Rio desabafa: “Estou farto da política”
O ex-presidente do PSD foi alvo de buscas domiciliárias esta quarta-feira. “Eu estou tão sossegado, para que é que me vêm picar?”, questionou Rui Rio.
O ex-presidente do PSD, Rui Rio, considerou esta quarta-feira que o objectivo das buscas domiciliárias de que foi alvo é afectar a sua imagem, afirmando que os pagamentos em causa "não são ilícitos" e acontecem em todos os partidos.
"Comigo estou tranquilo, não estou tranquilo é com o país. Já não tenho uma esperança muito grande no país, mas quando vejo estas coisas fico com menos esperança", afirmou Rui Rio, em declarações aos jornalistas, dentro do carro, ao chegar à sua residência no Porto.
A Polícia Judiciária (PJ) mobilizou esta quarta-feira cerca de 100 inspectores e peritos para buscas na casa do ex-presidente do PSD, Rui Rio, e na sede nacional do partido, por suspeitas dos crimes de peculato e abuso de poderes.
Em causa, segundo a CNN, que esteve em directo desde o início das buscas, estão suspeitas de um alegado uso indevido de dinheiros públicos, através de verbas da Assembleia da República definidas para a assessoria dos grupos parlamentares e que seriam utilizadas para pagar funcionários do partido que não trabalhariam no Parlamento.
Rui Rio desvalorizou estas suspeitas, considerando que são apenas para "produzir uma notícia" e disse nem perceber do que a PJ andou à procura, confirmando que não foi constituído arguido. "Os pagamentos não são ilícitos, isto são os partidos todos, porque é que [foi] o PSD? Se alguma coisa aconteceu no meu tempo foi uma reforma no sentido de moralizar ao máximo tudo isto, que não é que estivesse mal, mas moralizar, pôr direito", afirmou.
Questionado se estas notícias afectarão a sua imagem, Rio respondeu: "Isso é o que querem, tudo isto é para afectar a minha a imagem. Se afecta ou não, não sei, tenho 30 anos de vida pública, as pessoas já me conhecem". E continuou: "Estou fora da política, não conto voltar à política, estou farto da política, mas às vezes... Eu tinha um amigo que era o Dr. Miguel Veiga que dizia 'Piquem-no, piquem-no, que ele funciona bem é picado'. Eu estou tão sossegado, para que é que me vêm picar?", disse.
Rui Rio disse não ter falado com a direcção actual do PSD, até porque nem tem telemóvel, que foi apreendido durante as buscas. O ex-líder do PSD disse já ter sido constituído arguido "quatro ou cinco vezes na vida" e uma delas por ter feito à Ordem dos Médicos e à Procuradoria-Geral da República uma queixa contra baixas fraudulentas na Câmara Municipal do Porto, quando presidia a esta autarquia.
O ex-presidente do PSD insistiu que esta forma de pagamento a funcionários do partido via Parlamento "é uma prática na Assembleia e nos partidos todos". "As pessoas podem considerar bem, podem considerar mal. Isto vem a público porque estávamos a trabalhar no sentido da reestruturação dos recursos humanos", continuou.
Rui Rio estaria a referir-se a um estudo que encomendou, em 2020, à consultora Deloitte e com base na qual mexeu na grelha salarial dos funcionários do partido e do grupo parlamentar, na altura com o argumento de acabar com "injustiças salariais", mas que gerou descontentamento em parte dos trabalhadores.
Em Julho de 2020, a revista Sábado noticiou um processo constituído no Ministério Público sobre esta prática a partir de denúncias internas no PSD. Esta quarta-feira, em comunicado, o PSD assegurou que "prestará toda a colaboração" à justiça, informando que, segundo as autoridades, a investigação abrange o período de 2018 a 2021, anos em que Rui Rio era presidente do partido.
Rui Rio foi presidente dos sociais-democratas entre Fevereiro de 2018 e Julho de 2022, tendo acumulado com a presidência do grupo parlamentar entre Novembro de 2019 e Setembro de 2020.