Ao lado de Zelensky, Marcelo ouviu as sirenes de alarme: “Não há razão para ter medo”

O Presidente da República e o ministro dos Negócios Estrangeiros disseram que Portugal podia apoiar nas investigações de um eventual crime de guerra ocorrido em Bucha.

Fotogaleria
Marcelo Rebelo de Sousa foi a Bucha evocar e homenagear as vítimas do massacre LUSA/ANTONIO PEDRO SANTOS
guerra-ucrania,joao-gomes-cravinho,guerra,marcelo-rebelo-sousa,politica,ucrania,
Fotogaleria
Presidente da República e ministro dos Negócios Estrangeiros na igreja de Santo André, em cujo adro foi encontrada uma vala comum com 190 corpos EPA/ANTONIO PEDRO SANTOS
guerra-ucrania,joao-gomes-cravinho,guerra,marcelo-rebelo-sousa,politica,ucrania,
Fotogaleria
Marcelo recorda o massacre de Bucha no local EPA/ANTONIO PEDRO SANTOS
guerra-ucrania,joao-gomes-cravinho,guerra,marcelo-rebelo-sousa,politica,ucrania,
Fotogaleria
Presidente da República numa trincheira em Moschun, Ucrânia LUSA/ANTONIO PEDRO SANTOS
guerra-ucrania,joao-gomes-cravinho,guerra,marcelo-rebelo-sousa,politica,ucrania,
Fotogaleria
Marcelo Rebelo de Sousa está na Ucrânia até amanhã LUSA/ANTONIO PEDRO SANTOS

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, visitou esta terça-feira de manhã as cidades de Bucha, Moshchun, Horenka, Irpin e Kiev. Em Bucha visitou uma igreja onde havia valas comuns, em Moshchun tornou-se no primeiro chefe de Estado a entrar numa trincheira nesta cidade e em Irpin viu uma ponte destruída pelos próprios ucranianos para travar a ofensiva russa. Em Kiev, prestou uma homenagem às vítimas da guerra e, à tarde, interveio na "Plataforma Crimeia" e pediu à Rússia que saísse de todo o território ucraniano, Crimeia incluída.

Durante a cimeira, quando o chefe de Estado português se encontrava na mesma sala que o seu homólogo, soaram as sirenes de alerta para ataque de mísseis. Em declarações aos jornalistas, transmitidas pela CNN, Marcelo negou ter sentido medo. "Não, não há razão para ter medo. Tem havido uma capacidade de cobertura integral por parte da Ucrânia. É mais a preocupação dos seguranças sobre o local exacto onde estão a cair os destroços dos mísseis", afirmou, apesar de reconhecer ter vivido uma situação inédita.

Em Bucha, durante a manhã, o Presidente visitou a igreja de Santo André, em cujo adro foi encontrada uma vala comum com 190 corpos. Acompanhado pelo procurador-geral da Ucrânia, Andriy Kostin, Rebelo de Sousa assistiu a uma cerimónia para homenagear as vítimas e visitou uma exposição, no interior da igreja, que documenta a descoberta dos corpos.

Nesta visita, o Presidente da República e o ministro dos Negócios Estrangeiros disseram que Portugal podia apoiar nas investigações de um eventual crime de guerra ocorrido em Bucha.

O processo “envolve muitos países e Portugal tem de estar envolvido”, considerou o chefe de Estado, adicionando que “não há precedentes com sucesso rápido”. "Podemos fazer isso, podemos apoiar nas investigações", acrescentou depois João Gomes Cravinho, ministro dos Negócios Estrangeiros, perante o apelo do procurador-geral ucraniano.

Um mês depois de perderem a cidade de Bucha para as forças russas, os ucranianos recuperaram-na e descobriram os horrores causados pelas tropas do país invasor. Nas palavras de Marcelo, o que aconteceu em Bucha "foi muito forte, muito chocante, muito desumano", acrescentado que "aquele choque inicial, passado este tempo, todo não perdeu força". Um "terrível ataque à vida e à dignidade humana", completou.

Depois de visitar Bucha, o chefe de Estado seguiu para Moshchun, onde entrou numa trincheira, passou pela cidade de Horenka, falou com uma ucraniana e depois seguiu para Irpin, onde visitou os destroços de uma ponte abatida pelos próprios ucranianos no início da guerra, antes de regressar a Kiev.

PÚBLICO -
Aumentar

Marcelo, o primeiro chefe de Estado a entrar numa trincheira

Em Moshchun, aldeia às portas de Kiev que muito sofreu durante o primeiro mês de guerra, o chefe de Estado irrompe por uma trincheira adentro, gerando nervosismo na comitiva.

"Isto nunca tinha acontecido! É o primeiro que faz isto", comentou, citada pela Lusa, Lesya Arkadievna, a vice-governadora para a região de Kiev, ao ver o sucedido.

Ao entrar na trincheira, por onde caminhou agachado, o Presidente escorregou — mas nem isso o demoveu de por lá continuar.​

"Já vim cá com vários presidentes e ministros e nenhum fez isto", referiu Lesya Arkadievna. Populares e restante comitiva observavam o momento com espanto. Saído da trincheira, comentou o Presidente que esta o lembrava daquelas da "primeira Grande Guerra".

