Juiz Carlos Alexandre pondera acusar Rui Pinto
O magistrado foi um dos alvos de Rui Pinto que, segundo a acusação do Ministério Público, conseguiu entrar no computador e email de serviço do juiz.
Depois de ter visto modificada a password de acesso ao seu computador e ao seu email de serviço, em 2018, o juiz Carlos Alexandre pondera deduzir acusação contra Rui Pinto, associando-se assim ao Ministério Público e a dezenas de magistrados, advogados e pessoas ligadas ao mundo do futebol que terão sido alvo da curiosidade do pirata informático.
Pelas declarações feitas pelo magistrado aos investigadores no ano seguinte, pode nem ter sido grande o prejuízo desta intrusão informática, uma vez que Carlos Alexandre não usa o computador de serviço para guardar peças processuais. No entanto, é através dele que o juiz mais famoso do país acede ao seu correio electrónico pessoal, onde armazena pastas com notícias relacionadas com as suas funções, acórdãos e outros documentos – ao contrário do que sucede com o email de serviço, que praticamente só usa para trocar correspondência não sigilosa. Na altura em que foi hackeado, o magistrado não se recorda de ter em mãos nenhum processo relacionado com futebol. Mas lidava com alguns dos casos judiciais mais importantes: a Operação Marquês e o universo BES.
Esta intrusão informática ocorreu a 7 de Janeiro de 2018, não se tendo Carlos Alexandre, tal como as restantes vítimas, apercebido de nada. Interrogado sobre se algum dia não conseguiu ligar o computador quando chegou ao serviço, o magistrado explicou que essa impossibilidade ocorreu mais de uma vez, sem conseguir situar temporalmente o problema. E explicou que quando tal acontece recorre a um escrivão ou a um técnico informático, que lhe reconfiguram a password.
Como é hábito no que diz respeito às vítimas dos criminosos, também Carlos Alexandre foi inquirido pelo Ministério Público sobre a sua intenção de instaurar procedimento criminal contra o putativo autor destes crimes. Na altura o magistrado respondeu que sim. E no mês passado insistiu, através da sua advogada, Fátima Esteves, em consultar o processo, ou pelo menos em obter cópia digital dele, para decidir se se constituía assistente no mesmo e se acompanhava a acusação do Departamento Central de Investigação e Acção Penal contra Rui Pinto – à semelhança do que já fizeram vários outros juízes e procuradores.
No requerimento que apresentou nesse sentido, Carlos Alexandre recordava mesmo que estava a correr o curto prazo que tinha para desencadear estes procedimentos sem que ainda lhe tivesse sido facultado acesso ao processo. O PÚBLICO tentou falar com o magistrado e com a sua representante legal, mas sem sucesso.