Director do Museu Britânico vai deixar o cargo, depois do roubo de mais de 1500 peças
Hartwig Fischer cessará funções mal a instituição arranje uma liderança interina capaz de assumir a pasta até ser nomeado novo director.
Hartwig Fischer vai deixar a direcção do Museu Britânico, avançou a BBC esta sexta-feira. A causa directa é o recentemente divulgado roubo de “mais de 1500 objectos” valiosos pertencentes à colecção da instituição, segundo contas do diário Telegraph, incluindo vidros, jóias em ouro e pedras semipreciosas.
Será a segunda baixa na equipa desde que o extravio de peças do acervo deste que é um dos mais importantes museus do mundo foi noticiado. Há uma semana, o Museu Britânico despediu um dos seus funcionários por suspeita de roubo. Não divulgou o nome da pessoa em questão, mas a imprensa britânica escreve que o afastamento do curador-sénior Peter Higgs já terá sido confirmado pelo seu filho. Acredita-se que deverá ser o principal responsável por uma operação que terá sido levada a cabo durante vários anos. As autoridades britânicas estão a investigar o caso; a família de Higgs nega qualquer envolvimento no roubo.
O Museu Britânico recebera denúncias dando conta desta prática no início de 2021. No comunicado emitido esta sexta-feira, Hartwig Fischer, que foi acusado de negligência e incompetência por não ter agido perante os relatos que chegaram à cúpula da instituição, escreveu: “É evidente que o Museu Britânico não respondeu como deveria aos avisos de 2021 e ao problema que agora emergiu plenamente. A responsabilidade por essa falha deve recair sobre o director.”
Fischer vai deixar o cargo mal a administração arranje uma liderança interina capaz de assumir as suas funções até ser nomeado um novo director. “A situação que o museu enfrenta é da maior gravidade. Acredito sinceramente que a instituição ultrapassará este momento, mas infelizmente cheguei à conclusão de que a minha presença está a revelar-se uma distracção”, afirmou.
O presidente do Museu Britânico aceitou o pedido de demissão de Hartwig Fischer. George Osborne considerou que o director cessante agiu “honrosamente ao confrontar os erros que foram cometidos”. “Ninguém jamais duvidou da sua integridade, da sua dedicação ao seu trabalho ou do seu amor pelo museu”, acrescentou, deixando ainda a promessa de que a instituição vai “aprender” com este caso de modo a “merecer ser admirada novamente”.
Fischer disse-se ainda “sinceramente arrependido” dos comentários que fez no início da semana a respeito de Ittai Gradel, autor das denúncias de 2021. Este comerciante de arte contactou o Museu Britânico após ter constatado que três itens pertencentes à sua colecção haviam sido colocados à venda no eBay. A instituição abriu uma investigação interna; meses depois, o director-adjunto Jonathan Williams escreveu um e-mail a Gradel dizendo que todos os objectos em questão haviam sido todos localizados, “sem nenhum indício de qualquer irregularidade por parte de qualquer membro da equipa do museu”.
Após ter ficado a suspeitar do possível ladrão, Gradel devolveu à instituição itens que havia comprado no eBay e que julgava poderem ter sido, também eles, roubados. Na mesma altura, forneceu ao museu (e à polícia) informações sobre os compradores de dez outras peças suspeitas que havia adquirido anos antes por valores modestos e depois conseguira vender a preços bem maiores.
Na quarta-feira, Hartwig Fischer afirmou que, por ocasião das denúncias de 2021, haviam sido levantadas preocupações “apenas sobre um pequeno número de itens”, tendo a investigação interna do Museu Britânico concluído que todos haviam sido localizados. “Agora temos razões para acreditar que o indivíduo que levantou as preocupações tinha muitos mais itens na sua posse, e é frustrante que isso não nos tenha sido revelado, pois teria ajudado as nossas investigações”, disse Fischer. Gradel descreveu como "uma mentira descarada" a acusação de que terá ocultado informação do Museu Britânico.
Fontes anónimas ouvidas pelo Telegraph dizem que as peças desaparecidas ou destruídas podem chegar às duas mil.