Três pessoas morreram em incêndios em Itália. União Europeia quer mais aviões

União Europeia quer assinar contratos para a aquisição de mais aviões de combate a incêndios. “A situação que vemos no Sul da Europa prova que estamos numa crise climática”, afirmou responsável da UE.

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Os incêndios em Sicília, na Itália Reuters/STRINGER
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Os incêndios em Sicília, na Itália EPA/Francesco Militello Mirto
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O calor e os incêndios continuam a não dar grandes tréguas aos países em redor do Mediterrâneo. Três pessoas morreram na Sicília, Itália, numa ilha que está a ser afectada há vários dias por incêndios florestais causada por uma onda de calor — ao mesmo tempo que o norte do país enfrentava fortes tempestades que também causaram a morte a duas pessoas.

Os corpos carbonizados de um casal de septuagenários foram encontrados na casa onde viviam, nos arredores de Palermo, consumida pelas chamas. Um homem de 98 anos acamado também morreu na região de Calábria. O presidente da região siciliana, Renato Schifani, afirmou que o “calor abrasador e incêndios devastadores e sem precedentes” tornaram a terça-feira num “dos dias mais difíceis em décadas”. Os bombeiros italianos combateram cerca de 1400 fogos entre domingo e terça-feira, 650 deles na Sicília.

Na quarta-feira, mais de 60 incêndios deflagraram na Grécia, com os piores incêndios na zona de Velestino, no centro do país. Nessa região, as autoridades ordenaram a retirada de algumas comunidades das zonas em risco. Dezenas de bombeiros combatiam as chamas. Na quinta-feira, o risco de incêndio continuará no nível “extremo” e as autoridades alertam que são “dias perigosos” para a Grécia, com temperaturas elevadas e ventos fortes.

Os fogos diminuíram de intensidade (mas ainda não estão dominados) e três pessoas morreram na sequência dos incêndios: dois homens que estavam dentro de um helicóptero de combate aos incêndios que se despenhou na terça-feira, perto da cidade de Karystos, na ilha grega de Evia. A terceira vítima mortal dos incêndios na Grécia tinha 41 anos e estava desaparecida desde domingo, também em Evia: era criador de gado e foi encontrado queimado numa cabana, numa zona de difícil acesso.

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Incêndio em Rodes, na Grécia DAMIANIDIS LEFTERIS/EPA

O primeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis, lamentou a morte dos pilotos – “Deram as suas vidas para salvar vidas” –​ e pediu à população que se prepare para dias “complicados”, ainda que se espere que os incêndios diminuam de intensidade até ao final da semana. “Face àquilo que todo o planeta enfrenta, sobretudo o Mediterrâneo, que é um ponto crítico das alterações climáticas, não existe nenhum mecanismo de defesa mágico”, afirmou.

Em Rodes, os incêndios acalmaram, mas os bombeiros continuavam na quarta-feira a tentar dominar as chamas. Nos últimos dias, cerca de 20 mil moradores e turistas foram retirados na Grécia das povoações mais afectadas – foi a maior operação de retirada de pessoas por causa de um incêndio no país, segundo o porta-voz dos bombeiros gregos, Iannis Artopoios. Em Rodes, tal como em Itália e noutras ilhas gregas, os habitantes dependem muito do turismo.

O maior número de mortes por incêndios florestais na região do Mediterrâneo foi registado na Argélia: 34, incluindo dez elementos das forças armadas, vítimas das chamas que estavam a combater, refere o Washington Post. Mais de 8000 bombeiros foram mobilizados para o combate às chamas no país.

Fogos em Corfu e também na Croácia, Tunísia e França

Nesta quarta-feira, as autoridades gregas alertaram que havia um “risco extremo” de incêndios em seis regiões do país, com muitas zonas a ultrapassarem os 30 graus Celsius, algumas delas a abeirarem os 40 graus.

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A ilha de Corfu Maxar Technologies/Handout via REUTERS

Na ilha de Corfu, o fogo lavra há dias e houve reacendimentos durante a noite de terça para quarta-feira (sem pôr em risco habitações ou pessoas). “De repente, houve um fogo que surgiu do nada… não dormimos há três ou quatro dias para ficarmos atentos a este tipo de incidentes”, afirmou à Reuters o governador do norte de Corfu, Nikos Mouzakitis.

Ao longo dos últimos dias, houve ainda incêndios na Croácia (a sul de Dubrovnik, um destino turístico), na Tunísia, e em França. As temperaturas elevadas no Verão e os incêndios são comuns em muitos destes países (incluindo Grécia e Itália), mas as condições cada vez mais secas e mais quentes provocadas pelas alterações climáticas estão a agravar o cenário e a fazer com que se tornem ainda mais recorrentes e duradouros.

Sem as alterações climáticas induzidas pelos humanos, os acontecimentos deste mês teriam sido “extremamente raros”, de acordo com um estudo do World Weather Attribution, um colectivo de cientistas de vários países que examina o papel desempenhado pelas alterações climáticas nos fenómenos meteorológicos extremos.

União Europeia quer mais aviões

Segundo a Reuters, a União Europeia (UE) manifestou intenção de assinar este ano contratos para a aquisição de 12 aviões de combate a incêndios, os primeiros de que disporá a própria União, a fim de melhorar a sua capacidade de combate aos incêndios provocados pelas alterações climáticas, afirmou o responsável pela gestão de crises, Janez Lenarcic. "Poderíamos ter os primeiros aviões entregues dois anos mais tarde. E toda a frota estaria pronta no final da década", disse à Reuters.

A UE duplicou a sua frota de reserva de aviões de combate a incêndios no ano passado, depois de as temperaturas recordes e os incêndios devastadores do Verão passado no sul da Europa terem esgotado a sua anterior capacidade de 13 aviões. Essa frota é agora composta por 28 aeronaves, que a UE paga para alugar às frotas dos próprios países ou ao mercado, para formar uma reserva europeia durante a época dos incêndios florestais.

A promessa feita pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, em Setembro do ano passado, era de que se iria “duplicar a capacidade da União Europeia nos meios aéreos de combate ao fogo”. Mas como as alterações climáticas aumentam o risco de incêndios graves, o comissário europeu para a Gestão de Crises afirmou que Bruxelas pretende que sejam assinados este ano contratos para a compra de 12 aviões da UE e outros 12 para reforçar as frotas nacionais dos países.

O fabricante De Havilland Canada concordou em relançar a produção dos chamados aviões "Canadair", se as encomendas da UE forem efectuadas, disse Lenarcic. Os seis países que assinariam os contratos seriam Portugal, Croácia, França, Grécia, Itália e Espanha.

A União Europeia recebeu quatro pedidos de ajuda para combater os incêndios, dois deles agora na Grécia e na Tunísia. “A situação que vemos no sul da Europa prova que estamos numa crise climática. Já cá está”, afirmou Janez Lenarcic.