Zelensky: F16 poderão começar a operar na Ucrânia já “no início de 2024”

As declarações foram dadas em entrevista à RTP, em que Zelensky falou sobre o envio de caças, a contra-ofensiva ucraniana, a fórmula de paz e os futuros diálogos com a NATO e a União Europeia.

Foto
Zelensky deu nesta terça-feira uma entrevista exclusiva à RTP EPA/OLEG PETRASYUK
Ouça este artigo
00:00
04:54

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

O Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, disse nesta terça-feira, 29 de Agosto, em entrevista à RTP, que os caças F-16 deverão começar a operar no espaço aéreo ucraniano já “no início do próximo ano”, reiterando a importância destes caças para defender o próprio território ucraniano, não para a contra-ofensiva.

“O processo já começou” e isso é o mais importante, considera Zelensky, embora reconheça que tenha sido “um pouco mais tarde” do que o desejado. “Ter caças modernos no nosso céu para providenciar segurança para os civis, em primeiro lugar. É muito importante e já falei sobre isso para o corredor de cereais, para que este fique protegido.”

Durante a entrevista, o chefe de Estado ucraniano aproveitou para agradecer, mais uma vez, o envio de caças por parte dos países, como os EUA, uma vez que acredita que terão “um impacto poderoso na motivação da Rússia”: “[Os soldados russos] não sabem por que razão combatem na Ucrânia.”

Em relação aos avanços que se têm verificado na região de Zaporijjia, Zelensky refere que, embora a Rússia tenha vindo a aumentar “diariamente a sua presença ”, as forças ucranianas estão a avançar. “Aos poucos, mas a avançar. Porque estamos na nossa terra. E isso é a motivação maior”, sublinha, acrescentando que “a motivação das forças ucranianas é maior do que a das forças russas”.

Questionado sobre quando poderá o conflito terminar, o Presidente ucraniano acredita que “pode terminar ainda este ano”, dependendo de algumas condicionantes, entre as quais a evolução da contra-ofensiva ucraniana, se a Ucrânia conseguir pressionar a Federação Russa e destruir o seu espírito e se os estados permanecerão ao lado de Kiev. No entanto, Zelensky mostrou-se preocupado com a aproximação do Inverno, uma vez que os avanços russos podem tomar um rumo diferente daquele que se tem verificado.

“Os blackouts que eles [os russos] levaram a cabo no Inverno já não são uma questão de guerra, mas sim de terrorismo. Quando destruíram o nosso sistema analítico, quando não se conseguiam fazer cirurgias às crianças nos hospitais, as pessoas morreram. Quem perdoa isso? Foi puro genocídio. O Inverno está cada vez mais perto e a Rússia pode voltar fazer o mesmo”, explica.

Ucrânia não pretende desistir das reivindicações

Apesar de não saber o que vai acontecer no futuro, Zelensky reiterou a posição da Ucrânia, dizendo que “o fim da guerra está previsto após o cumprimento de todos os parágrafos” da fórmula de paz apresentada por Kiev.

O Presidente ucraniano criticou ainda as declarações do homólogo brasileiro, Lula da Silva, sobre a proposta da Ucrânia para alcançar a paz. “O Presidente Lula deve perceber claramente que a guerra é na Ucrânia” e que “as vítimas são concretamente os ucranianos”, afirmou.

Zelensky diz que a proposta de paz ucraniana não se trata de uma fórmula unilateral, “é uma fórmula do país que sofre” com o conflito: “É necessário perceber quem é a vítima e quem é o agressor.”

Durante a entrevista à RTP, Zelensky avisou que se as propostas do Brasil implicam a “cedência de alguma parte do território [ucraniano]”, tal não será coerente com a opinião do povo ucraniano, tal como “não é compatível com o respeito da integridade territorial e soberania [da Ucrânia]”.

Por outro lado, agradeceu o apoio de Portugal do ponto de vista militar, político e humanitário e elogiou o Presidente da República português pelo esforço para falar em ucraniano na cerimónia do Dia da Independência da Ucrânia, que se celebrou no dia 24 de Agosto. O Presidente ucraniano disse que a atitude de Marcelo Rebelo de Sousa “significa respeito pela Ucrânia”. Zelensky disse ainda ter gostado do chefe de Estado português, descrevendo-o como “uma pessoa com muito carisma”. “Ele sente a voz do povo, não só do seu povo, tal como sentimos e vimos, mas também do nosso povo.”

O Presidente da Ucrânia mencionou ainda que pediu ao Presidente da República português, que se deslocou à Ucrânia entre os dias 22 e 25 de Agosto, ajuda para reforçar as relações da Ucrânia com a América Latina e o continente africano. “Quero muito que o Brasil esteja integralmente do nosso lado. Por vezes, ouvimos algumas contradições, mensagens e, ao ouvi-las, eu colocaria um ponto de interrogação. Quero, pelo contrário, pôr um ponto para confirmar que o Brasil esteve integralmente ao nosso lado”, explica. Zelensky acredita que o reforço das relações entre a Ucrânia e estas duas regiões poderá ajudar Kiev a aproximar-se ao máximo da paz.

Zelensky acredita que há uma grande probabilidade de o diálogo sobre o futuro da Ucrânia com a comunidade europeia acontecer “ainda este ano”. “​A decisão pode ser tomada até ao final do ano. A partir do próximo, já começaremos este processo e tudo depende da boa vontade ou da boa vontade política dos parceiros europeus e das nossas possibilidades.” Já o convite para a Ucrânia se tornar membro da NATO poderá acontecer “ainda antes do fim da guerra”.

Questionado sobre se se voltaria a candidatar a Presidente da Ucrânia, respondeu: “Se a guerra continuar e se as eleições acontecerem, nunca na minha vida deixarei o meu país. Porque eu sou o garante da Constituição e defendo-a.” As eleições estão agendadas para 2024.

Sugerir correcção
Comentar