Homens que acusam Michael Jackson de violação podem finalmente ir a tribunal
Wade Robson e James Safechuck tentam desde 2013 processar as empresas que geriam a carreira do cantor por não os protegerem, quando eram crianças, de alegados crimes sexuais.
Os processos de Wade Robson e James Safechuck, que acusam Michael Jackson de abuso sexual quando eram menores, contra as empresas responsáveis pela gestão de carreira do “rei da pop” ganharam novo fôlego na sexta-feira. Depois de dois juízes terem decidido que os casos nem iriam a julgamento, uma decisão em segunda instância validou os pedidos de recurso dos dois homens conhecidos desde que protagonizaram o documentário Leaving Neverland.
De acordo com a imprensa norte-americana, o tribunal do Segundo Distrito de Los Angeles comutou a decisão de um juiz de outro tribunal da mesma cidade que deitava por terra a argumentação de que as empresas MJJ Productions e a MJJ Ventures deveriam ter garantido a segurança dos dois queixosos. Graças a esta decisão, Robson e Safechuck poderão dar continuidade aos processos cíveis em que argumentam que as empresas têm responsabilidade legal pelo que alegam ter sucedido quando eram crianças.
As acusações dos dois homens têm anos, mas foi em 2019, quando a HBO estreou Leaving Neverland, que as quatro horas em que as suas vozes contam como terão vítimas de abuso sexual às mãos de Michael Jackson ao longo de anos, quando eram crianças, cristalizaram um momento: aquele em que, mais uma vez depois do julgamento de 2005 em que Jackson foi absolvido, o mundo era instado a repensar a sua relação com o músico.
Robson e Safechuck não viveram as suas alegadas violações em conjunto, mas em paralelo. Foram, dizem, sendo aliciados e convencidos pelo músico, que entretanto afastara as suas famílias com o consentimento das mesmas, até serem violados quando tinham sete e dez anos e alegam ter continuado a sofrer tais sevícias até ao início da sua adolescência. Jackson estava na altura na casa dos 30 anos.
Dada a morte de Jackson em 2009, os dois homens procuraram responsabilidades junto das empresas que gerem o seu legado e bens. Ambos viram os seus processos ficar pelo caminho, primeiro em 2013 e 14 e recusado em 2017 devido à prescrição dos alegados crimes, depois em 2021, apesar de uma mudança na lei californiana ter dado uma nova janela temporal às vítimas para processar em casos de abuso sexual. Mas a insistência nos recursos ressuscitou agora a possibilidade de os casos ainda irem a tribunal.
O tribunal defende agora que os argumentos das empresas — “não tinham capacidade de controlar Jackson nas suas interacções” com crianças — não são válidos e um juiz de Los Angeles vai agora ter de reavaliar as acusações. A decisão do tribunal de segunda instância foi unânime: os seus três juízes votaram a favor. “Os queixosos tinham todo o direito de esperar que os réus os protegessem do perigo totalmente previsível de serem deixados sozinhos com Jackson”, lê-se na decisão.
Wade Robson, coreógrafo australiano que trabalhou com Britney Spears, N’Sync e teve um programa na MTV, tem hoje 46 anos. Acusa Jackson de ter começado a atacá-lo sexualmente quando tinha sete anos e o visitou no famoso rancho do cantor, Neverland, em 1990.
James Safechuck tem 40 anos e conheceu Jackson aos dez anos nas filmagens de um anúncio para a Pepsi. Descreve que os contactos começavam por mostrar o que era masturbação e evoluíam para consumo de álcool, pornografia e sexo anal, e no seu caso até uma “cerimónia falsa de casamento” com anel a simbolizar a união.
Os responsáveis pelos bens e legado de Jackson, bem como a sua família, sempre negaram que o cantor de Billie Jean tivesse cometido tais crimes. Os processos de Robson e Safechuck incluem o testemunho de um homem que trabalhou no rancho e que confirma ter testemunhado “actividade suspeita” como encontrar roupa interior da criança junto à cama de Jackson ou ver o cantor tocar nos genitais de um dos queixosos, bem como que uma das directoras da MJJ Productions o tinha avisado para “nunca deixarem crianças sozinhas com Jackson”, como cita a revista Variety.
As duas empresas pertenciam totalmente a Jackson. Os advogados que representam os interesses do falecido cantor estão “desiludidos” com a decisão.