Será que a Ucrânia entrará mesmo na NATO um dia?

A mensagem que está a ser passada à Ucrânia é subtil, mas tem riscos, pois pode não ajudar a pôr fim ao conflito.

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É possível, mas não é tão certo como se pode pensar. Com a Cimeira da NATO em Vílnius, ocorreram alguns progressos e a ideia com que se ficou foi que a Ucrânia entrará na NATO quando as condições forem adequadas. A verdade é que não há data marcada nem um calendário definido.

Mas, para além da guerra que está a decorrer e de questões de natureza técnica que dificultam a adesão da Ucrânia à NATO, este tema não parece ser uma prioridade dos EUA. E, provavelmente, ainda será menos no caso de uma administração republicana, que é uma possibilidade que não pode ser descartada após as próximas eleições nos EUA.

A principal preocupação dos EUA é a sua segurança e a dos norte-americanos. Historicamente, a sua grande estratégia tem tido como prioridade estabelecer a paz e evitar que surja uma potência hegemónica regional num dos continentes, sendo os EUA a única potência no seu continente. Naturalmente, o seu ideal seria serem a única potência hegemónica global, mas tal não é simples e, porventura, até impossível, particularmente neste momento com a situação atual da China. É certo que, após o fim da Guerra Fria, ocorreram também intervenções militares por parte dos EUA, com ou sem o envolvimento da NATO, mas em situações diferentes e em que a questão nuclear nunca esteve presente.

Seja como for, a possibilidade de a Rússia se tornar a potência hegemónica regional na Europa nos dias de hoje é praticamente nula. A Rússia não tem capacidade militar para invadir outros países europeus, mesmo que tal fosse sua intenção. A sua economia também não é forte nem saudável. Inclusivamente, a Rússia sabe que os países ocidentais interviriam de imediato em caso de conflito.

Para além disso, a vontade por parte dos EUA de que aliados europeus gastem mais com a sua defesa no futuro também aparenta já ter sido aceite. Enfatiza-se também agora a necessidade de reformas internas na Ucrânia, criando mais uma dificuldade à adesão. Por outro lado, não é óbvio demonstrar ao eleitorado norte-americano que a segurança dos EUA está presentemente ameaçada com a guerra na Ucrânia. Assim, com tudo isto não existe grande pressão para admitir a Ucrânia na NATO, mas apenas de garantir apoio, como tem sido o caso.

Até porque a adesão da Ucrânia traduzir-se-ia numa fonte permanente de conflito potencial com a Rússia por razões geoestratégicas, porque isso condicionaria fortemente o seu acesso ao Mar Negro, ao Médio Oriente e ao Norte de África, o que a Rússia dificilmente alguma vez aceitará devido à influência que tem nessas regiões. Esta questão não pode deixar de ser tida em consideração, a menos que haja disponibilidade para entrar numa guerra total com a Rússia, o que não é o caso. Mais ainda, quanto mais se fala da Ucrânia aderir à NATO mais a Rússia reage negativamente.

Por tudo isto, a posição que parece prevalecer na NATO é a de que mais vale apoiar a Ucrânia sem que esta seja membro da organização. Assim sendo, a mensagem que está a ser passada à Ucrânia é subtil, mas tem riscos, pois pode não ajudar a pôr fim ao conflito.

As preocupações dos EUA com a China são muito mais importantes, e até prioritárias. Daí a importância de congregar o apoio dos europeus, particularmente dos países membros da NATO e da UE na Cimeira da NATO em Vílnius. É isso que também justifica a representação de países aliados asiáticos, como a Austrália, a Coreia do Sul, o Japão e a Nova Zelândia ao mais alto nível. Por tudo isto e neste contexto, só nos resta esperar. O tempo dirá se, e quando, a Ucrânia entrará na NATO.

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