JMJ: A visita fugaz de Francisco para conhecer a nova “Capela Sistina” de Cascais

A deslocação foi breve e muitos só conseguiram vê-lo de relance, mas a ida inédita de um Papa a Cascais encheu as ruas da vila e mostrou uma obra de arte quilométrica.

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A sala principal da Scholas Occurrentes, pintada de cima a baixo Matilde Fieschi
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Pormenor da sala principal da Scholas Occurrentes, pem Cascais Matilde Fieschi
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O Papa Francisco atravessou Cascais de janela aberta e saudando a multidão Matilde Fieschi
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À espera do chefe da Igreja Católica estavam as autoridades municipais Matilde Fieschi
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Uma mulher inquieta-se: “Prepara o telemóvel! Prepara o telemóvel!” Mas é falso alarme. Ainda não é o Papa Francisco que lá vem.

Na Alameda dos Combatentes da Grande Guerra, a rua de restaurantes e lojas que dá acesso à Baía de Cascais, o espaço junto às grades vai-se preenchendo sobretudo com gente da terra. Noémia Chaves trouxe uma cadeirinha para aguentar a espera, apesar de não se prever longa. Conseguiu ver Francisco à chegada a Cascais, quis garantir que o via também à partida.

“Não tenho muita explicação. É Jesus na Terra. É uma figura de união e paz”, diz, com a voz meio embargada. Ribeiro, o homem que a acompanha também com cadeira de campismo, acrescenta: “Talvez nunca mais venha outro Papa a Cascais, nunca mais se passa outra semelhante a esta.” Está impressionado com o que tem visto nos últimos dias, tanto na vila balnear — onde estão alojados milhares de peregrinos, sobretudo espanhóis — como pela televisão. “Isto ainda é maior que o Europeu. Já vi muitas coisas, muitas manifestações, mas nada como isto.”

Ribeiro entusiasma-se tanto a falar que por pouco perde a passagem do sucessor de Pedro, anunciada pela habitual comitiva de carros e motas da polícia. É um momento fugaz: quem se distrai por um segundo já não verá Francisco, no banco da frente e com a janela aberta, de braço ao alto a cumprimentar toda aquela gente.

O Papa acaba de concluir o seu segundo compromisso do dia, depois de o ter começado a discursar perante uma plateia de jovens na Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa. A deslocação a Cascais teve como propósito uma visita à Scholas Occurrentes, uma instituição de ensino fundada pelo próprio Francisco quando era bispo de Buenos Aires e respondia pelo nome de Jorge Mario Bergoglio. Quando o programa oficial da visita do Papa a Portugal foi revelado, esta saída de Lisboa foi uma das surpresas.

“Eu tenho uma reunião com o Papa, que é o meu chefe, a cada dois meses”, diz José María del Corral, director mundial da Scholas. “E disse-lhe: ‘Eu sei que é uma loucura, mas os jovens estão a fazer o maior e mais diverso mural do mundo, em Cascais, para que tu possas pintá-lo. E é mais fácil tu ires a Cascais do que o mural ir ter contigo.’ Foi assim que se produziu o milagre”, conta ao PÚBLICO.

O mural de que fala tem 3,5 quilómetros, foi pintado por três mil pessoas e esteve nesta quinta-feira colocado ao longo da marginal, desde o Monte Estoril até à Scholas, passando pelas principais ruas do centro da vila. A principal sala do edifício em que funciona a instituição, a antiga escola Conde Ferreira, foi integralmente pintada por alunos — e o Papa deu uma pincelada. “É uma Capela Sistina pintada por vocês”, disse Francisco.

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Catarina foi uma das autoras da pintura na Scholas MATILDE FIESCHI

“Eu não sou católica nem tenho uma relação especial com a Igreja”, revela Catarina Oliveira, que foi uma das pessoas que ajudou a pintar esta sala. “Mas é sempre fascinante ver como as pessoas se empenham. Foi mesmo bonito de ver.” Durante cerca de duas semanas, explica, umas dez a 15 pessoas deram forma ao grande polvo, às figuras humanas e outras mais abstractas que agora cobrem as paredes e o tecto. “Acho que nunca tinha feito parte de um projecto assim. E é um projecto para a vida.”

Depois da partida de Francisco, a sala enche-se de gente que partilha a experiência de o ter visto e que quer tirar fotografias no local que o Papa escolheu para dar a pincelada. “Quando a Scholas chegou a Portugal, em 2018, reunimos todas as escolas secundárias e o tema que se destacou foi o da saúde mental e emocional”, diz José María del Corral. “Os jovens diziam que a educação actual não contemplava um espaço onde pudessem abrir-se e falar dos medos e problemas que têm. Foi assim que nasceu este espaço. Os jovens empolgaram-se, conseguiram chamar outros e tiveram a ideia de fazer o mural com os seus medos e os seus sonhos.”

Cá fora, as sexagenárias Maria Elisa e Isabel estão satisfeitas: conseguiram ver o Papa à chegada e à saída. “Eu estava ao pé de uns jovens de Espanha, foi mesmo emocionante!”, relata uma delas. “Eu tenho visto os outros papas todos. Quando trabalhava, via-os ali na Fontes Pereira de Melo ou no Saldanha [em Lisboa]. Agora que ele veio à minha terra não o ia perder.”

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