Use-se o Aeroporto de Beja na Jornada Mundial da Juventude, defendem ambientalistas

Infra-estrutura está subaproveitada e deve ser usada para aliviar tráfego no Aeroporto de Lisboa, diz confederação de associações de ambiente.

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Aeroporto de Beja "merece “ser mais bem aproveitado numa rede nacional aeroportuária", disse a CTI Pedro Cunha
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A Confederação Portuguesa das Associações de Defesa do Ambiente (CPADA) sugere que “a pressão que o aeroporto de Lisboa vai sofrer por causa da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), na primeira semana de Agosto, seja aliviada utilizando o Aeroporto de Beja “como suporte da conectividade nacional”, num comunicado em que faz recomendações sobre a escolha do local para o novo aeroporto de Lisboa.

A possibilidade de usar o Aeroporto de Beja para garantir a conectividade aérea durante a JMJ foi avançada pelo ministro das Infra-Estruturas, João Galamba, em Março.

“O Aeroporto de Beja constitui a infra-estrutura aeroportuária com maior capacidade subaproveitada”, salienta o comunicado da CPADA. O tempo de deslocação até ao litoral algarvio e a Lisboa tem sido o principal travão na utilização deste aeroporto (cerca de duas horas até à capital e hora e meia até Faro).

“Muitos passageiros que vêm para Lisboa por causa do Papa vão acabar por vir por Vigo, Madrid e Sevilha. Porque é que não se usa o aeroporto de Beja para esta gente entrar?”, interroga, em conversa com o PÚBLICO, José Manuel Caetano, presidente do executivo da CPADA. “Queremos pôr a hipótese do Aeroporto de Beja na ordem do dia, porque já se percebeu que ninguém está a querer levá-la em consideração.”

Há maneiras de tornar menos significativa a distância de Beja a Lisboa. "Os aviões particulares que usam o Aeroporto de Beja não parecem preocupar-se com a distância de Lisboa", comparou José Manuel Caetano.

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O aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa Nuno Ferreira Santos

Beja afastada

Na apresentação feita em Abril, a comissão técnica independente (CTI) que está a estudar o novo aeroporto de Lisboa reduziu de 17 para nove hipóteses a lista de opções para a localização do novo aeroporto. Quatro escolhidas pela comissão e cinco apresentadas pelo Governo.

Após aplicados os critérios de viabilidade (como a proximidade a Lisboa, acessos rodoviários e ferroviários e capacidade de expansão em área), resistiram Rio Frio + Poceirão, Portela + Pegões, Pegões e Portela + Alcochete. Esta última foi introduzida pela CTI, tendo as outras três surgido no âmbito da consulta pública alargada.

As opções entregues pelo Governo à CTI, logo no início do processo, são Portela mais Montijo; Montijo mais Portela; Alcochete; Portela mais Santarém e Santarém (tendo Santarém surgido por iniciativa de um consórcio privado, o Magellan 500), mas ficaram fora do filtro dos critérios de viabilidade.

Recentemente, o ministro João Galamba fez declarações que pareciam significar o afastamento de qualquer hipótese de Santarém: “Se acho o aeroporto em Santarém longe? Acho. Se acho que a probabilidade de ser viável é alta? Não, é baixa”, afirmou.

Pelo caminho ficaram já as soluções que incluíam Beja (não cumpriu o critério de proximidade, embora mereça “ser mais bem aproveitada numa rede nacional aeroportuária”), Alverca (que combinava com Portela, mas com fortes impactos na população e riscos naturais, e sem capacidade de expansão), Monte Real (não cumpre com proximidade e é relevante para Força Aérea), Ota (única vantagem são as acessibilidades), Apostiça (sem ferrovia, e com “conflitos militares com paióis NATO”), Évora (longe de Lisboa e sem expansão), Sintra (zona densamente povoada, com conflitos com Portela e expansão limitada) e Tancos (longe de Lisboa, função estratégica militar).

O relatório final que apontará para a melhor opção será entregue ao Governo até ao final de 2023 e o executivo tomará a decisão política.

Mas as localizações rejeitadas, como Beja, continuam a ter quem as defenda. Há soluções para a distância de Lisboa e Faro. A CPADA sublinha a necessidade de, pelo menos, se utilizar mais o Aeroporto de Beja. A grande pressão sobre os aeroportos de Lisboa e Faro nos meses de Verão “cria condições únicas para o reforço da utilização de Beja, para transporte de mercadorias, companhias de baixo custo e alguns voos de interligação com outros destinos (hub)”, lê-se no comunicado.

Medidas de curto prazo para Lisboa

Esta poderia ser uma forma de aliviar a pressão sobre o aeroporto de Lisboa que, seja qual for a solução escolhida, levará pelo menos uma década a concretizar, salienta a CPADA, que agrupa 110 associações de defesa do ambiente ou organizações não-governamentais de ambiente, de âmbito nacional, regional e local. Enquanto isso não acontece, é fundamental que se tomem medidas de curto prazo, para “vencer inércias e fazer adaptações que reduzam o impacto e actual sobrecarga do actual aeroporto”.

Avança com a proposta de supressão do tráfego de aviões particulares no aeroporto de Lisboa, transferência do grosso da carga aérea para outros aeroportos, aceleração das ligações ferroviárias entre centros urbanos com maior proximidade de Lisboa e deslocação parcial do tráfego para aeroportos com capacidade disponível. Onde se inclui o de Beja, com duas pistas que permitem a aterragem de aviões A380”.

A CPADA salienta que a solução para o novo aeroporto de Lisboa deve assegurar “rapidez de acesso à cidade de Lisboa”, dar “prioridade à existência de infra-estrutura ferroviária” nas ligações à capital e minimizar o impacto ambiental, “incluindo corredores migratórios, espécies protegidas, lençóis freáticos e impacto de riscos naturais”.

Elefantes brancos, não

Não se pode correr o risco de criar elefantes brancos com o projecto do novo aeroporto, salienta a organização de defesa do ambiente. “É fundamental evitar que se repitam erros de imensos recursos que foram desperdiçados em novos aeroportos, foram abandonados pouco depois da sua construção de raiz, salienta a CPADA.

Dá como exemplo os aeroportos espanhóis de Castellon (Valência), que abriu em 2012 sem ter nenhuma rota aérea planeada para ali, e Ciudad Real (Madrid), que começou operações em 2009 como o primeiro aeroporto privado espanhol, embora a empresa que o explorava tenha declarado bancarrota três anos depois. Rebriu em 2019, com algum tráfego aéreo.

Ou Mirabel, em Montreal (Canadá): quando abriu, em Outubro de 1975, era o maior aeroporto alguma vez desenhado. Um dos problemas era a distância até ao centro de Montreal, e ter aberto sem que estivesse pronta a linha de comboio de alta velocidade que estava prevista. Vários problemas relacionados com a sua localização contribuíram para que fosse encerrado em 2004.