Ucrânia relata avanços “em todos os sectores” da linha da frente

Kiev espera que a contra-ofensiva progrida enquanto a instabilidade política ocupa a Rússia. Em Donetsk houve recuperação de território ocupado desde 2014.

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Militar ucraniano num tanque na região de Zaporíjjia SERHII NUZHNENKO/Reuters/RFE/RL
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A Ucrânia está a tentar ganhar vantagem no terreno com a turbulência vivida na Rússia nos últimos dias, após a tentativa de rebelião dos mercenários do grupo Wagner no fim-de-semana. O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse que houve avanços “em todos os sectores” da linha da frente, depois de ter visitado alguns postos de combate.

As autoridades ucranianas não têm escondido que pretendem aproveitar a instabilidade social e militar gerada pelo motim do Wagner para alcançar progressos na contra-ofensiva lançada há algumas semanas.

Ainda os mercenários marchavam a caminho de Moscovo, na tarde de sábado, e já o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Dmitro Kuleba, adoptava uma postura triunfal. “Para aqueles que disseram que a Rússia era forte demais para perder: vejam agora”, escreveu o ministro no Twitter.

Porém, é cedo para saber qual será o impacto efectivo não apenas da crise gerada pelo motim, mas também da saída definitiva de cena dos mercenários do grupo Wagner do teatro de guerra. Tidos como muito experientes, os elementos ao serviço de Yevgeny Prigozhin (Ievgueni Prigojin, segundo a transliteração portuguesa) tiveram um papel determinante na tomada de Bakhmut, há cerca de um mês, o avanço territorial mais significativo da Rússia na Ucrânia desde o início do ano.

“Mesmo que isto não tivesse acontecido, não é certo que o Wagner viesse a ter o mesmo papel nesta guerra que teve na batalha por Bakhmut”, disse ao New York Times o analista do Foreign Policy Research Institute, Rob Lee, referindo-se à degradação das relações entre Prigozhin e as chefias militares russas ainda antes do motim.

O facto de aparentemente as Forças Armadas russas não terem sido forçadas a transferir militares estacionados no território ucraniano para conter a insurreição também deverá limitar o impacto do episódio na linha da frente – o Presidente russo, Vladimir Putin, fez questão de vincar essa ideia no discurso desta terça-feira e as análises das autoridades norte-americanas corroboram a alegação.

Ainda assim, na sua habitual declaração nocturna, na segunda-feira, Zelensky dizia que acabava de terminar “um dia feliz”. “Hoje, em todos os sectores, os nossos soldados fizeram avanços”, afirmou, sem fornecer, contudo, mais informações sobre a natureza dos progressos no terreno.

Um dos avanços mais significativos ocorreu com a tomada de uma aldeia perto de Kherson pelo Exército ucraniano, depois de conseguir cruzar o rio Dniepre, de acordo com relatos de analistas militares pró-russos. A vice-ministra da Defesa, Hanna Maliar, revelou que na véspera as forças ucranianas retomaram o controlo sobre a aldeia de Rivnopil, na província de Donetsk.

Esta terça-feira, foram relatados “pequenos avanços” a partir da aldeia de Krasnohorivka, perto da cidade de Donetsk, segundo os dados obtidos pelo Ministério da Defesa britânico. O progresso é importante por se tratar de “uma das primeiras ocasiões desde o início da invasão russa de Fevereiro de 2022 em que as forças ucranianas provavelmente terão recapturado uma área de território ocupado pela Rússia desde 2014”, acrescenta o ministério.

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