Queremos que a pornografia seja “aborrecida”, diz novo dono do Pornhub

Governos deveriam parar de perseguir os sites pornográficos e, em vez disso, orgulhar-se da expressão sexual e ajudar a tornar a pornografia normal e “aborrecida”, disse à AFP o novo dono do Pornhub.

Foto
Solomon Friedman diz que apoia verificação de idade que proteja crianças e não exponha dados pessoais. franco alva/Unsplash
Ouça este artigo
00:00
04:10

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

Os governos deveriam parar de combater os sites de pornografia e, em vez disso, orgulharem-se da expressão sexual e ajudarem a normalizar a pornografia, o que a tornará "aborrecida", disse à AFP o novo proprietário do Pornhub, que enfrenta um mar de problemas legais.

O fundo de investimentos canadiano ECP (Ethical Capital Partners) comprou a MindGeek, empresa à frente do Pornhub, há três meses, passando a controlar também outros sites do ramo, como o YouPorn.

Em Maio, as páginas da empresa foram abaixo no estado de Utah, nos Estados Unidos, depois de receberem ordem para verificar a idade dos utilizadores. E em França, proprietários de sites e reguladores estão em negociações há meses sobre como aplicar na prática a verificação de idade obrigatória, uma lei de 2020. Dois dos sites da MindGeek não implementaram nenhum tipo de verificação e podem ser proibidos no país europeu. A decisão judicial é esperada a 7 de Julho.

"Não queremos nenhum utilizador menor de idade nos nossos websites", disse o fundador do ECP, Solomon Friedman, em entrevista à AFP. Mas Friedman rejeitou a ideia de que a responsabilidade deva recair sobre os sites e pediu que os sistemas operacionais encontrem uma solução.

"Apoiamos firmemente as soluções de verificação de idade que consigam duas coisas: proteger as crianças efectivamente e não expor dados pessoais", afirmou. "A única solução que alcança ambos esses objectivos é a verificação baseada no dispositivo ou no navegador", disse, acrescentando que seria um "passo muito simples para o Google e a Apple".

Sob pressão

A MindGeek viu-se em apuros em 2020 quando o The New York Times publicou alegações de que os seus sites continham material que mostrava violações e sexo com menores.

A reportagem despertou uma forte pressão dos reguladores em vários países. E a Visa e a MasterCard pararam de processar pagamentos nesses sites. Os proprietários passaram dois anos a tentar vender a empresa, que é sobretudo sediada no Canadá, mas tem uma complexa estrutura corporativa presente em diversos paraísos fiscais pelo mundo.

Agora, os novos donos — entre eles dois advogados, um ex-polícia e um investidor italiano que fez fortuna com a venda legal de cannabis — tentam afastar a empresa das denúncias.

Friedman disse que a MindGeek mudou completamente nos últimos anos. Contou que conseguiram eliminar oito milhões de vídeos em 2021, algo que a AFP não conseguiu verificar. "Um pedido de remoção de conteúdo automaticamente faz com que esse conteúdo seja removido', afirmou. "Revemos depois de ser removido."

Além disso, os utilizadores que fazem upload na plataforma precisam de se identificar. Tudo é examinado por algoritmos para filtrar material protegido por direitos de autor e depois visto por funcionários, antes de ficar disponível online.

Expressão sexual

Segundo Solomon, a empresa foi contratada inicialmente apenas para verificar se a MindGeek estava a trabalhar dentro da lei. "O que descobrimos foi que não só cumpre a lei como era uma oportunidade de investimento extraordinária, mas uma oportunidade que exige habilidades especializadas" explicou.

A ECP decidiu que tinha essas capacidades e fez a aquisição, embora não tenha sido um caminho fácil. Nos Estados Unidos, além de Utah, também enfrentou problemas legais na Luisiana. Em França, Solomon não descarta a possibilidade dos seus sites serem proibidos.

A questão tem tido destaque na agenda política desde que o presidente Emmanuel Macron, na campanha pela reeleição no ano passado, prometeu priorizar a protecção das crianças contra a pornografia.

O ministro francês da Transição Digital, Jean-Noel Barrot, desafiou a ECP a explicar como vai agir para se manter dentro da lei.

Solomon disse que entrou em contacto com o gabinete de Barrot e prometeu produzir um relatório em breve, insistindo que a sua empresa estava comprometida a "falar aberta e orgulhosamente sobre a indústria porno". "Penso que a sociedade avançou numa direcção em que nos orgulhamos da expressão sexual", declarou. "Pelo facto de ser para adultos, será aborrecida, assim como a cannabis (legalizada) no Canadá se tornou aborrecida."


Exclusivo PÚBLICO/Folha de S. Paulo
Nota do editor: o PÚBLICO respeitou a composição do texto original, com excepção de algumas palavras ou expressões não usadas em português de Portugal.

Sugerir correcção
Ler 4 comentários