Bard, Bing e ChatGPT. O que têm de diferente os chatbots disponíveis na UE?

A versão grátis do ChatGPT ignora o mundo pós-2021; o Bard dá várias opções para a mesma resposta; só o Bing cita fontes. Todos confundem variantes do português. O PÚBLICO preparou um guia.

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O Bard é o mais recente chatbot a estar disponível na União Europeia Jonathan Raa/NurPhoto via Getty Images
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Com o lançamento do Google Bard, passam a existir três opções de chatbots com inteligência artificial (IA) na União Europeia. Além do chatbot da Google, há o Bing, da Microsoft, e o ChatGPT, da OpenAI, que foi o primeiro a estar disponível para as massas. Todos são desenvolvidos por empresas dos Estados Unidos.

À primeira vista, os chatbots norte-americanos são idênticos: usam IA generativa para responder a perguntas em linguagem natural e são fluentes em várias línguas, incluindo português. Mas há diferenças. Enquanto o Bing e o Bard são completamente gratuitos e retiram informação da Internet, no ChatGPT é preciso pagar (cerca de 23 euros por mês) para receber respostas com dados publicados depois de 2021. Todos tendem a confundir as variantes do português, mas o chatbot da Google é o que parece mais confuso – é capaz de trocar até a geografia, substituindo Lisboa por São Paulo (Brasil). As versões web do ChatGPT Plus e do Bard permitem fazer e responder a perguntas em formato áudio (o chatbot da Microsoft só faz isto na app móvel).

O PÚBLICO preparou um guia para perceber as diferenças entre os três e exemplos da forma como respondem às mesmas perguntas.

Os chatbots são todos gratuitos?

Sim, mas o ChatGPT inclui uma versão paga, o GPT-4, que custa cerca de 23 euros por mês e dá acesso a conteúdo adicional, como a análise de imagens enviadas pelos utilizadores. Esta versão também está conectada à Internet, permitindo ao utilizador aceder a informação actualizada sobre o mundo. A versão grátis do ChatGPT, disponível desde Novembro, apenas inclui informação até Setembro de 2021. Isto quer dizer que o chatbot não está a par do começo da guerra na Ucrânia nem do fim da pandemia da covid-19.

Servem para o mesmo?

O ChatGPT foi a primeira ferramenta de inteligência artificial generativa a chegar às massas, em Novembro de 2022. O objectivo da OpenAI com a versão gratuita do ChatGPT é perceber a forma como os novos chatbots podem ser utilizados. Por isso, também tem menos limites e consegue participar em conversas longas e cenários hipotéticos. Imaginar o que o Presidente de Portugal diria à nação perante uma invasão de seres de outros planetas é algo que só o ChatGPT faz. "Num discurso solene, o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa enfrenta a nação assolada pela invasão extraterrestre. Ele começa reconhecendo a ameaça...", começa o chatbot da OpenAI.

O Bard e o Bing devem ser usados como ferramentas de produtividade. Os sistemas resumem a informação que está na Internet numa linguagem simples. O Bing inclui links para os sites de onde retira a informação; o Bard recomenda aos utilizadores continuarem a pesquisa online (“Google it”, diz, sugerindo, convenientemente, o motor de busca da empresa-mãe). É por este motivo que as conversas do Bing e do Bard não se prolongam num diálogo interminável.

Que chatbots usam a Internet?

Os três chatbots foram todos pré-treinados com dados extensas bases de dados que incluem informação disponível online. Por exemplo, textos da Wikipédia, clássicos da literatura e, por vezes, informação pública nas redes sociais. No entanto, nem todos usam informação actualizada da Internet nas suas respostas. A versão gratuita do ChatGPT apenas inclui informação publicada até Setembro de 2021. É preciso pagar 23 euros por mês para aceder à versão que acede a dados mais recentes.

Os chatbots falam português?

Todos os chatbots são capazes de falar português, mas tendem a confundir variantes da linguagem – especialmente o português do Brasil com o português de Portugal. Se o utilizador está em Lisboa e partilha a localização com a Google, o Bard apresenta-se em português. Só que depois confunde-se, escrevendo “umidade" ou "o país está sediando". Por vezes, dá informação sobre São Paulo em vez de Lisboa. O Bing tem o mesmo problema, mas tende a usar português de Portugal quando usa páginas que terminam em .pt para responder às perguntas.

