As frases que marcaram o inquérito parlamentar à TAP

Total das audições da comissão parlamentar de inquérito (CPI) à tutela política da gestão da TAP, que decorreram em menos de três meses, chegou às 168 horas.

Foto
Foram realizadas 46 audições na CPI à TAP Rui Gaudencio

Foram cerca de 168 horas de audições parlamentares só na comissão parlamentar de inquérito (CPI) à TAP, a que acrescem as audições na comissão de economia e debates nos plenários que acabaram por versar sobre o mesmo tema. Houve também respostas por escrito, e ausências no processo, como os escritórios de advogados envolvidos no processo de Alexandra Reis e responsáveis da Comissão Europeia. Aqui ficam 25 frases que marcaram os trabalhos da CPI, numa altura em que se aguarda o relatório que será conhecido esta terça-feira.

  • “O único documento oficial foi subscrito por duas pessoas [Manuel Beja e Christine Oumières-Widener] e foi sobre essas que nós entendemos que recaíam responsabilidades.” António Ferreira dos Santos, inspector-geral de Finanças;“
  • Sou um mero bode expiatório. (...) Eu fui demitida pela televisão, por dois ministros com um processo ilegal (…) Vou tentar reparar a minha honra.” Christine Ourmières-Widener, ex-presidente executiva da TAP;
  • “A partilha de informação é absolutamente normal, seria anormal não haver partilha de informação.” Carlos Pereira, ex-coordenador do PS na CPI sobre a sua participação na reunião preparatória com a ex-CEO da TAP da audição na Comissão de Economia;“
  • “A Presidência da República nunca contactou a TAP, nem nenhum membro do Governo sobre tal assunto.” Presidência da República, em nota enviada na sequência do relato sobre um pedido de alteração de um voo, ao qual o ex-secretário de Estado Hugo Mendes deu anuência;
  • “Não tenho dúvida de que foi a vontade da CEO. Esta é a minha convicção pessoal: a CEO queria que eu saísse da empresa. Confesso que tenho dúvidas sobre os motivos.” Alexandra Reis, ex-administradora da TAP;“
  • Como tem sido muito evidente ao longo deste processo, o papel do grupo parlamentar do PS não é o papel de escrutínio enquanto grupo parlamentar da Assembleia da República, é um papel de protecção do Governo e poderá ser a melhor forma que têm para proteger o Governo.” Manuel Beja, ex-presidente do conselho de administração da TAP;
  • “A CMVM [Comissão do Mercado de Valores Mobiliários] não tinha motivos nenhuns para duvidar da veracidade de um comunicado que é emitido por uma entidade com obrigações cotadas.” Luís Laginha de Sousa, presidente da CMVM;
  • “A forma como foi questionado, de uma forma até deselegante, o meu papel no cumprimento do mandato da comissão leva-ma a questionar se continuo a ter as melhores condições para o fazer e entendo que é essa reflexão que urge fazer.” Jorge Seguro Sanches, ex-presidente da comissão de inquérito;
  • “Tentei ficar na TAP até ser possível ficar (…) Quando chegou a altura em que verifiquei que não tinha condições para continuar, saí, com prejuízo”. Humberto Pedrosa, ex-accionista da TAP;
  • “Vai ter de fazer essa pergunta a quem tomou essa decisão (…) Eu não a compreendo.” Diogo Lacerda Machado, ex-administrador não-executivo da TAP, sobre os 55 milhões pagos a David Neeleman para sair da TAP em 2020;
  • “Tomámos hoje conhecimento, através dos meios de comunicação social, de nova divulgação pública de conteúdos, documentos e elementos que se encontram no arquivo documental desta comissão.” António Lacerda Sales, presidente da comissão de inquérito, em documento enviado ao presidente da Assembleia da República sobre fugas de informação;
  • “Enquanto cidadão anónimo sem poder de decisão, fui ameaçado pelo SIS, fui injuriado e difamado pelo primeiro-ministro e pelo ministro das Infra-Estruturas.” Frederico Pinheiro, ex-adjunto do ministro das Infra-Estruturas;
  • “Quando tomei conhecimento de que afinal havia notas, solicitei a Cátia Rosas que as pedisse, mas que pedisse o ficheiro informático em que as mesmas [notas] foram feitas porque o ficheiro permitiria, pelo menos, verificar que tinham sido feitas no dia 17 de Janeiro. Frederico Pinheiro não entregou o ficheiro informático, mas um papel.” Eugénia Correia, chefe de gabinete do ministro das Infra-Estruturas, João Galamba;
