Supertufão Saola atinge Macau: “Passar por um tufão destes é uma experiência de vida”
Autoridades alertaram para ciclone de intensidade máxima e nível vermelho da subida das águas. Vento pode superar os 118km/hora. Casinos, escolas e parques de estacionamento foram encerrados.
As primeiras informações sobre o supertufão Saola eram relativamente animadoras. As autoridades de Macau não esperavam na quinta-feira de manhã que pudesse vir a atingir o nível do Hato que, em 2017, deixou um rasto de destruição e matou dez pessoas. Mas o optimismo inicial foi-se desvanecendo à medida que as horas passavam e os Serviços Meteorológicos e Geofísicos iam actualizando os seus alertas. E da China vieram previsões sombrias: o Saola podia mesmo ser o pior tufão desde 1949 a atingir a província de Guangdong, que rodeia Macau e Hong Kong.
A última actualização de ontem do Governo de Macau, feita já à 1h de sábado no território (18h de sexta em Portugal continental), fazia subir o alerta para o n.º 10 e máximo (Macau e Hong Kong usam escala de alertas de 1, 3, 8, 9 e 10 para classificar os ciclones tropicais), aviso vermelho de subida das águas (entre 1,5 e 2,5 metros) e a intensidade do vento de entre 10 e 12 na Escala de Beaufort, com rajadas que podiam superar os 118km/h.
O Governo da Região Administrativa Especial decretou na sexta-feira o encerramento dos casinos, escolas e parques de estacionamento subterrâneos nas zonas baixas, tendo sido cancelados mais de 200 voos no aeroporto internacional. À hora em que escrevemos, o Departamento de Saúde de Macau dava conta de dois feridos (em Hong Kong havia registos de 14 feridos). E já havia mais de 220 pessoas nos 17 centros de acolhimento de emergência abertos.
“Muita gente pensou que este tufão seria mais um da época e que havia algum exagero nas medidas tomadas”, conta Ana Bela Martins da Cruz, jornalista e professora de português que há alguns anos reside no território. Quando passou na sexta-feira pela cidade para comprar pão português, o que viu foi “que toda a cidade estava a tomar medidas de prevenção – lojas e supermercados com prateleiras vazias”.
As previsões alertam para que os efeitos do Saola se mantenham durante vários dias e ter a despensa em casa bem fornecida permite esperar que o vento e a chuva amainem para voltar à rua.
“Passar por um tufão destes é uma experiência de vida. Há o medo, alguma excitação e o mistério do tempo”, explica Ana Bela Martins da Cruz que, na altura que falava com o PÚBLICO, sentia o ruído do vento como se fosse “um comboio de alta velocidade a entrar desgovernado em casa”.
“A chuva não pára e o gemido do vento está dentro e fora da escada do prédio, as portas batem, é um pouco infernal”, acrescenta. “A minha varanda, exposta à intempérie, está a ser destruída – vasos, plantas, toldos, parafusos, cordas.”
A TDM, a televisão pública local, tanto na emissão em directo como no site, esforçou-se para manter os residentes e os turistas a par das condições climatéricas, actualizando toda a informação ao momento, assim que a recebia das autoridades.
A PSP passou o dia a controlar o fluxo de residentes e turistas para os táxis, “uma coisa preciosa, em Macau, porque estão sempre ocupados”, fruto do retomar dos fluxos turísticos pós-pandémicos. As fronteiras e a ponte Macau-Zhuhai-Hong Kong foram encerradas e os transportes terrestres e marítimos suspensos. O Consulado-geral de Portugal em Macau e Hong Kong anunciou também o encerramento temporário, até que o grau de alerta desça para o nível 3.
“Os tufões ainda representam um desafio e a previsão é essencial para o bem-estar das populações”, diz a jornalista e professora. “O erro paga-se caro em vidas, estruturas e reparações futuras” e, com os danos causados pelo Hato ainda na memória, uma situação em que os serviços meteorológicos falharam nas suas previsões com consequências mortais, o governo autónomo optou desta por pecar por excesso de zelo do que ao contrário.