Marcelo sobre tapete de Bordalo no altar da JMJ: “É uma crítica com humor. Uns gostam, outros não.”

Presidente defendeu ser “fundamental” que “as pessoas não tenham a obsessão da segurança, mas tenham o bom senso”, e defendeu o retorno da exposição que o país terá com o evento.

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O artista plástico entrou no recinto da Jornada e estendeu um tapete no altar, uma intervenção intitulada "Walk of Shame" Reuters/BORDALO II
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O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, procurou, este domingo, esvaziar a polémica que envolve o longo tapete a imitar notas de 500 euros colocado pelo artista plástico Bordalo II no altar-palco da Jornada Mundial da Juventude (JMJ). "Aconteceu de acordo com o humor nacional. A crítica em democracia é sempre possível. Aquela é uma crítica com humor; uns gostam, outros não gostam. Uns apreciam o lado crítico, outros ficam ofendidos. Mas isso é a democracia", respondeu quando questionado pelos jornalistas sobre o episódio, à margem de um evento em Vila Viçosa.

Na quinta-feira, o artista plástico português Bordalo II mostrou na sua conta oficial no Instagram imagens do palco principal da JMJ, no Parque Tejo, em Lisboa, onde desenrolou um tapete ilustrado com notas de 500 euros na escadaria, numa instalação que intitulou Walk of Shame (que se pode traduzir como "caminhada da vergonha").

“Num estado laico, num momento em que muitas pessoas lutam para manter as suas casas, o seu trabalho e a sua dignidade, decide investir-se milhões do dinheiro público para patrocinar a tour da multinacional italiana", criticou o artista na publicação sobre a vinda do Papa Francisco a Portugal e sobre a JMJ. E rematava com um irónico “​Habemus Pasta”, num trocadilho com o anúncio do Vaticano aquando da nomeação de um novo pontífice, "Habemos Papam".

O caso gerou posições públicas divergentes, entre os que defenderam a atitude do artista plástico e criticaram o investimento público no evento e os que censuraram a iniciativa por ser contra a Igreja mas também lembrando que Bordalo II tem também projectos financiados por fundos públicos.

O Presidente da República faz questão de salientar que o caso aconteceu "quando era ainda a segurança privada a tomar conta [da área] e não segurança pública, precisamente para que não se dissesse que o Estado estava a intervir cedo demais substituindo-se aos promotores e responsáveis pela iniciativa". "A segurança privada tem as suas limitações", acrescentou. A equipa de Bordalo II entrou na zona ribeirinha onde estão a ser ultimadas as estruturas de apoio sem qualquer dificuldade, envergando coletes e capacetes de obras, como normais trabalhadores da construção.

O "fundamental" é que durante toda a JMJ "a segurança funcione, que as pessoas contribuam para isso; que não tenham a obsessão da segurança, mas tenham o bom senso da segurança e que tudo corra bem para Portugal", sustenta o chefe de Estado, alegando que se isso acontecer "ganham todos" e se correr mal também "perdem todos os portugueses, os que estão no Governo e a oposição".

Marcelo também foi questionado sobre as notícias que dão conta que a larga maioria dos contratos públicos para a organização da Jornada Mundial da Juventude foi feita por ajuste directo. E voltou a desdramatizar, defendendo ainda que se deve olhar o investimento público no evento como uma campanha de promoção do país no estrangeiro - tal e qual como as iniciativas do Turismo de Portugal.

O Presidente antecipa que a JMJ "vai ser um sucesso", tendo em conta o número de participantes estrangeiros que já entrou no país, de cerca de um milhão. Alega ser "muito difícil" pôr de pé uma Jornada como esta, "sobretudo depois da pandemia", que atrasou tudo, a que se soma o facto de a Câmara de Lisboa (mas também a de Loures) ter mudado de liderança.

"Houve ali um re-arrancar muito em cima do acontecimento e isso tem sempre um preço: ficam sempre coisa para a última hora. E à última hora, por muito que se respeite a lei, só há uma maneira: para acabar tudo é preciso recorrer a formas expeditas de contratação, senão não está pronto", descreve, remetendo para as garantias da ministra-adjunta e dos Assuntos Parlamentares de que não houve violação da lei da contratação pública.

Sobre as críticas constantes aos custos, em especial o investimento estimado de 30 milhões de euros estatais, o Presidente procurou contrariar essa imagem negativa. "Se é importante, verdadeiramente, para a projecção universal de Portugal e, nomeadamente, para o turismo e para o eco que vai ter (...) pensem numa grande campanha de marketing" do país no estrangeiro, pediu Marcelo Rebelo de Sousa. "Se houver outra iniciativa do género que valha isso, seja evangélica, ortodoxa ou não religiosa, mas essencialmente de movimentação cívica ou política e tiver esses benefícios para o país, não vejo porque o país não há-de investir nessa forma de promoção no mundo", defendeu.

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