Natureza Humana e 2720 são os vencedores portugueses do Curtas Vila do Conde
O júri do festival de Vila do Conde premiou os melhores filmes apresentados na Competição Nacional, sem surpresas mas com inteira justiça. O certame termina este domingo com a repetição dos premiados.
Sem surpresas, mas com justiça: Natureza Humana, de Mónica Lima, e 2720, de Basil da Cunha, duas das três melhores curtas portuguesas na corrida, são os vencedores do concurso nacional do Curtas Vila do Conde.
A curta de Mónica Lima sobre o modo como a vivência da pandemia de covid-19 afecta a relação íntima de um casal, já premiada em Roterdão e em festivais do Canadá e Alemanha, levou o prémio de melhor filme; Basil da Cunha recebeu o galardão de melhor realização por 2720, retrato quase “em tempo real” de uma manhã da Reboleira estreado no festival suíço Visions du Réel e já premiado em Oberhausen. Os dois filmes receberam também os prémios atribuídos pelo público que assistiu às sessões do festival.
Na competição internacional, onde se puderam ver novos filmes de “veteranos” como Lucrecia Martel, Carla Simón ou Jean-Gabriel Périot, o Grande Prémio, que faz igualmente as vezes de nomeação do Curtas para o Prémio Europeu de Cinema, foi entregue a Il Compleanno di Enrico (The Birthday Party), do italiano Francesco Sossai, obra sobre uma festa de aniversário numa propriedade rural à beira da entrada do ano 2000. De apontar que o realizador é, tal como Mónica Lima, aluno da Academia Alemã de Cinema e Televisão.
O júri de 2023 dos concursos nacional e internacional, composto pela produtora franco-brasileira Emilie Lesclaux, pela programadora canadiana Émilie Poitier, pela realizadora basca Estibaliz Urresola Solaguren e pelo programador francês Rémi Bigot, premiou ainda, como é hábito, um filme por cada uma das três “categorias” a concurso. Na ficção, a produção francesa J’ai vu le visage du diable, história de possessão na província polaca dirigida por Julia Kowalski; na animação, o alemão Zoopticon, ambientado numa “arca de Noé” que viaja pelo espaço sideral; e no documentário, The Veiled City, da anglo-colombiana Natalie Cubides-Brady, que utiliza imagens de arquivo para questionar a poluição atmosférica e as alterações climáticas.
Destes quatro premiados, apenas Zoopticon foi uma estreia mundial do Curtas; os filmes de Sossai e Kowalski vieram da Quinzena dos Cineastas de Cannes, e The Veiled City da competição de curtas de Berlim.
Na competição de filmes de escola Take One!, com 21 títulos a concurso e avaliada pelos realizadores Mónica Santos e Eduardo Brito e pelo programador Severiano Casalderrey, o vencedor foi o filme experimental de Luisa Alegre 1/2 =1, e a melhor realizadora foi Catarina Gonçalves pelo documentário Até que Tenha Fôlego.
Antecedendo a cerimónia de entrega de prémios, o Curtas encerrou “oficialmente” com Retratos Fantasmas, a nova longa-metragem do cineasta brasileiro Kleber Mendonça Filho, emocionante retrato autobiográfico do realizador enquanto cinéfilo mas também da sua cidade natal, o Recife, enquanto terreno de jogo e de descoberta da experiência de ir ao cinema. O filme, que chegará aos cinemas no final de Agosto, terá ainda sessões especiais de antestreia este domingo, no cinema Trindade, no Porto, e na segunda no São Jorge, em Lisboa.
A esse respeito, não deixa de ser curioso que Retratos Fantasmas ressoasse com outros filmes apresentados no festival sobre o cinema como refúgio, obsessão ou fetichismo, casos de Mimi de Douarnenez, do francês Sébastien Betbeder, All Tomorrow’s Parties, do chinês Zhang Daiei, Flyby Kathy, do português Pedro Bastos, ou Exotic Words Drifted, do também português Sandro Aguilar.
Como habitual no Curtas, os filmes premiados serão ainda repetidos este domingo, às 18h, 20h e 21h45.