O que gostavas que te tivessem dito antes de entrares na universidade? Cinco estudantes respondem

António Soares não sabia que podia trocar de curso durante o primeiro semestre. Marta Costa nunca imaginou que o curso de Design também tinha matemática. Foram percalços, mas tudo se fez.

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O que gostavas que te tivessem dito antes de entrares na universidade? Tim Gouw/Unsplash
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O novo ano lectivo está começar e, para a maioria dos 59.364 alunos que se candidataram à primeira fase do ensino superior, é uma estreia. O nervosismo começa com os resultados das colocações e, provavelmente, só termina no final do primeiro mês de aulas (ou então no fim do curso, mas não sejamos pessimistas).

Falámos com estudantes que estão a sobreviver à licenciatura e outros que gostaram tanto da experiência que decidiram avançar para o mestrado. Dissseram-lhes que a universidade ia ser difícil nos primeiros tempos e que nada tinha a ver com o secundário. Spoiler alert: é mentira.

Também lhes disseram que eram os melhores anos da vida deles — e isto já não contrariam. No entanto, há coisas gostavam de ter sabido antes de entrarem. E como já sabem como tudo funciona, deixam-te algumas dicas.

“Que podia trocar de universidade mais cedo”

No momento de escolher o curso que queria, António Soares já estava decidido: queria tirar uma licenciatura em Geografia na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), mas nem tudo correu como esperava. O curso era o certo, mas acabou colocado uns quilómetros mais acima no mapa, na Universidade do Minho.

“Decidi arriscar”, conta em entrevista ao P3, acrescentando que não tardou muito até se ter arrependido. A experiência “não foi a melhor” e a adaptação à nova vida de estudante muito menos. António tinha poucos amigos e o curso, mais direccionado para a área de planeamento urbano, não estava a corresponder às expectativas que tinha de um dia vir a ser professor de ensino básico e secundário.

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António Soares trocou de faculdade no 2.º ano do curso de Geografia António Soares

“Gostava que me tivesse dito que podia trocar de universidade mais cedo. Se calhar não teria feito o ano todo no Minho e teria tentado uma segunda e terceira fase no Porto. Preferia ter feito um ano de pausa do que continuar num curso onde não estava bem nem contente”, afirma o estudante de 21 anos.

Ainda assim, reconhece que o erro fez parte do percurso e afirma que lhe deu ainda mais vontade de voltar a concorrer à FLUP no ano seguinte. E agora que já terminou a licenciatura nesta universidade, segue-se o mestrado em ensino.

“Que a matemática não tinha acabado no secundário”

Marta Costa, 22 anos, sabia que queria seguir Design industrial no Instituto Politécnico do Cávado e do Ave (IPCA), em Braga, mas foi surpreendida com algumas cadeiras. “Tive alguns obstáculos pela frente e pensei mesmo que não ia passar por eles. Gostava que me tivessem dito que a matemática e a geometria não tinham acabado no secundário.”

Depois do susto, foi-se habituando à ideia e até conseguiu boas notas. “Nunca me arrependi, mas tinha muitas dúvidas porque as pessoas à minha volta também as criaram”, acrescenta.

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Marta Costa estudou Design Industrial e trabalhou ao mesmo tempo Marta Costa

Para a designer, que terminou a licenciatura este ano, o segredo para conseguir boas notas (e não entrar em pânico quando tinha que entregar três trabalhos na mesma semana) é trabalhar enquanto se estuda. Além de conseguir gerir melhor o tempo, conseguiu fazer currículo e um estágio numa empresa de mobiliário que vai conciliar com o mestrado.

“Que o curso não se faz no recurso”

Leonor Moura, 22 anos, já terminou a licenciatura em Ciências da Comunicação na Universidade Nova de Lisboa, mas ainda se recorda da primeira lição que aprendeu: tomar as suas próprias decisões em relação aos materiais de estudo em vez de seguir as escolhas dos colegas de turma. “Temos que seguir o nosso instinto porque não há certos nem errados na forma de estudar. Temos que ser nós a escolher aquilo que queremos e não ir atrás dos outros”, destaca.

Também foi enquanto estudava que aprendeu o mais importante na vida de universitário. Ao contrário do que ouvia, “as notas são importantes, o curso não se faz no recurso e o 9,5 não chega” para quem quer fazer Erasmus, ter vaga em determinadas cadeiras ou fazer mestrado, como é o caso da estudante.

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Leonor Moura é licenciada em Comunicação Leonor Moura

“Que a universidade é a continuação do secundário”

Para Sofia Garrido, 19 anos, o receio de começar a vida universitária podia nem ter existido se lhe tivessem dito que, afinal, a universidade não é tão diferente do secundário. “Pensei que ia encontrar pessoas mais maduras e adultas, mas, na realidade, a universidade é a continuação do secundário. Não é num Verão que as pessoas vão mudar e não senti muita diferença”, conta a estudante do 2.º ano de Ciências da Comunicação no ISMAI.

Sobre as aulas também não há muito a dizer — a velha história de os professores serem mais distantes dos alunos não acontece em todo o lado. “Disseram-me que os alunos eram números e que não íamos ter tanto acompanhamento, mas comigo não é assim. A universidade não é nenhum bicho-de-sete-cabeças.”

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Sofia Garrido está no 2.º ano do curso de Ciências da Comunicação Sofia Garrido

“Para não me focar só no curso e ter outras actividades”

Tomás Ferreira, aluno do 5.º ano de Medicina na Universidade de Coimbra, começa por dizer que nunca pensou muito sobre a vida académica nem no primeiro dia de aulas que, recorda, "foi o pior". Estava mentalizado que ia deixar a casa dos pais em Viana do Castelo para viver sozinho noutra cidade, mas como não conhecia ninguém, a adaptação ainda demorou.

“Viver sozinho é um choque inicial, mas é uma liberdade totalmente diferente. No primeiro dia conheci as pessoas na praxe e, ao fim de um ou dois meses comecei a ambientar-me”, recorda o estudante de 22 anos.

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Tomás Ferreira frequenta o 5.º ano de Medicina Tomás Ferreira

Apesar de estudar Medicina, diz que "o curso não é tudo" e aconselha todos os alunos a procurar experiências fora da licenciatura, como o associativismo, algo que o começou a cativar no ano lectivo passado. “Gostava que me tivessem dito para não me focar só no curso e ter outras actividades extracurriculares. São coisas importantes e às vezes nem sabemos da existência desses projectos. Só agora é que começo a entrar mais nisto”, afirma.

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