Horenka é a paragem seguinte. Lá chegado, visita obras de Banksy num edifício destruído. Segundo o Observador, depois de ter pedido autorização ao presidente da autarquia, Marcelo recolhe do chão uma revista russa e oferece-a a Pacheco Pereira, historiador e fundador do Arquivo Ephemera, que está a acompanhar a visita.

De caras com a destruição, disse o Presidente que é “sempre diferente ver as imagens” e ver ao vivo os locais dos combates.

Foto

Após visitar uma zona residencial destruída pela guerra, entra em diálogo com Dina, uma senhora ucraniana que o esperava à porta de um edifício. Perguntou-lhe se se sentia segura, ao que Dina respondeu esperar que "tudo" já tenha "passado". Despediu-se com dois beijinhos, não sem antes lhe desejar "paz" e "longa vida". Segue-se Irpin.

90% da população voltou a Irpin

Em Irpin, cidade "heróica" (um estatuto conferido pelo presidente Zelensky), Marcelo começou por visitar uma ponte destruída pelos próprios ucranianos de forma a travar a invasão russa em direcção a Kiev.

As autoridades locais vão-lhe mostrando, no telemóvel, vídeos da reconstrução da cidade e, segundo o Observador, surpreende-se quando sabe a percentagem de população ucraniana que regressou à cidade: 90%. Recordou, ainda, que a "luta travada" nesse local foi "essencial" para proteger Kiev da ofensiva russa.

Em declarações citadas pelo mesmo jornal, diz ter a “sensação de que, se o sentimento de orgulho nacional ucraniano já era forte, a invasão tornou-o muito mais forte”, reconhecendo "confiança" nas pessoas com que se cruza. “A vida está a normalizar-se: há uma esperança e confiança no futuro. Os grandes heróis são os ucranianos", acrescenta, notando que a “comunidade internacional percebeu rapidamente que é uma luta justa”.

A CNN Portugal entretanto faz uma curta entrevista a Pacheco Pereira, que acompanha a comitiva. Diz o historiador que a normalização das imagens de guerra não é positiva.

Foto

Após Irpin, Marcelo prestou homenagem às vítimas da guerra, no muro da memória dos caídos pela Ucrânia. Depositou uma coroa de flores com fitas das cores de Portugal, onde, segundo o Expresso, está escrita a homenagem do país a estes homens e mulheres. Conversou depois com o coronel-general Serhii Popko, comandante da administração militar da cidade de Kiev. Não houve declarações aos jornalistas e seguiu para o almoço.

Findo o almoço, Marcelo visita o museu nacional da história da Ucrânia na II Guerra Mundial, em Kiev, e a exposição “Ucrânia — Crucificação”.

Marcelo pede a Moscovo para retirar

Durante a tarde, o Presidente da República participou na cimeira "Plataforma Crimeia", em Kiev. Na sua intervenção, deixou claro que esta guerra é indissociável da invasão da Crimeia pela Rússia em 2014 e exortou Moscovo a parar a invasão: "Queremos que a Rússia retire imediatamente as suas tropas de todo o território ucraniano​​", disse, citado pelo Observador.

Sobre a Crimeia, disse o chefe de Estado português que qualquer discussão sobre o futuro da Ucrânia que exclua essa questão é "um ruído" disfarçado de apoio à população do país invadido.

​"Não é possível separar a questão da Crimeia da invasão total do território da Ucrânia. Qualquer tentativa, subjectiva ou objectiva, de separar as duas questões representa não uma ajuda, não um apoio à população ucraniana, mas um ruído que é desnecessário", afirmou.

Marcelo insistiu, notando que todos os intervenientes se devem lembrar de que o objectivo é "a recuperação da integridade territorial" da Ucrânia, reforçando a posição portuguesa: "A nossa fronteira é a fronteira da Ucrânia." E ainda apontou três pontos para uma "paz longa e duradoura" na Europa.

​"Não se pode separar assuntos que não podem ser separados; nunca podemos esquecer que as pessoas são a razão da nossa luta comum pela integridade territorial, soberania, democracia e liberdade; não podemos esquecer que não há liberdade e democracia sem coesão social, sem crescimento. E desenvolvimento quer dizer justiça social, até para a Crimeia", disse.

​Pouco antes da intervenção do chefe de Estado português, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Dmytro Kuleba, considerou que a visita de dois dias de Marcelo Rebelo de Sousa "é histórica".

Numa visita paralela à do Presidente da República, dois deputados portugueses, Miguel dos Santos Rodrigues (PS) e Cristiana Ferreira (PSD), iniciaram esta quarta-feira uma deslocação de dois dias à Ucrânia. A visita decorre no âmbito da plataforma "United for Ukraine", por ocasião do dia da independência daquele país, e tem como objectivo analisar a evolução das operações militares e o fornecimento de equipamento militar às forças ucranianas, de acordo com uma nota enviada à Lusa. com Sofia Rodrigues