Atrasos no voto por correio irrompem na recta final da campanha em Espanha

Correios estão numa corrida contra o tempo para entregar boletins aos 2,6 milhões de pessoas que pediram voto antecipado. Feijóo pede demissão do presidente da empresa, que é próximo de Sánchez.

Foto
O tema do voto por correspondência invadiu a campanha eleitoral pela mão do líder do PP, Alberto Núñez Feijóo EPA/RAQUEL MANZANARES
Ouça este artigo
00:00
03:06

A marcação de eleições legislativas para uma data em que milhões de pessoas estarão a banhos fez disparar o interesse no voto antecipado por correspondência em Espanha. Mais de 2,6 milhões de eleitores optaram por esta modalidade, o que é quase o dobro em relação às eleições de 2019.

Mas, a uma semana da ida às urnas e quase a terminar o prazo para os eleitores votarem antecipadamente, são muitos os que ainda não receberam a documentação e registam-se grandes filas nos postos de correios para depositar os votos. Os sindicatos denunciam que os Correios não contrataram pessoal suficiente para fazer face à afluência em várias regiões do país e responsabilizam o presidente da empresa, Juan Manuel Serrano, que foi chefe de gabinete de Pedro Sánchez (PSOE).

As regras do voto antecipado ditam que, depois de inscritos, os eleitores recebem em casa a documentação necessária para votar das mãos de um carteiro, que deve verificar a identidade da pessoa. Antes das eleições autonómicas de Maio, as autoridades desmantelaram duas alegadas redes de compra de votos por correio em Melilla e outros municípios.

Na sequência do escândalo, passou a ser exigido aos cidadãos que mostrem um documento de identificação também quando vão depositar o voto no posto de Correios, o que não acontecia até aqui e permitia que qualquer pessoa o fizesse em nome alheio.

Na sexta-feira, depois de terminar o prazo de inscrição para o voto por esta via, os Correios divulgaram que 1,9 milhões de eleitores tinham já recebido os boletins em casa, ficando a faltar entregar cerca de 700 mil. O prazo para depositar o voto termina na próxima quinta-feira, o que faz temer que muitos boletins só cheguem às mãos dos espanhóis na véspera desse dia. Se chegarem, porque entretanto muitos poderão ter partido de férias... Na quinta-feira, cerca de 500 mil pessoas tinham entregado o seu voto num posto.

O tema invadiu a campanha eleitoral pela mão do líder do PP, Alberto Núñez Feijóo, que já foi presidente dos Correios, a pedir mesmo a demissão de Serrano, a quem acusou de ser “incompetente” por não ter “gerido bem a empresa e não ter estado à altura das circunstâncias”. O conservador, que lidera as sondagens, já na quinta-feira tinha pedido “aos carteiros de Espanha que trabalhem ao máximo, de manhã, tarde e noite”, e que, “com independência dos vossos chefes, distribuam todos os votos antes que termine o prazo, para que os espanhóis possam votar”.

“Se não vos pagam as horas extraordinárias, comprometo-me que no primeiro Conselho de Ministros vos pagarei as horas extras”, acrescentou ainda. A referência aos “vossos chefes” foi lida como uma indirecta a Serrano, deixando subentendida a acusação de que não é do interesse dos socialistas que todos os eleitores consigam votar (quem pede voto por correio não pode ir às mesas fazê-lo presencialmente).

Em resposta, o presidente do Governo e candidato socialista, Pedro Sánchez, acusou Feijóo de “enlamear o debate político” e de levantar “dúvidas injustificadas sobre o processo” para lançar “uma cortina de fumo” sobre os acordos entre o PP e o Vox, de extrema-direita, em municípios e regiões autónomas.

A oposição de direita, afirmou ainda Sánchez a partir de Vílnius, onde esteve a participar na cimeira da NATO, faz uma campanha com base “na mentira, na manipulação, com declarações para minar a confiança das pessoas nas instituições e na democracia espanhola”.

Sugerir correcção
Comentar