Matemática: poucas médias positivas, grandes saltos entre notas e um “fracasso” constante

Provas de Matemática do 9.º ano estrearam-se com um susto. Resultados melhoraram, mas chegar a média positiva continua a ser um problema.

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Média na prova de Matemática chegou a descer para 29,3% Rui Soares
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Em quase 20 anos de provas finais do 9.º ano, só seis apresentam médias positivas a Matemática, numa evolução que, por vezes se assemelha a um “carrossel”, ilustra a vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática (SPM), Isabel Hormigo.

Só para apontar exemplos mais recentes, olhe-se para o salto de 10 pontos registado de 2011 para 2012 (passou de 43% para 53%), para voltar a descer na mesma proporção em 2013, quando voltou aos 43%, a mesma média registada este ano. Estas oscilações ocorreram quando Nuno Crato já era ministro da Educação, mas já se tinham verificado com Maria de Lurdes Rodrigues e também, embora com menor dimensão, com Tiago Brandão Rodrigues.

Como as subidas acentuadas sucederam a quedas também profundas, a melhoria acabou por ser desvalorizada e apresentada pelas oposições como resultado de exames mais fáceis. Foi o que aconteceu em 2008 com a ex-ministra do PS, Maria de Lurdes Rodrigues. Nesse ano a média a Matemática alcançou os 57,4%, depois de em 2007 ter batido no fundo com um resultado de 29%.

Foi o pior resultado de sempre dos exames do 9.º ano, que se tinham estreado em 2005 e mostraram pela primeira vez o estado de catástrofe nas aprendizagens à disciplina. Resumido assim por Maria de Lurdes Rodrigues: são cerca de "100 mil os alunos" que estão agora no último ano do terceiro ciclo e a maioria deles tem atrás de si "um percurso inteiro de insucesso na Matemática”.

Os resultados destas provas levaram então ao lançamento de um Plano de Acção para Matemática, que passou em primeiro lugar por providenciar formação aos professores. As médias subiram em 2008 e 2009. Mas em 2011 desceram para 43%, um valor repetido em 2013 e 2023.

De constante, ma maior parte de todos estes anos de exames, há esta realidade descrita pelo Júri Nacional de Exames: “Os dados estatísticos referentes às provas finais do 3.º ciclo do ensino básico mostram-nos algumas regularidades ao longo dos anos, nomeadamente, o facto de no exame de Matemática a percentagem de alunos com classificações de nível 2 ser superior à percentagem de alunos com classificações de exame de nível 3.”

As provas finais e os testes são classificados, no ensino básico, numa escala de 0 a 100% que depois é transposta para níveis: quem tem entre 0 a 19% fica no nível 1; de 20 a 49% no nível 2; de 50 a 69% no nível 3; de 70 a 89% no nível 4 e acima dos 90% no nível 5.

Os níveis 1 e 2 equivalem a negativa, os de 3 a 5 a positiva. Na prova deste ano, 54.790 alunos ficaram nos primeiros dois níveis, ou seja, quase 60% dos estudantes que realizaram a prova não chegaram à positiva.

Nova mudanças

O repetido “insucesso” a Matemática levou o Governo a criar um grupo de trabalho para o estudar e apresentar recomendações para ultrapassar esta forma de destino. A terapia proposta pelo grupo, liderado pelo matemático Jaime Carvalho e Silva, foi radical. Passa nada mais, nada menos do que pela elaboração de um novo currículo de Matemática para todos os ciclos de escolaridade, que substitua todos os documentos curriculares que estão em vigor.

No ensino básico, a experiência começou em 2022/2023 com a introdução de novas Aprendizagens Essenciais no 3.º, 5.º e 7.º anos de escolaridade. Uma das novidades destacadas é a da introdução do pensamento computacional em todos os anos do básico.

Pelo caminho ficam, como antes também aconteceu com o Plano de Acção para a Matemática, as metas curriculares aprovadas por Nuno Crato e as primeiras Aprendizagens Essenciais, que entraram em vigor com Tiago Brandão Rodrigues. Nem umas, nem outras contribuíram para melhorar aprendizagens, concluiu o grupo de trabalho liderado por Jaime Carvalho e Silva.

Veremos a que balanço se chegará quando a mudança que vai agora começar, for generalizada a todos os alunos. Por agora, a Sociedade Portuguesa de Matemática já contestou o que considera ser “um sequestro sociológico da disciplina”, que substitui a “construção metódica e estruturada do saber” por uma “aguarela de pinceladas vagas e desconexas, típica de sessões de divulgação”.

Notícia corrigida às 23h49 de 12 de Julho. Corrige a data de introdução das novas aprendizagens essenciais, que já aconteceu neste ano lectivo. Não sendo, portanto, no próximo como inicialmente escrito.

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