No Google Maps, os avós ficam imortalizados à porta de casa — e os netos recordam-nos
André Gomes procurou a casa dos avós no Google Maps e encontrou o avô, que morreu em 2021, ao portão. Partilhou a imagem no Twitter e seis milhões de pessoas seguiram-lhe o exemplo.
Da última vez que André Gomes veio a Portugal visitar a família, na semana passada, tentou lembrar-se da rua onde moravam os avós, mas não conseguiu. A culpa é dos anos que passou a trabalhar no Reino Unido. Ia à casa dos avós em criança e sabia que ficava em Gondomar, no Porto — um pouco longe do centro, onde vivia com os pais.
Para ter a certeza, procurou a casa no Google Maps — e encontrou-a. O que não esperava era encontrar o avô António Gomes, que morreu em 2021, ao portão.
“Sinceramente, foi tudo muito espontâneo. Acabei por ficar nos últimos dois dias em casa da minha tia que vive na casa que era dos meus avós. Fui ao Google Maps para ter a certeza que chegava ao local certo e foi quando me deparei com a imagem”, começa por contar o programador.
António foi diagnosticado com Alzheimer em 1998. André, que nessa altura tinha apenas cinco anos, não tem muitas memórias do avô antes de a doença o ter deixado acamado. A fotografia que partilhou no Twitter é de 2012 e, além de “imortalizar” o avô, é também um registo dos últimos momentos em que António saía até ao portão.
“Fiquei emocionado. É sempre bom relembrar o tempo em que o meu avô conseguia sair de casa”, acrescenta André, de 30 anos.
Apesar de ter várias fotografias do avô em casa, conta que decidiu publicar a captura do Google para ver se era a única pessoa a quem isto tinha acontecido. Em pouco tempo percebeu que não. Nos últimos dias, leu centenas de comentários de utilizadores que partilharam histórias dos seus avós e viu a iniciativa tornar-se tendência. Segundo André, neste momento, seis milhões de pessoas procuraram os avós no Maps.
A maioria dos comentários vem de Portugal ou do Brasil. Nestes dois países, há avós debruçados sobre janelas, outros sentados junto às varandas, a regar as plantas, a passear na rua, ou a conviver no café que habitualmente frequentavam. O que quase todos têm em comum — regra da plataforma — é a cara desfocada. Mas estão lá e os netos partilham as imagens para os homenagear e recuar no tempo.
“A minha avó faleceu em 2011 e, de vez em quando, ainda vou ao Google Maps para a ver ajudar a minha irmã a andar de bicicleta”, lê-se num comentário.
“O meu avô faleceu há oito meses e o Google Maps deixou-o na janela da minha casa para sempre”, escreveu outra pessoa.
Apesar de todos estes netos defenderem que os avós ficarão para sempre nestas imagens, é muito provável que desapareçam quando o Google actualizar as ruas. André sabe disto, razão pela qual já guardou a imagem do avô.
Contudo, explica, a aplicação tem uma ferramenta semelhante a um relógio que “volta atrás no tempo” e permite que a pessoa escolha o ano da imagem. Sendo assim, pelo menos por enquanto, António ficará junto ao portão à espera que o neto venha outra vez a Portugal.