Na esplanada, com duas amigas, Joana (nome fictício) está a estudar para os exames nacionais do secundário. As raparigas fazem exercícios de Matemática Aplicada às Ciências Sociais (MACS). Joana está confiante, na última prova teve 20 valores (numa escala de 0 a 20) e, talvez por isso, é com descontracção que ajuda as amigas a reverem a matéria e a fazerem os exercícios, explicando alguns pormenores.

Ao seu lado, o telemóvel toca, é uma notificação. "Não acredito... Os rankings!" As amigas aproximam as cabeças, por cima da mesa e dos cadernos, atropelando-se nas perguntas: "Em que lugar ficou a nossa escola? Os rankings em Junho, isso não costuma ser mais tarde? Estás mesmo a ver bem?"

Durante uns minutos, as raparigas ficam em silêncio, enquanto os dedos de Joana percorrem o ecrã do telefone. Procura a sua escola que, habitualmente fica em boa posição. Confirma-o e di-lo às amigas com um sorriso, mas este desaparece quando encontra a nota de MACS. "Como é que é possível?"

De semblante carregado e lápis na mão, Joana começa a comparar a sua nota interna, aquela com que vai a exame, olha para a média da disciplina a nível nacional e a média da cadeira na sua escola (mais baixa que a nacional, diz às amigas num tom descontente). "Isto não bate certo... Se calhar a minha nota interna não corresponde ao que eu sei, se calhar acho que estou bem preparada para o exame, mas não estou... Se calhar sei menos, comparativamente à média nacional... Como é que a média da escola foi tão baixa?"

Durante os 20 minutos seguintes, o estudo fica suspenso e as raparigas entram em loop, discutindo as médias das escolas vizinhas, daquelas onde andam outras amigas e, de repente, parece que o país inteiro está mais preparado para responder ao exame de MACS do que elas as três. Joana não aguenta e liga à mãe, quase em pânico, do outro lado da linha ouve palavras que a acalmam. "A minha mãe diz para estudarmos, que se calhar os alunos do ano passado estavam mal preparados, para não ligarmos aos rankings", resume às amigas.

"O que acham os alunos destes rankings? E que sentido faz a sua divulgação na semana em que têm início as provas?", pergunta Ana Soares, professora de Português do ensino secundário, no seu artigo de opinião sobre o tema, publicado na véspera da época dos exames começar, domingo passado.

A professora lembra que, resultado da pandemia, as regras mudaram e que, por consequência, as médias de acesso ao ensino superior, "se tornaram (ainda) menos calculáveis". Por isso, "toda esta discussão sobre os rankings surge numa semana em que se deseja tranquilidade no sistema educativo. Paz e sossego. Confiança. Porque estão aí os exames nacionais."

A pressão, o stress, a preocupação. Além de estudarem para os exames, os miúdos, tal como Joana e as amigas, fazem contas às vagas, à nota que precisam, à média, àquela décima que os pode salvar de passarem de ano ou de entrarem no ensino superior.

Não são dias fáceis e, por isso, entrevistei Ana Isabel Lage Ferreira, psicóloga clínica, membro da direcção da Ordem dos Psicólogos Portugueses que opta por pôr água na fervura, descomplicar, lembrar que este é só mais um momento na vida dos alunos, que estes estão fartinhos de ter momentos de avaliação, que a pressão que sentem vem dos professores (que querem ficar bem na fotografia e nos rankings, digo eu), dos pais (que querem ficar bem na fotografia do sucesso social, digo eu), da comunicação social (que faz todo um alarido à volta desta época, diz a especialista, não exactamente recorrendo à palavra "alarido").

Portanto, há que respirar fundo, fazer exercícios de respiração ou meditação, se for caso disso — é curioso como hoje, os miúdos usam expressões que a especialista só aprendeu quando estava a tirar Psicologia, refere, exemplificando que sabem muito mais da sua saúde mental do que nós sabíamos —, e tirar um pouco a pressão, recomenda. Afinal, diz: "A tua vida não vai ser decidida neste exame."

Boa semana!