O ChatGPT responde mais frequentemente na variante do português do Brasil, mas é capaz de reformular as respostas a pedido.

Os chatbots explicam de onde retiram a informação?

Só o Bing é que mostra sempre as palavras-chave que usou para pesquisar na Internet e partilha hiperligações para as páginas de onde retirou a informação. Por vezes, o Bard cita fontes de informação utilizadas para as respostas (por exemplo: “Segundo o site The Weather Channel”).

Posso pedir aos chatbots para comentarem uma imagem?

O ChatGPT Plus é capaz de usar e comentar imagens partilhadas pelos utilizadores. Por exemplo, ajudar alguém a criar o código informático para o protótipo de um site a partir de um rascunho em papel. O Bard não consegue comentar uma imagem, mas a Google diz que o integrou no Google Lens, a app de reconhecimento de imagens desenvolvida pela Google.

Ao testar a app, percebe-se que o Bard não comenta directamente as imagens, mas o sistema ajuda a dar a informação relevante sobre os objectos captados pelas câmaras dos telemóveis. “Posso ter exagerado nas capacidades da integração. Actualmente, a integração com o Lens não é tão robusta como eu descrevi. Por exemplo, o Bard não pode fornecer informações sobre o contexto de uma imagem ou texto”, é a resposta do Bard quando questionado pelo PÚBLICO sobre a integração no Google Lens.

Esta sexta-feira começou a ser possível partilhar uma imagem com o Bing. No entanto, o chatbot não comenta directamente e remete para uma pesquisa no motor de busca.

Há limite de perguntas?

O ChatGPT permite ter conversas maiores. Por outro lado, o Bing e o Bard têm um limite de respostas por conversa. No Bing, costuma variar entre cinco e dez. Depois, os chatbots pedem para recomeçar o diálogo, perdendo o contexto do que foi dito antes.

A Google e a Microsoft queriam evitar episódios de alucinação de IA. Trata-se de um fenómeno que acontece quando os chatbots produzem resultados que podem parecer plausíveis, mas que são factualmente incorrectos ou saem do contexto da pergunta.

“Conversas muito longas podem confundir o modelo de chat em que se baseia o novo Bing. Para corrigir isto, implementámos algumas mudanças para focar as sessões”, justifica a equipa da Microsoft num comunicado online sobre os limites.

“Por enquanto, a capacidade do Bard de manter o contexto é propositadamente limitada”, explica a equipa da Google. “À medida que o Bard for aprendendo, a sua capacidade de manter o contexto durante conversas mais longas irá melhorar.”

Todos os chatbots respondem com voz/áudio?

A versão paga do ChatGPT e o Bard permitem fazer e receber respostas em formato áudio num navegador online. Por ora, a versão web do Bing apenas suporta conteúdo de texto, mas a app também permite perceber e responder a perguntas "em viva voz".

Que outras diferenças têm os chatbots?

O Bard sugere várias versões da mesma resposta em “Veja outros rascunhos”, no canto superior direito de todas as respostas do chatbot. São versões alternativas da mesma resposta, com diferentes estilos de linguagem e fontes. Também permite exportar as respostas para o Gmail ou o Google Docs – basta carregar no ícone de partilha.

O Bing tem um separador de “conversa” e um para “compor” onde ajuda a escrever emails, parágrafos e listas. O utilizador pode escolher o tom (por exemplo, profissional, divertido, entusiasmado ou informativo).

Tanto o ChatGPT como o Bard permitem aceder a conversas anteriores através uma barra do lado esquerdo do programa; o Bing vai eliminando todas as conversas.

Onde encontrar estes chatbots?

O ChatGPT e o Bard estão disponíveis em sites específicos: chat.openai.com e bard.google.com. O Bing está disponível no navegador Edge da Microsoft (ícone do balão de fala no canto superior direito) ou no motor de busca Bing no separador “Chat”, por baixo da barra de pesquisa.


Corrigido: a app do Bing permite fazer e responder a perguntas em formato áudio​.

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