Lagarde diz que BCE “não vai ficar parado” se salários e margens aumentarem
A menos de três semanas de mais uma reunião para a qual se antecipa nova subida dos juros, a presidente do BCE volta a alertar para efeitos nos preços da subida dos salários e das margens de lucro.
Se as empresas não aceitarem encolher as suas margens de lucro para acomodar nas contas o aumento dos salários dos seus trabalhadores, o Banco Central Europeu (BCE) terá de continuar a agir para controlar a inflação, isto é, terá de voltar a subir as taxas de juro, reafirmou esta sexta-feira Christine Lagarde.
Numa repetição daquilo que já tinha afirmado em Sintra na semana passada no decorrer do Fórum anual do BCE, a presidente do banco central explicou, numa entrevista ao jornal francês La Provence, aquilo que poderá conduzir a um prolongamento da escalada das taxas de juro na zona euro, que, no decorrer dos últimos 12 meses passaram de -0,5% para 3,5%.
Lagarde disse que é preciso perceber se as empresas vão aceitar encolher as suas margens de lucro para fazer face aos aumentos salariais que irão dar aos seus trabalhadores ou se, pelo contrário, se irá assistir “a um aumento duplo, nas margens e nos salários”. Se a última hipótese se concretizar, novas subidas de taxas de juro tornam-se inevitáveis, avisou.
“Um aumento simultâneo [de salários e margens de lucro] iria dar combustível aos riscos de inflação e nós não iríamos ficar parados perante esses riscos”, afirmou a presidente do BCE.
Estas declarações de Lagarde confirmam a disponibilidade da maioria dos responsáveis do BCE para continuar a subir as taxas de juro. Na próxima reunião, agendada para 27 de Julho, a decisão deverá vir a ser, com forte probabilidade, mais uma subida de 0,25 pontos percentuais, tal como tem sido dito pela própria presidente. A seguir, para a reunião de Setembro, já há menos certezas, com Lagarde e os outros membros do conselho de governadores a afirmar que tudo dependerá dos dados entretanto conhecidos, mas não deixando de sinalizar que níveis mais altos de taxas podem ser exigidos.
Dentro do BCE, a maioria dos governadores e dos membros do conselho executivo do banco considera que é preciso continuar a apertar já a política monetária para evitar uma escalada das expectativas de inflação entre os agentes económicos; enquanto uma minoria, da qual fazem parte, por exemplo os governadores dos bancos centrais de Portugal, Mário Centeno, e de Itália, tem defendido publicamente a vantagem de dar algum tempo para perceber de que forma é que as subidas de taxas de juro já realizadas começam a produzir efeitos na economia e nos preços.
As declarações de Christine Lagarde em Sintra e a escalada das taxas de juro realizada nos últimos meses pelo BCE foram, de forma praticamente unânime, criticadas pelo primeiro-ministro António Costa, pelo Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa e pelos partidos da oposição.