  • Eu não menti ao país, o comunicado [sobre a reunião preparatória do PS com a ex-presidente da TAP] é 100% válido (…) Nego categoricamente que tenha ameaçado Frederico Pinheiro, mas afirmo que fui ameaçado por Frederico Pinheiro – e não foi pouco, senhor deputado – e pode ter a certeza que, se havia alguém mesmo muito exaltado naquele telefonema, não era seguramente eu.” João Galamba, ministro das Infra-Estruturas;
  • “Os membros do Governo que fizeram a transição de pastas connosco não informaram de nenhuns ‘fundos Airbus’. A Parpública, na reunião que tivemos em Dezembro de 2015, não me informou de nenhuns ‘fundos Airbus’”. Pedro Marques, ex-ministro das Infra-Estruturas;
  • “O anormal foi pagar a um accionista privado para ele se livrar do problema e que tenha ficado o problema para nós.” Sérgio Monteiro, ex-secretário de Estado das Infra-Estruturas do Governo PSD/CDS sobre os 55 milhões pagos a Neeleman para sair da TAP;
  • “O nosso entendimento é que o Governo não está aberto à possibilidade de vender a totalidade da empresa.” João Nuno Mendes, secretário de Estado das Finanças;
  • “A pasta de transição na dimensão TAP era inexistente, nem pens, nem dossiês, não havia nenhuma referência à TAP na pasta de transição da ministra das Finanças do 20.º Governo [Maria Luís Albuquerque] para o ministro das Finanças do 21.º Governo.” Mário Centeno, antigo ministro das Finanças;
  • “Devia ter sido comunicado, não há nenhuma razão para uma questão desta natureza [não ser comunicada], aliás, a substituição de um administrador tem sempre de ser feita com conhecimento do accionista [Estado]. O chairman e a CEO da TAP tinham de fazer a ponte com a tutela.” João Leão, ex-ministro das Finanças, sobre a saída de Alexandra Reis;“
  • Continuo convencidíssimo de que o negócio que se fez [da compra de aviões envolvendo Neeleman] foi feito a preços de mercado. A TAP não foi prejudicada, bem pelo contrário.” António Pires de Lima, antigo ministro da Economia, sobre o negócio com a Airbus;
  • Penalizo-me pelo comentário que partilhei com a ex-CEO sobre o senhor Presidente da República [implicando a alteração de um voo], embora quisesse tão-só sinalizar, junto de alguém com quem tinha uma relação profissional de confiança, o apoio que o senhor Presidente da República deu à difícil decisão de resgatar a TAP (…) O que queríamos era reforçar a autoridade de Christine Ourmières-Widener como líder da sua equipa [com a saída de Alexandra Reis] (…) Eu pus-me na mão dos advogados, o meu papel não era fazer ‘compliance’ jurídico, [...] e nós agimos de boa-fé, respeitando o princípio da responsabilidade dos gestores.” Hugo Mendes, ex-secretário de Estado das Infra-Estruturas;
  • “Há verdades mais inverosímeis do que a mentira, mas não vou passar a mentir só porque ela parece mais credível do que a verdade.” Pedro Nuno Santos, ex-ministro das Infra-Estruturas, sobre não ter tido memória de envolvimento na fase final da indemnização paga a Alexandra Reis, acabando depois por encontrar a mensagem em que a autorizou;“
  • Tenho a convicção profunda de que todos os envolvidos no processo agiram na convicção de que o estavam a fazer no cumprimento da lei. Infelizmente, não estavam.” Fernando Medina, sobre indemnização a Alexandra Reis;
  • “Os accionistas pretenderam continuar a contar com o meu contributo profissional.” Fernando Pinto, ex-presidente executivo da TAP, a propósito dos 1,6 milhões de euros que recebeu da TAP como consultor por um período de dois anos;
  • “[Verba da Airbus aplicada na TAP] foi uma contribuição financeira [do fabricante] (…) Sempre assumi que as vantagens para a Airbus fossem a viabilização de um parceiro e cliente de quem têm sido um fornecedor de eleição e com quem imagino quisessem continuar a manter relações de confiança.” David Neeleman, antigo accionista da TAP, em depoimento por escrito à CPI.