Idosos que optam por não se vacinar contra a gripe invocam desconfiança na vacina

Não é por desconhecer a recomendação que não se vacinam, mas por desconfiarem da vacina e não se considerarem vulneráveis a contrair gripe.

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Investigadores lembram que a vacinação antigripal constitui "a principal medida de saúde pública para a redução do número de infecções pelo vírus da gripe e respectivas complicações" Paulo Pimenta
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Os maiores de 65 anos que optaram por não ser vacinados contra a gripe na época 2020/2021 invocam como motivos desconfiarem da vacina e serem pouco susceptíveis à doença, segundo um estudo do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge.

Para os investigadores do Departamento de Epidemiologia do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), "estes resultados sugerem possíveis lacunas no conhecimento que a população tem acerca da vacina e da doença".

Os investigadores lembram que a vacinação antigripal sazonal (VAGS) constitui "a principal medida de saúde pública para a redução do número de infecções pelo vírus da gripe e respectivas complicações", sendo um dos grupos-alvo definidos com recomendação para a toma desta vacina a população com 65 e mais anos, para a qual a vacina é gratuita.

"Assim, é importante identificar os aspectos mais relevantes no comportamento de não adesão à toma desta vacina, para poder desenvolver campanhas de vacinação mais efectivas", sublinham no estudo publicado no Boletim Epidemiológico Observações, do INSA.

Nesse sentido, os investigadores desenvolveram o estudo, no âmbito do ECOS (Em casa observamos saúde), de análise aos motivos de não adesão à vacina antigripal sazonal na época 2020/2021 nas pessoas com 65 e mais anos, de acordo com as dimensões do Modelo de Crenças em Saúde (susceptibilidade, gravidade, barreiras, benefícios e pistas para a acção).

Os dados foram obtidos através de um inquérito telefónico a uma amostra aleatória de unidades de alojamento, estratificada por região NUT II com alocação homogénea. Os dados foram recolhidos através de um questionário estruturado via entrevista telefónica assistida por computador, entre Julho a Setembro de 2021.

As conclusões da investigação revelam que "os portugueses com 65 e mais anos que não aderem à VAG não pareceram fazê-lo por desconhecerem a recomendação, mas porque desconfiaram da vacina e não se consideraram vulneráveis a contrair gripe".

No estudo, estimou-se para população com 65 ou mais anos residente em Portugal em 2021 uma frequência de não adesão à vacinação contra a gripe de 33,8%, comparável com as estimativas obtidas na época 2013/2014 (31,3%).

As dimensões "barreiras" e "susceptibilidade" foram as mais invocadas para a opção de não tomar a vacina antigripal na população com 65 e mais anos, o que vai ao encontro de outros estudos em populações alvo para a vacinação, sobretudo pela importância da "susceptibilidade".

Observou-se também a importância da dimensão "barreiras", sobretudo a percepção de efeitos adversos que podem advir da toma da vacina, bem como a percepção e crenças sobre a própria doença, considerando-se esta população "pouco susceptível".

"Estes resultados sugerem possíveis lacunas no conhecimento que a população tem acerca da vacina e da doença, podendo as campanhas de vacinação potenciar a sua adesão se forem tomados em consideração os factores que são mais relevantes para a população na sua tomada de decisão", defendem os investigadores.