Rússia acusa Ucrânia de atacar ponte na Crimeia
Moscovo tinha avisado que iria atingir os “centros de tomada de decisão” ucranianos caso a península fosse atacada com armas ocidentais.
- Em directo. Siga os últimos desenvolvimentos sobre a guerra na Ucrânia
- Guia visual: mapas, vídeos e imagens que explicam a guerra
- Especial: Guerra na Ucrânia
As forças ucranianas foram acusadas pela Rússia de terem atacado nesta quinta-feira uma ponte que liga a península da Crimeia ao resto do território continental.
Nas redes sociais circulam fotografias e vídeos que mostram a ponte de Chonhar, que liga a Crimeia à região de Kherson, com buracos e uma outra secundária também com danos estruturais. O governador pró-Moscovo de Kherson, Vladimir Saldo, acusou directamente o “regime criminoso de Kiev” de ter atingido a ponte com mísseis de longo alcance, embora o líder separatista da Crimeia, Serguei Aksionov, tenha apenas dito que foi aberta uma investigação.
Não se registaram vítimas nem feridos. As autoridades ucranianas não assumiram abertamente a autoria do ataque, embora nada tenham feito para desmentir as acusações russas. “Se as estrelas estão acesas, isso significa que alguém o fez por alguma razão, certo? Só podemos dizer que haverá uma continuação”, respondeu de forma enigmática o porta-voz do Ministério da Defesa, Andrii Iusov, recorrendo a uma frase do poeta russo Vladimir Maiakovskii, segundo a Reuters, quando foi questionado sobre o incidente.
Não é a primeira vez que a Crimeia é atingida desde o início da invasão russa. Anexada em 2014, a península é reivindicada por Kiev, que rejeita qualquer negociação com Moscovo que tenha como pressuposto a manutenção do território na posse da Rússia.
Um dos objectivos da contra-ofensiva ucraniana em curso há já três semanas é cortar o acesso terrestre entre a Crimeia e o território continental ocupado pela Rússia na região de Kherson. A manutenção desta ligação tem sido fundamental para o abastecimento logístico das forças militares russas através da península.
No início da semana, o ministro da Defesa russo, Serguei Shoigu, tinha dito que a Ucrânia planeava atingir alvos na Crimeia com mísseis de longo alcance e prometeu responder com “ataques retaliatórios imediatos”. Moscovo também avisou que iria atingir os “centros de tomada de decisão” ucranianos se fosse utilizado armamento fornecido pelos aliados ocidentais.
Com a terceira semana da contra-ofensiva ucraniana prestes a terminar, as autoridades ucranianas têm tentado gerir as expectativas de sucesso. O primeiro-ministro ucraniano, Denis Shmigal, avisou que as operações militares que visam a desocupação de território no Leste e Sudeste do país “vão demorar algum tempo”, mas mostrou-se “optimista” em relação ao seu desfecho.
Na véspera, o Presidente Volodymyr Zelensky já tinha reconhecido que a contra-ofensiva estava a progredir de forma “mais lenta do que o desejado”. As palavras dos líderes ucranianos são dirigidas sobretudo para os aliados ocidentais, que nos últimos meses equiparam as Forças Armadas ucranianas para terem capacidade de retomar o controlo de grande parte do território ocupado pela Rússia. O receio de Kiev é que o sucesso de iniciativas anteriores, como a reconquista de Kherson no Verão passado, esteja a alimentar expectativas demasiado elevadas de que a contra-ofensiva seja cumprida rapidamente.
Nesta quinta-feira, Zelensky promulgou a legislação que proíbe a importação e distribuição de livros da Rússia e da Bielorrússia, que tinha sido aprovada no ano passado pelo Parlamento. A medida vai entrar em vigor, apesar dos receios veiculados pelos ministérios da Justiça e Negócios Estrangeiros, receando que a lei viole alguns princípios legais da União Europeia, explica o Kyiv Independent.
Entretanto, o líder do grupo de segurança privada Wagner, Ievgueni Prigojin, voltou a apontar o dedo às chefias militares russas, aprofundando as divergências entre a organização de mercenários e o Exército regular. Numa série de mensagens em áudio divulgadas nos últimos dois dias, Prigojin acusou Shoigu e o chefe do Estado-Maior do Exército russo, Valeri Gerasimov, de mentirem a Vladimir Putin acerca da escala real das perdas russas na guerra.
“Eles estão a enganar o povo russo e, se isto continuar assim, iremos ficar sem a coisa mais importante: a Rússia”, afirmou Prigojin.
Desde o início da invasão, a Rússia é responsável pela morte de 136 crianças e a Ucrânia, por 80, de acordo com um relatório das Nações Unidas, que acusa ainda Moscovo de utilizar 91 crianças como escudos humanos. O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse estar "particularmente chocado" e "perturbado" pelo elevado número de vítimas entre os mais jovens na Ucrânia.