Putin garante punição dura para Prigozhin e outros líderes de “rebelião armada”

“Quem entrou de forma deliberada num caminho de traição e planeou uma rebelião armada, escolheu os métodos da chantagem e do terrorismo”, disse Putin numa comunicação ao país.

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Putin falou neste sábado ao país sobre os avanços do Grupo Wagner na Rússia Reuters/KREMLIN.RU
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Numa rara comunicação ao país, feita no decorrer de uma ameaça à segurança da Rússia cujo resultado é ainda imprevisível, o Presidente russo, Vladimir Putin, prometeu neste sábado responder com mão pesada à "rebelião armada" comandada pelo líder do grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin ​(Ievgueni Prigojin na versão portuguesa) — um antigo aliado do Kremlin que terá ocupado parte do quartel-general do Exército russo no Sul do país, nas últimas horas, e que afirma estar decidido a seguir em direcção a Moscovo.

"Quem organizou e preparou esta rebelião armada, quem se ergueu contra os seus camaradas de armas, traiu a Rússia", afirmou Putin, a meio da manhã deste sábado, numa declaração que durou pouco mais de cinco minutos. "E vai responder por isso", garantiu o Presidente russo, sem nunca referir o nome de Prigozhin.

Em mais uma referência velada ao possível uso de armas nucleares, Putin disse também que a instabilidade interna pode degenerar numa ameaça existencial contra o Estado russo — um cenário em que, segundo a doutrina militar russa, se justifica o uso de armas nucleares.

Antes da comunicação de Putin, a liderança militar e política da Ucrânia tentou capitalizar as divisões internas na Rússia para se apresentar como um bloco unido em face da invasão russa.

Numa mensagem publicada na rede social Twitter, Andry Yermak, o chefe de gabinete do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, partilhou uma fotografia onde surge ladeado pelo chefe do Estado-maior das Forças Armadas da Ucrânia, Valery Zaluzhny; pelo chefe das Forças Especiais ucranianas, Viktor Khorenko; e pelos chefes dos três ramos: Serhiy Shaptala (Exército), Oleksiy Neizhpapa (Marinha) e Mykola Oleschuk (Força Aérea).

"Esta é a equipa do Presidente Zelensky", disse Yermak na mensagem.

Prigozhin já respondeu à acusação de traição, lançada contra si pelo Presidente russo, afirmando que os seus combatentes "são os verdadeiros patriotas". Na mesma reacção, Prigozhin acusou as Forças Armadas russas de bombardearem "a torto e a direito" na Ucrânia, incluindo civis.

Moscovo desmente ataque

A tensão entre o líder dos mercenários russos e os responsáveis directos pelas operações na invasão da Ucrânia — o ministro da Defesa russo, Serguei Shoigu, e o chefe do Estado-maior das Forças Armadas da Rússia, o general Valery Guerasimov — atingiu o ponto mais elevado dos últimos meses na sexta-feira, quando Prigozhin acusou o Exército russo de ter lançado um ataque contra posições do grupo Wagner, uma acusação desmentida por Moscovo.

"Um ataque com um míssil lançado contra as posições do Grupo Wagner fez várias vítimas", disse Prigozhin na noite de sexta-feira. "Segundo testemunhas, o ataque foi lançado a partir da retaguarda, o que significa que foi lançado pelo Ministério da Defesa russo."

"Este desgraçado vai ser travado", afirmou Prigozhin, referindo-se ao ministro da Defesa da Rússia.

Até ao momento, nenhuma organização independente confirmou a veracidade da acusação do líder dos mercenários contra as forças oficiais do Exército russo, e também ainda não é possível avaliar, com toda a certeza, se a "rebelião" de Prigozhin representa um risco existencial para o poder em Moscovo; mas já é certo que as profundas divisões manifestadas nas últimas horas podem influenciar a campanha de invasão russa na Ucrânia e são vistas no Kremlin com grande preocupação.

Na sua comunicação oficial, neste sábado, Putin invocou a Revolução Russa de 1917, que ocorreu numa altura em que o Império Russo combatia na I Guerra Mundial, para afirmar que irá "fazer tudo para defender o país".

"Quem entrou de forma deliberada num caminho de traição e planeou uma rebelião armada, escolheu os métodos da chantagem e do terrorismo, e vai sofrer uma punição inevitável", afirmou o Presidente russo.

"As acções que dividem a nossa unidade são, na sua essência, acções derrotistas perante o nosso povo. Isto é uma facada nas costas do nosso país e do nosso povo."

Segundo a agência noticiosa russa TASS, o Ministério Público russo já deduziu uma acusação contra Prigozhin por "amotinação armada", um crime com uma pena máxima de 20 anos de prisão.

Também neste sábado, o líder tchetcheno, Ramzan Kadirov — outro dos principais apoiantes de Putin, e que também já criticou a liderança militar russa na invasão da Ucrânia —, fez saber que as suas forças estão a caminho daquilo a que se referiu como "as zonas de tensão" na Rússia, e corroborou a acusação de Putin de que a acção de Prigozhin é "uma facada nas costas".

Segundo o New York Times, Kadirov disse que as suas forças privadas, 20 mil combatentes, segundo as estimativas, vão "defender o Estado russo de uma rebelião", e apelou à união do país à volta de Putin.

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