Silêncio, o teatro vai começar. Podem ligar o rádio?

O teatro radiofónico teve algumas décadas de glória, que sucumbiriam ao esquecimento não fosse alguém lembrar-se de as recordar em livro.

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O título desta crónica é um anacronismo, já se sabe. Mas experimentem imaginar-se numa sala de teatro, ao abrigo do calor, e antes de começar a peça, num repente, apagarem-se as luzes. Os actores entram em palco, imersos na escuridão, e começam a representar os respectivos papéis. Não nos é dado ver os seus rostos, nem os cenários, ouvimos-lhes apenas as vozes. E os ruídos que as acompanham: uma porta a bater, um copo que se estilhaça no chão, o apito de um vapor, um silvo de comboio, passos sobre pedras soltas. Imposta a penumbra, a imaginação terá de fazer o resto: inventar rostos para cada uma das vozes, imaginar-lhes os gestos, pressentir-lhes o passo seguinte, até ao desfecho da história que ali os uniu. Por estranho que pareça, e embora o teatro com actores à vista do público seja antiquíssimo, foi assim que milhares de famílias o “viram”, não vendo, através do chamado teatro radiofónico.

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