Redes sociais inclusivas: um guia para não deixares ninguém de fora

Uma legenda na foto do Instagram ou uma narração num vídeo do TikTok — pequenas coisas que tornam as tuas redes sociais mais inclusivas para todos.

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Guia redes sociais inclusivas Tiago Bernardo Lopes
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Quase todos queremos que as nossas publicações nas redes sociais cheguem ao maior número de pessoas possível — incluindo aquelas com algum tipo de incapacidade, como baixa visão ou surdez.

Em Portugal, 10,9% da população com cinco ou mais anos de idade tem algum tipo de incapacidade, de acordo com um relatório do Instituto Nacional de Estatística (INE) feito com base nos Censos de 2021. Mas isso não tem de ser um obstáculo ao scroll no Instagram.

A maioria das redes sociais tem uma série de ferramentas que podes usar para tornar os teus conteúdos mais acessíveis para quem tem dificuldades visuais, auditivas, cognitivas ou outras.

Provavelmente até já usaste estas ferramentas, como adicionar uma descrição em texto a uma fotografia ou incluir legenda num vídeo de uma story, sem pensar no factor inclusividade. Eis um guia para não deixares ninguém de fora dos teus conteúdos nas redes sociais.

Legendas descritivas para as tuas fotografias

Publicaste uma selfie depois da corrida semanal de dez quilómetros? Ou partilhaste uma imagem da vista do quarto de hotel nas férias? Tiraste uma foto à tua cadela a dormir? Basta explicá-lo por palavras para que quem não vê (ou tem dificuldades visuais) consiga ter uma ideia do que está na imagem.

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Tiago Bernardo Lopes

Este pequeno texto vai ajudar as apps de leitura de ecrãs ou outras tecnologias de assistência a explicar a imagem de uma forma mais fiel à realidade. Como é que isto acontece? Quando escreves um texto alternativo, é automaticamente adicionado ao código HTML das páginas, que depois serve de fonte de informação às diferentes tecnologias que assistem quem tem dificuldades visuais, auditivas ou outras.

Podes incluir este pequeno texto nos posts do Twitter (existe essa opção nas definições dos teus próprios tweets). No caso do Facebook e do Instagram, basta usar a descrição das fotografias, sendo que a última app também inclui descrições alternativas automáticas em prol da acessibilidade.

A verdade é que, embora a maioria das pessoas com algum tipo de dificuldade visual use os leitores de ecrã para compreender as imagens partilhadas pelos amigos, estas aplicações não só não conseguem reconhecer todos os elementos presentes nas imagens, como não substituem a capacidade de expressão humana — usar as tuas próprias palavras é mesmo o que mais ajuda.

José Pedro Leite é invisual e usa regularmente o Facebook e o Twitter. "Não sinto dificuldade em usar estas redes para aquilo que procuro", diz em conversa com o P3, referindo-se à leitura de notícias e informações acerca de eventos. Estas tarefas são facilitadas graças ao software de voz do iPhone que usa.

O Instagram já é "mais complicado" uma vez que esta app funciona à base de imagens. Mesmo com os textos alternativos "o leitor tem mais dificuldade em interpretar", daí a importância de adicionar manualmente uma descrição.

Evita emojis e usa caixa alta nas hashtags

Embora sejam uma óptima forma de expressares os teus sentimentos e ideias, a leitura dos textos alternativos das fotografias ou de outros conteúdos partilhados nas redes torna-se mais difícil quando há emojis a meio dos textos ou símbolos como arrobas (@, quer seja para identificar pessoas ou a pensar na linguagem neutra).

Também as hashtags são difíceis de interpretar para os leitores de ecrã, principalmente quando são escritos em minúsculas. Se quiseres mesmo usá-los, opta por incluir maiúsculas no início das palavras.

Assim, da próxima vez que estiveres a preparar os teus conteúdos, escreve textos simples e usa emojis ou hashtags apenas no final, com a primeira letra das palavras em caixa alta. É uma pequena mudança, mas pode ter um impacto muito positivo.

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Narrações (ou voice overs) no Tiktok ajudam a compreender melhor os vídeos. Ivan Samkov/Pexels

Não te esqueças da pontuação

Escrever como falas pode parecer intuitivo, mas a verdade é que pode complicar a missão dos leitores de ecrã. A pontuação é muito importante para ajudar quem não consegue ler ou ver as imagens a compreender melhor o conteúdo que partilhaste.

Por isso, usa vírgulas, pontos finais e outros elementos de pontuação para deixar as tuas descrições bem claras para os leitores de ecrã. É um gesto simples, mas que pode fazer a diferença.

Inclui narração e legendas nos vídeos

Usar legendas automáticas nos Reels e nas stories no Instagram ou editar os vídeos com legenda e narração (voice over, em inglês) para o Tik Tok. Estes dois gestos facilitam a compreensão dos teus vídeos para pessoas surdas ou com dificuldades de audição, mas também ajudam os leitores de ecrãs a interpretar o que surge nas imagens para quem não consegue ver.

São exemplos de ferramentas das redes sociais que provavelmente já usaste sem pensar na acessibilidade, mas que servem, também, esse propósito. Com meia dúzia de cliques, fazes com que os teus conteúdos possam ser interpretados por qualquer pessoa, independentemente das dificuldades que tenham. Outro bónus é que a maioria dos utilizadores das redes sociais vê vídeos sem som, ora nos transportes públicos, ora nos intervalos do trabalho, por isso, a legenda acaba por ser uma mais-valia universal.

O design gráfico a favor da acessibilidade

José Pedro Leite "gostava que as pessoas tivessem mais cuidado com o formato dos textos" e dá exemplos: "Quando aparecem textos em formato de colunas é péssimo" para os leitores de ecrã, que têm dificuldade em verbalizar esses conteúdos escritos. É preferível escrever o texto todo seguido.

​Tem também atenção ao tamanho da letra que escolhes e ao tipo da fonte — opta pelas letras sem serifa, mais simples e fáceis de ler. Quanto ao tamanho, tenta que não seja muito pequeno e distribui o texto ao longo do espaço disponível. Blocos com muito texto tornam-se difíceis de ler, até quando estás cansado.

O design pode (e deve) servir a acessibilidade. Fundos escuros com as letras em tons claros facilitam a leitura quando falamos de posts mais informativos, criados em apps e sites como o Canva.

Estar atento a estes pequenos detalhes pode fazer toda a diferença. A leitura das publicações torna-se muito mais fácil e intuitiva para todos quando o design é acessível. Convenhamos: até quem vê bem tem dificuldade em ler texto vermelho num fundo amarelo, por exemplo.

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