China “quer instalar” base de treino militar em Cuba
Notícia do Wall Street Journal dá conta de uma negociação “avançada”, mas ainda não concluída. EUA temem presença militar chinesa perto das suas fronteiras.
O Governo chinês estará a negociar com Cuba a instalação de uma base para treino militar conjunto na ilha, avança o Wall Street Journal nesta terça-feira, poucas horas depois do final de uma visita do secretário de Estado norte-americano a Pequim.
Segundo o jornal de Nova Iorque, as negociações entre os responsáveis chineses e cubanos provocaram alarme em Washington, e levaram a Administração Biden e senadores do Partido Republicano e do Partido Democrata a recearem uma futura presença militar da China às portas dos EUA, a 150 quilómetros da costa da Florida.
Ao contrário do que acontece com os EUA na região do Pacífico — onde estão estacionados mais de 350 mil soldados norte-americanos, segundo os números do Journal —, a China não tem uma presença militar activa na América Latina, uma situação que as autoridades norte-americanas querem manter durante o tempo que for possível.
Os esforços dos EUA para desincentivar a abertura cubana à China e adiar os avanços de Pequim centram-se, segundo o Journal, na possibilidade de uma melhoria das relações comerciais entre Washington e Havana, numa altura em que Cuba enfrenta uma grave crise económica.
Há duas semanas, o mesmo jornal noticiou que a China reforçou, nos últimos quatro anos, a sua capacidade para interceptar escutas telefónicas nos EUA a partir de Cuba — uma notícia que foi recebida num primeiro momento com um desmentido oficial por parte dos EUA e de Cuba, e que seria confirmada em parte, poucos dias depois, pela Administração Biden.
"Não se trata de um novo desenvolvimento, e a caracterização do acordo [entre a China e Cuba] na notícia não condiz com o nosso entendimento", disse a Casa Branca em resposta às revelações sobre a capacidade de espionagem chinesa em Cuba.
Os líderes da Comissão de Serviços Secretos do Senado dos EUA — Marco Rubio, do Partido Republicano, e Mark Warner, do Partido Democrata — manifestaram a sua "profunda inquietação com a notícia de que Havana e Pequim estão a trabalhar em conjunto para espiarem os Estados Unidos".
A possível negociação para a construção de uma base de treino militar da China em Cuba, noticiada nesta terça-feira, não era do conhecimento público. Segundo o Wall Street Journal, a negociação está numa fase avançada, mas ainda não foi concluída.
Outras fontes contactadas pelo jornal — caracterizadas como pessoas com cargos de responsabilidade nas estruturas do Governo norte-americano — dizem que as informações recolhidas pela espionagem dos EUA são "fragmentadas", mas "convincentes".
"A comunidade de serviços de informação dos EUA acompanha há vários anos a intenção da China de expandir o seu alcance a nível global, mas neste caso concreto é prematuro tirar conclusões com base nos relatórios mais recentes", disse um responsável dos serviços de informação norte-americanos, citado sob a condição de anonimato. "Nesta fase, não nos parece que esteja em causa um grande reforço das actuais capacidades da China."
Numa reacção à notícia desta terça-feira, um responsável da embaixada da China em Washington disse ao Wall Street Journal que a posição chinesa foi transmitida a 9 de Junho, num desmentido da notícia sobre os centros de espionagem: "Os EUA são especialistas a perseguir sombras."
Na segunda-feira, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, foi recebido pelo Presidente chinês, Xi Jinping, no final de uma visita a Pequim destinada a travar uma escalada nas tensões entre os dois países.
No último ano, as relações sino-americanas agravaram-se com a visita a Taiwan da então presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, e com a crise dos balões de espionagem chineses que sobrevoaram instalações militares sensíveis em território norte-americano.
Nas declarações públicas sobre a visita de Blinken, os dois lados indicaram que pode haver abertura a um reinício do diálogo a vários níveis, embora nada tenha sido dito sobre um possível reatamento das comunicações directas entre os respectivos líderes militares — uma suspensão decidida pela China em Novembro de 2022, na sequência da visita de Pelosi a Taiwan.