Proteína S100B: um potencial alvo terapêutico para combater a doença de Alzheimer

Este projeto contribuirá para caracterizar um novo mecanismo biológico de proteção envolvendo a proteína S100B, extremamente relevante nas fases iniciais da doença de Alzheimer.

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Ilustração da proteína S100B (a meio) e da sua ligação à proteína tau dentro das células (à esquerda) e efeito sobre os seus agregados (à direita) DR
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A doença de Alzheimer é o distúrbio neurodegenerativo mais comum do mundo, e perspetiva-se que seja o maior desafio societal do próximo século em saúde e bem-estar. A agregação patológica de proteínas no cérebro é uma das várias componentes desta doença e poderá ser vista como um possível alvo terapêutico. O objetivo do meu trabalho é caracterizar a ação benéfica da proteína S100B na inibição da patologia desenvolvida por uma destas proteínas, a tau.

Numa situação saudável e fisiológica, a proteína tau tem como função a estabilização do “esqueleto” dos neurónios, os microtúbulos. No entanto, em situações neuropatológicas, como no caso da doença de Alzheimer, a tau pode perder esta capacidade e desencadear a sua autoassociação (agregação), levando à sua acumulação dentro dos neurónios.

Para além da perda da sua função, estes depósitos de tau são tóxicos e promovem a morte celular, podendo ainda ser libertados para o exterior destas células, disseminando a patologia para neurónios vizinhos. Esta proteína é um potencial alvo terapêutico, uma vez que a sua propagação pelas estruturas do cérebro acompanha, em estreita proximidade, o desenvolvimento da doença de Alzheimer.

A evolução desta patologia é acompanhada de um aumento de processos inflamatórios no cérebro (ativação do sistema imunitário), que leva à produção de proteínas como a S100B. De facto, sabe-se que os níveis desta proteína aumentam com o envelhecimento e desenvolvimento das doenças neurodegenerativas. A S100B é uma proteína multifuncional e em estudos anteriores verificou-se que é encontrada na proximidade dos agregados de tau.

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Representação esquemática da acção da S100B sobre a proteína tau durante o seu processo de agregação DR

Através dos resultados prévios colocámos a questão: poderá a S100B regular a atividade patológica da tau? E foi esse o mote para o meu projeto de doutoramento, cujo objetivo principal é caracterizar a interação da S100B com a tau e as respetivas consequências bioquímicas e biológicas, nomeadamente a regulação da sua agregação e inibição da sua neurotoxicidade.

Os resultados recentemente publicados na revista científica Nature Communications e divulgados pelo jornal PÚBLICO, demonstraram que a S100B consegue interagir com a proteína tau in vitro e dentro das células. Confirmámos que a ligação da S100B na tau ocorre na região responsável pela sua autoassociação, inibindo assim a sua agregação. Observámos também que a S100B consegue interagir com os agregados de tau e inibir a sua propagação patológica. Com este estudo concluímos que a S100B tem a capacidade de inibir diferentes processos patológicos desencadeados pela tau.

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O investigador Guilherme Gil Moreira; e microscopia electrónica de agregados da proteína tau ladeados pela proteína S100B (setas longas) DR

Este projeto contribuirá para a caracterização de um novo mecanismo biológico de proteção envolvendo a proteína S100B, extremamente relevante nas fases iniciais da doença e que parece tornar-se ineficiente com a acumulação de agregados tóxicos no cérebro. Perspetivamos vir a responder a outras questões importantes, como por exemplo qual o envolvimento da S100B noutras doenças neurodegenerativas e como atua em modelos celulares mais complexos, bem como em modelos animais.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

Estudante de doutoramento em Bioquímica Estrutural na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa​

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