EUA vão fornecer munições de fragmentação à Ucrânia

Biden tentou evitar durante vários meses enviar este tipo de armamento, considerado especialmente letal contra civis, mas a escassez de munições ucranianas forçou-lhe a mão.

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As bombas de fragmentação representam um perigo acrescido para os civis EPA/ROMAN PILIPEY
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Os EUA vão fornecer munições de fragmentação à Ucrânia, dando um passo arriscado que deixa Washington numa posição incómoda junto dos próprios aliados nas vésperas da cimeira da NATO.

A decisão foi conhecida esta semana e confirmada esta sexta-feira pela Casa Branca, mas o Presidente Joe Biden demorou vários meses até concluir pelo envio deste tipo de armamento. O anúncio foi feito no âmbito da apresentação de um novo pacote de ajuda militar norte-americana no valor de 800 milhões de dólares (729 milhões de euros).

Há vários meses que a Ucrânia pedia aos EUA que reforçassem o seu cada vez mais delapidado arsenal com munições de fragmentação, mas Biden tentou resistir a esses apelos, segundo o New York Times, que cita várias fontes próximas da presidência.

Em causa está a própria natureza das armas de fragmentação, conhecidas por causarem danos graves indiscriminadamente e, por isso, representarem um perigo para a população civil. As munições deste tipo de arma transportam e dispersam fragmentos mais pequenos por uma área vasta, podendo atingir facilmente alvos civis, sobretudo em cenários de combates em locais povoados, como tem acontecido frequentemente na Ucrânia.

O mecanismo de ejecção destas munições costuma ter uma carga explosiva para que os fragmentos sejam dispersos por uma área maior, aumentando ainda mais o risco de destruição. Muitas vezes, as munições com explosivos não detonam de imediato, permanecendo um risco para o futuro, o que acontece em 40% dos casos, segundo o Comité Internacional da Cruz Vermelha.

Segundo a imprensa norte-americana, Biden terá recebido a garantia de que as munições que serão enviadas para a Ucrânia têm uma taxa de explosivos que não detonam de imediato de apenas 2%. A Casa Branca também disse que as autoridades ucranianas asseguraram “por escrito” que iriam fazer tudo para minimizar o risco junto da população civil.

Por causa da elevada probabilidade de atingirem civis, as armas de fragmentação são proibidas em mais de cem países, que em 2008 assinaram uma convenção internacional para limitar a sua produção e venda. Nem os EUA, nem a Ucrânia ou a Rússia são signatárias deste tratado, e tanto Kiev como Moscovo já usaram este tipo de armamento na guerra iniciada em Fevereiro do ano passado.

Mas muitos dos aliados mais próximos de Washington, como o Reino Unido, França ou Alemanha, proíbem a utilização de munições de fragmentação. Em vésperas de uma importante cimeira da NATO, em Vílnius, as autoridades destes países não quiseram criticar abertamente a decisão dos EUA, mas reafirmaram a sua oposição à venda e uso deste armamento.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros de França recordou que o país é signatário da convenção de 2008 em que “prometeu não produzir ou usar as suas munições de fragmentação e desencorajar a sua utilização”, mas manifestou compreensão com a posição dos EUA, fundamentada no desejo de “apoiar a Ucrânia a exercer o seu direito de autodefesa contra a agressão ilegal da Rússia”.

Tentando desanuviar a possível tensão durante o encontro de Vílnius, o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, disse que a aliança “não tem uma posição” acerca do recurso a armamento de fragmentação. “A Rússia usou munições de fragmentação para invadir outro país; a Ucrânia está a usar munições de fragmentação para se defender”, acrescentou.

Em Kiev, a decisão foi obviamente bem recebida, com o conselheiro presidencial Mikhailo Podoliak a destacar o “impacto psico-emocional extraordinário” que o fornecimento deste armamento terá contra as forças russas.

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