Portugal quer reflexão sobre o Sul na agenda da NATO
Portugal está a tentar introduzir no texto do comunicado final da cimeira de Vílnius uma referência ao conceito de 360 graus da aliança e vai insistir na premência da discussão sobre o Sul.
Portugal acredita que há margem para os líderes da NATO reflectirem sobre os desafios e as ameaças, mas também as oportunidades, que existem para além do território regional e do espaço de acção da aliança, no Sul. Uma discussão estruturada que Lisboa sabe que não acontecerá em Vílnius, uma cimeira absolutamente dominada pela guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, e o reforço da postura de dissuasão e defesa do flanco Leste, mas espera ver incluída na agenda da cimeira do próximo ano, em Washington, onde a NATO celebrará o seu 75.º aniversário.
Para isso, Portugal — com o apoio de Espanha e Itália — está a tentar introduzir, no texto do comunicado final da cimeira de Vílnius, uma referência ao conceito de 360 graus adoptado pela aliança atlântica, bem como às dimensões que se acrescentam à defesa colectiva, de gestão de crises e segurança cooperativa, para justificar a premência da discussão sobre o Sul: um vasto território onde abunda a instabilidade e o conflito, com repercussões directas sobre a segurança europeia, e onde os países da NATO se confrontam com a competição estratégica da Rússia e da China.
“Reconhecendo que a prioridade da NATO deve ser o que se passa na Ucrânia e no flanco Leste, é preciso compreender, e não descurar, o que se passa no Sul. A influência dos movimentos terroristas, os efeitos das alterações climáticas, a fragilidade das estruturas estatais, há um conjunto de fenómenos que têm implicações directas na segurança europeia, e por isso devem ser enquadrados de forma operacional pelos aliados da NATO”, argumentou uma fonte diplomática de Bruxelas, dando o exemplo da actuação do grupo Wagner. “Foram os negócios em África que permitiram financiar as acções do grupo em Bakhmut”, observou.
Os países no limite meridional da NATO entendem que a NATO deve explorar oportunidades de cooperação com países como a Mauritânia, a Tunísia ou a Jordânia, e replicar com a União Africana o modelo de parceria que mantém com a União Europeia ou os países do Indo-Pacífico — também na perspectiva de “gerir” a maior assertividade da China e o seu interesse em ocupar o palco na ausência do Ocidente.