PP tenta sprintar para a maioria, PSOE ainda sonha com remontada

Última semana de campanha em Espanha vai ser marcada por uma bipolarização do discurso, enquanto Vox e Sumar disputam um terceiro lugar que pode ditar o futuro político do país.

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Pedro Sánchez vai repetindo os alertas contra um eventual pacto entre o PP e a extrema-direita EPA/KAI FOERSTERLING
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Ainda a tentar recuperar do frente-a-frente com Alberto Núñez Feijóo em que o líder do Partido Popular ganhou um fôlego redobrado para o que falta da campanha eleitoral, Pedro Sánchez vai repetindo os alertas contra um eventual pacto dos populares com o Vox e coloca nas mãos das mulheres e dos jovens a remontada da esquerda.

“Que nenhuma mulher fique em casa, todas a votar no PSOE”, apelou o líder socialista no sábado, em Valência, depois de acusar o partido de Feijóo de se aliar a “um partido machista” e de ele próprio, o PP, se ter oposto a “todas as leis com avanços nos direitos e liberdades” femininas. Em Barcelona, já este domingo, repetiria o discurso: “Há dois boletins, o do PP e o do Vox, e também a abstenção, que podem levar Espanha a um retrocesso.”

O extremar dos apelos de Sánchez encontra razão nas sondagens diárias que a generalidade dos meios de comunicação social espanhóis tem feito – e que mostram um PP em crescimento, insuflado pelo debate da semana passada e por uma tendência de queda do Vox.

Por esse motivo, Feijóo pede aos eleitores uma maioria absoluta e tanta distanciar-se do partido de extrema-direita, com o qual celebrou acordos de governação em municípios e regiões autónomas. “Penso que o Vox, neste momento, não é um bom parceiro para a governabilidade”, disse o líder de centro-direita ao jornal El Español, considerando que “algumas discussões que o Vox põe em cima da mesa afastam-nos do importante”.

Consciente de que a maioria absoluta é um objectivo difícil, Feijóo volta nesta entrevista a pressionar o PSOE para que viabilize um governo seu para não ter de depender dos votos do Vox, que em contrapartida exigiria entrar no executivo. E chega a dizer: “Se eu precisar de 20 deputados [para governar] vou falar com o PSOE, mesmo que ao Vox isso não pareça bem.”

A mensagem foi reforçada por Juan Manuel Moreno, o homem que há um ano ganhou as eleições autonómicas para o PP com maioria absoluta quando nenhuma sondagem o indicava. E que, por isso, se tornou a referência para Feijóo nas legislativas antecipadas do próximo domingo. “Nesta última semana de campanha, o votante também deve decidir se quer que Feijóo seja um presidente com as mãos livres ou condicionado por um partido de carácter populista. É a hora do voto prático”, disse ao La Razón.

O terceiro posto

Depois da fragmentação do Congresso na última década e meia, com o surgimento de partidos como o Cidadãos e o Podemos, nestas eleições o panorama partidário está menos estilhaçado, ao mesmo tempo que os blocos da direita e da esquerda parecem cada vez mais irreconciliáveis.

A plataforma Sumar, que agrega uma vintena de formações de esquerda (incluindo o Podemos), diz abertamente que pretende governar com o PSOE. Se assim é, perguntou o El País a Yolanda Díaz, porque devem os eleitores votar nela e não em Sánchez?

“Eu demorei nove meses a subir o salário mínimo porque o Partido Socialista não partilhava desta política”, argumentou a actual ministra do Trabalho, cuja medida-bandeira, que correu mundo, é entregar um cheque de 20 mil euros a todos os espanhóis com 18 anos para “combater a desigualdade”, a financiar por um imposto sobre as grandes fortunas.

Do outro lado do espectro, o Vox dá sinais de que não vai vender barato o seu apoio ao PP. O líder, Santiago Abascal, tenta convencer o eleitorado de que populares e socialistas são farinha do mesmo saco. Feijóo, acusou, “parece mais preocupado em ganhar ao Vox do que ao Partido Socialista” e “confunde os adversários com os aliados”. Do programa eleitoral do partido fazem parte medidas como a retirada de poderes às regiões autónomas, o abandono do Acordo de Paris e a revogação de todas as leis sobre identidade de género.

Apesar de se diabolizarem mutuamente, PSOE e Vox chegaram a acordo em oito pequenos municípios para que os candidatos de um e outro partido assumissem o poder. A revelação foi feita pelo jornal ABC, que por causa disso viu Santiago Abascal cancelar a entrevista pré-eleitoral combinada há várias semanas.

A fazer fé nas sondagens diárias, o Vox poderá sofrer um trambolhão superior a dez deputados face às legislativas de 2019 e o Sumar, mesmo congregando praticamente toda a esquerda à esquerda do PSOE, não iria muito além do resultado alcançado pelo Podemos há quatro anos. A luta pelo terceiro lugar está muito renhida e pode ser aí que se joga o futuro político espanhol.

Ao mesmo tempo, as formações independentistas que apoiaram Sánchez nesta legislatura – ERC, da Catalunha, e EH Bildu, do País Basco –, e às quais o socialista pisca o olho para renovar os pactos de governação, não abdicam da autodeterminação de ambas as regiões e deixaram no ar que poderão dar o seu apoio ao PSOE em troca da organização de referendos.

Na próxima quarta-feira há novo debate televisivo com Sánchez, Díaz e Abascal, mas não com Feijóo, que exigia a presença dos outros líderes partidários para participar.

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