O presidente do Banco Mundial vai anunciar esta quinta-feira uma série de medidas para ajudar os países atingidos por desastres naturais, incluindo a suspensão destes países dos pagamentos aos credores, enquanto os líderes mundiais se reúnem em Paris para dar impulso a uma nova agenda financeira global.
Cerca de 40 líderes, incluindo cerca de uma dúzia de africanos, o primeiro-ministro da China e o Presidente do Brasil, juntam-se na capital francesa a organizações internacionais, à sociedade civil e ao sector privado na Cimeira para Um Novo Pacto Financeiro Global.
O objectivo é aumentar o financiamento da crise para os países de baixos rendimentos, reformar os sistemas financeiros do pós-guerra e libertar fundos para fazer face às alterações climáticas, através da obtenção de um consenso ao mais alto nível sobre a forma de fazer avançar uma série de iniciativas que se debatem actualmente em organismos como o G20, a COP, o FMI-Banco Mundial e as Nações Unidas.
De acordo com um projecto de declaração sobre a cimeira a que a Reuters teve acesso, os governantes deverão apoiar a iniciativa dos bancos multilaterais de desenvolvimento, como o Banco Mundial, de alargar o montante de capital em risco para aumentar os empréstimos.
Novo manual
Num discurso a proferir esta quinta-feira, o novo presidente do Banco Mundial, Ajay Banga, irá delinear um “conjunto de ferramentas”, incluindo a proposta de uma suspensão nos pagamentos da dívida, dando aos países flexibilidade para redireccionar fundos para respostas de emergência, fornecendo novos tipos de seguros para apoiar os projectos de desenvolvimento e ajudando os governos a construir sistemas de emergência avançados.
Referindo a guerra na Ucrânia, a crise climática, a frágil recuperação de uma pandemia, o aumento das disparidades e o declínio do progresso, Banga afirmou que chegou a altura de o Banco Mundial adoptar uma nova visão.
“Esta urgência leva-nos a escrever um novo manual que irá impulsionar um desenvolvimento com impacto, conduzindo a uma melhor qualidade de vida e emprego para as pessoas”, afirmou Banga.
A cimeira tem como objectivo criar roteiros multifacetados que possam ser utilizados nos próximos 18-24 meses, desde o alívio da dívida ao financiamento de medidas ligadas ao clima. Muitos dos assuntos inscritos na ordem de trabalhos retomam as sugestões de um grupo de países em desenvolvimento, liderado pela primeira-ministra de Barbados, Mia Mottley, designado por “Agenda de Bridgetown”.
“O sistema financeiro internacional já não está adaptado para lidar com os desafios financeiros que o mundo enfrenta actualmente, pelo que esta é uma oportunidade para reunir todos à volta da mesa”, afirmou um diplomata francês.
A pandemia do coronavírus empurrou muitos países pobres para o endividamento, uma vez que se esperava que continuassem a cumprir as suas obrigações, apesar do enorme choque nas suas finanças.
Oitenta anos depois de Bretton Woods
Os problemas da dívida africana estão associados ao duplo desafio enfrentado por alguns dos países mais pobres do mundo: fazer face aos impactos das alterações climáticas e adaptar-se à transição ecológica.
As nações ricas ainda não cumpriram as promessas de financiamento de medidas ligadas ao clima feitas no passado, no sentido de mobilizar 100 mil milhões de dólares por ano, o que constitui um obstáculo fundamental nas conversações sobre o clima a nível mundial.
Apesar de não se esperarem decisões vinculativas, os responsáveis pelo planeamento da cimeira afirmaram que deverão ser assumidos alguns compromissos fortes relativamente ao financiamento dos países pobres.
Quase 80 anos depois de o acordo de Bretton Woods ter criado o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI), os dirigentes pretendem obter mais financiamento junto dos credores multilaterais para os países que mais precisam.
Deverá ser anunciado que foi atingido o objectivo de 100 mil milhões de dólares que serão disponibilizados pelo Fundo Monetário Internacional para os países vulneráveis, segundo as autoridades.
Alguns líderes deverão dar o seu apoio à proposta, há muito bloqueada, de uma taxa sobre as emissões da indústria naval, antes da reunião da Organização Marítima Internacional, a realizar no próximo mês.