Munições de urânio empobrecido: o que são e que perigos representam?

Os Estados Unidos incluíram munições de urânio empobrecido no seu último pacote de assistência à Ucrânia, anunciado na quarta-feira à noite. Moscovo fala em “desumanidade”.

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As munições de urânio empobrecido serão utilizadas pelos tanques M1 Abrams EPA/Marcin Bielecki
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Os Estados Unidos anunciaram na quarta-feira um novo pacote de assistência à Ucrânia que inclui munições de urânio empobrecido, a primeira vez que os norte-americanos enviam as controversas munições perfurantes para Kiev.

As munições de 120 milímetros destinam-se aos tanques norte-americanos M1 Abrams e integram a nova parcela de ajuda militar destinada à Ucrânia no valor de 175 milhões de dólares (163 milhões de euros), de um total de mais de mil milhões de dólares (932 milhões de euros). O pacote de ajuda militar inclui também sistemas antiblindagem, sistemas tácticos de navegação aérea e munições adicionais para os sistemas de rockets de alta mobilidade (HIMARS).

O que é o urânio empobrecido?

O urânio empobrecido é um subproduto do processo destinado à criação do urânio enriquecido, que é utilizado na produção de energia nuclear e no fabrico de armas nucleares. Embora seja menos potente do que o urânio enriquecido e incapaz de gerar a fissão nuclear, o urânio empobrecido é mais denso do que, por exemplo, o chumbo, permitindo assim atravessar o metal dos carros blindados.

“É tão denso e tem tanto impulso que continua a atravessar a blindagem, aquecendo-a ao ponto de se incendiar”, afirma Edward Geist, especialista em armas nucleares da RAND Corporation em declarações à Associated Press. Citado pela mesma agência, outro analista da RAND, Scott Boston, acrescenta que quando disparada, uma munição de urânio empobrecido torna-se “essencialmente num dardo de metal atípico disparado a uma velocidade extraordinariamente alta”.

As munições perfurantes com urânio empobrecido foram desenvolvidas pelos EUA durante a Guerra Fria, na década de 1970, com o objectivo de destruir os carros blindados soviéticos, incluindo os tanques T-72 que a Rússia utiliza actualmente na Ucrânia.

Que riscos representam as munições de urânio empobrecido para a saúde?

Embora as munições de urânio empobrecido não sejam consideradas armas nucleares, emitem ainda assim baixos níveis de radiação, que levaram a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) a recomendar cautela no seu manuseamento e a alertar para os possíveis perigos de exposição.

O manuseamento de munições que utilizem urânio empobrecido “deve ser reduzido ao mínimo e deve ser usado vestuário de protecção, nomeadamente luvas”, refere a AIEA, advertindo também para a necessidade de “uma campanha de informação pública para garantir que as pessoas evitem manusear os projécteis”.

“Isto deve fazer parte de qualquer avaliação de risco e essas precauções devem depender do âmbito e do número de munições utilizadas numa área”, acrescenta a agência das Nações Unidas.

A AIEA refere também que o urânio empobrecido é, principalmente, um produto químico tóxico, com baixo risco de radiação, mas as partículas libertadas em aerossóis podem ser inaladas ou ingeridas, podendo entrar na corrente sanguínea e causar danos nos rins.

Qual foi a reacção da Rússia ao anúncio norte-americano?

O Kremlin afirmou esta quinta-feira que os Estados Unidos terão de responder pelas “consequências muito tristes” da sua decisão de fornecer munições com urânio empobrecido à Ucrânia.

O porta-voz Dmitri Peskov disse que a utilização intensiva deste tipo de munições pela NATO no bombardeamento da Jugoslávia, em 1999, provocou um aumento dos casos de cancro e de outras doenças.

“Estas consequências são também sentidas pelas gerações seguintes de pessoas que, de alguma forma, entraram em contacto ou estiveram em zonas onde estas armas foram utilizadas”, disse Peskov aos jornalistas, afirmando que o mesmo irá acontecer agora na Ucrânia.

Antes das declarações de Peskov, a embaixada da Rússia em Washington considerara a decisão dos Estados Unidos de enviar para a Ucrânia munições com urânio empobrecido como um sinal claro da sua “desumanidade”.

“Washington, obcecado com a ideia de infligir uma ‘derrota estratégica’ à Rússia, está pronto para lutar não só até ao último ucraniano, mas também para acabar com as gerações futuras”, acrescentou a representação diplomática russa na capital norte-americana.

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