a trabalhar com comida cultivada”, fundou a CellAgri, associação portuguesa para o desenvolvimento da agricultura celular e dinamizou, no início deste mês de Setembro, uma conferência que juntou mais de 150 especialistas da área com diferentes pontos de vista sobre a importância que a comida de laboratório terá no futuro.

Criar uma startup não está fora dos planos da equipa, mas, por enquanto, os esforços estão concentrados em mostrar como é feito o produto e escrever artigos científicos para que o filete possa ser replicado por outras entidades.

Para quem não gosta de robalo, também há solução: Diana, Carlos e Frederico já estão a testar a bioimpressão de filetes de cavala. Na verdade, o processo pode ser utilizado com células de qualquer peixe e até utilizado para produzir produtos de carne.

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